Cada ilha dos Açores tem de encontrar o seu desígnio e, construtivamente, concertadamente e empenhadamente, lutar por ele. Algumas já o fizeram e têm dado passos altamente reprodutivos nesse sentido. No caso do Faial, tal como o vejo, esse desígnio é o mar. Quer seja no ramo privado, vejam-se os casos do Peter e da construção e reparação naval, quer no ramo científico, vejam-se os casos do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores e o seu Instituto do Mar, ou seja no ramo administrativo, veja-se o caso da Marina da Horta, o Faial toma outro sabor quando se mistura com a água salgada. Nesta última semana, curiosamente, dois eventos reiteraram o óbvio. Primeiro, o “Conhecer o Mar dos Açores: Fórum de Apoio à Decisão” e, depois, as promissoras palavras do Secretário Regional da Economia, Dr. Vasco Cordeiro, ao comprometer-se com a centralização da estrutura gestora dos portos dos Açores na ilha do Faial.
Quanto ao Fórum, e aviso, para quem não souber, que estou a escrever em causa própria, tratou-se