Foto: F Cardigos - SIARAM.
Um dos temas com que sou confrontado amiúde está relacionado com as intervenções arquitectónicas em áreas com elevada sensibilidade ambiental, cultural ou social. E o tema não é pacífico.
Evidentemente, a primeira consideração a ter quando se concebe uma intervenção estrutural está relacionada com o objectivo concreto. Ou seja, antes da solução arquitectónica, o primeiro item é o objectivo. Se o objectivo for recuperar o património, evidentemente, a funcionalidade terá de se sujeitar às regras impostas pela própria recuperação. Assim, sem pensar muito no assunto, entre os objectivos mais comuns que colocamos na lista de requisitos quando pensamos em fazer uma obra contam-se: cumprir uma função, recuperar património cultural e valorizar património ambiental.
Por exemplo, quando se decidiu construir um edifício de recepção ao visitante na entrada da Furna do Enxofre na Ilha Graciosa colocou-se como objectivo número um a funcionalidade. Isso não significa que os restantes não fossem tidos em conta, mas, claramente, estávamos conscientes que, pela simples ocupação do espaço, o mundo natural não podia ficar valorizado com a presença de uma estrutura num local onde, anteriormente, não existia.
No caso do Centro de Interpretação do Lajido de Santa Luzia no Pico, a ideia inicial era recuperar o património cultural. Secundariamente, havia a funcionalidade (alojar uma exposição sobre a Paisagem da Vinha e os serviços do Parque Natural de Ilha) e a valorização do local. Penso que foi cumprido, mas não foi fácil até porque, mesmo as pequeníssimas diferenças entre o edifício recuperado e o que estava antes, foram alvo de meticulosas, mas importantes, críticas.
Pegando num caso mais perto de nós, quando se decidiu recuperar a antiga fábrica da baleia, ao pedirmos ao arquitecto que liderasse a intervenção, já sabíamos que iria resultar num projecto que valorizaria o património, mas, dificilmente, respeitaria totalmente a estrutura que nós conhecemos. Em abono da verdade, este edifício, conhecido pelos trintões e quarentões como “o tufo”, a antiga discoteca, tinha sido antes uma fábrica de processamento de baleia e de secagem de peixe. Ou seja, não era um edifício, mas sim uma sucessão deles e com funções muito variadas. Portanto, o arquitecto interpretou o edifício como agora é apresentado e que, em conclusão, resulta numa intervenção com a fusão de diversos estilos. Há quem goste e há sempre quem não goste.
Curiosamente, esta ambivalência na opinião sobre as novas estruturas tem já uma longa história, certamente com mais de cem anos. Por exemplo, quando se decidiu construir a Torre Eiffel, em Paris, houve abaixo-assinados e a estrutura teve mesmo de ser protegida porque se receava um atentado bombista. Hoje é uma das estruturas mais visitadas do mundo e é um símbolo universal de Paris e da humanidade. Quem imaginaria no longínquo ano de 1889?
Há outros exemplos da controvérsia da intervenção arquitectónica, mas a ideia base que hoje sustento sobre o assunto e que me foi ensinado por um amigo do Instituto Superior Técnico, é que, tal como na música, a boa arquitectura sobrevive. Se a jaula metálica que colocamos nas traseiras do Farol dos Capelinhos for uma boa ideia, daqui a uns anos ainda lá estará. Se não for um conceito adequado, o tempo a levará.
Entretanto, e como presságio positivo em relação ao futuro, ficam os prémios e reconhecimentos nacionais e internacionais obtidos pela unidade de acesso à Gruta das Torres, pelo Centro de Interpretação do Lajido de Santa Luzia, pelo Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos e pelo Centro de Interpretação da Fábrica do Boqueirão. Estão de parabéns os arquitectos Inês e Miguel Vieira, Ana Laura Vasconcelos e Nuno Lopes. As suas obras já são motivo de orgulho!
Evidentemente, a primeira consideração a ter quando se concebe uma intervenção estrutural está relacionada com o objectivo concreto. Ou seja, antes da solução arquitectónica, o primeiro item é o objectivo. Se o objectivo for recuperar o património, evidentemente, a funcionalidade terá de se sujeitar às regras impostas pela própria recuperação. Assim, sem pensar muito no assunto, entre os objectivos mais comuns que colocamos na lista de requisitos quando pensamos em fazer uma obra contam-se: cumprir uma função, recuperar património cultural e valorizar património ambiental.
Por exemplo, quando se decidiu construir um edifício de recepção ao visitante na entrada da Furna do Enxofre na Ilha Graciosa colocou-se como objectivo número um a funcionalidade. Isso não significa que os restantes não fossem tidos em conta, mas, claramente, estávamos conscientes que, pela simples ocupação do espaço, o mundo natural não podia ficar valorizado com a presença de uma estrutura num local onde, anteriormente, não existia.
No caso do Centro de Interpretação do Lajido de Santa Luzia no Pico, a ideia inicial era recuperar o património cultural. Secundariamente, havia a funcionalidade (alojar uma exposição sobre a Paisagem da Vinha e os serviços do Parque Natural de Ilha) e a valorização do local. Penso que foi cumprido, mas não foi fácil até porque, mesmo as pequeníssimas diferenças entre o edifício recuperado e o que estava antes, foram alvo de meticulosas, mas importantes, críticas.
Pegando num caso mais perto de nós, quando se decidiu recuperar a antiga fábrica da baleia, ao pedirmos ao arquitecto que liderasse a intervenção, já sabíamos que iria resultar num projecto que valorizaria o património, mas, dificilmente, respeitaria totalmente a estrutura que nós conhecemos. Em abono da verdade, este edifício, conhecido pelos trintões e quarentões como “o tufo”, a antiga discoteca, tinha sido antes uma fábrica de processamento de baleia e de secagem de peixe. Ou seja, não era um edifício, mas sim uma sucessão deles e com funções muito variadas. Portanto, o arquitecto interpretou o edifício como agora é apresentado e que, em conclusão, resulta numa intervenção com a fusão de diversos estilos. Há quem goste e há sempre quem não goste.
Curiosamente, esta ambivalência na opinião sobre as novas estruturas tem já uma longa história, certamente com mais de cem anos. Por exemplo, quando se decidiu construir a Torre Eiffel, em Paris, houve abaixo-assinados e a estrutura teve mesmo de ser protegida porque se receava um atentado bombista. Hoje é uma das estruturas mais visitadas do mundo e é um símbolo universal de Paris e da humanidade. Quem imaginaria no longínquo ano de 1889?
Há outros exemplos da controvérsia da intervenção arquitectónica, mas a ideia base que hoje sustento sobre o assunto e que me foi ensinado por um amigo do Instituto Superior Técnico, é que, tal como na música, a boa arquitectura sobrevive. Se a jaula metálica que colocamos nas traseiras do Farol dos Capelinhos for uma boa ideia, daqui a uns anos ainda lá estará. Se não for um conceito adequado, o tempo a levará.
Entretanto, e como presságio positivo em relação ao futuro, ficam os prémios e reconhecimentos nacionais e internacionais obtidos pela unidade de acesso à Gruta das Torres, pelo Centro de Interpretação do Lajido de Santa Luzia, pelo Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos e pelo Centro de Interpretação da Fábrica do Boqueirão. Estão de parabéns os arquitectos Inês e Miguel Vieira, Ana Laura Vasconcelos e Nuno Lopes. As suas obras já são motivo de orgulho!
Pequena contradição: a Torre Eiffel foi mal vista na sua época de construção e hoje é um ícone - se não O ÍCONE - de Paris; os centros receberam prémios quase após a sua abertura, ou seja, foram imediatamente louvados. Quer isto dizer que, enquanto obras arquitecturais/ obras de arte não sobreviverão à passagem do tempo, esse Mestre que define o que é realmente bom do que foi catalogado por um regime como agradável?
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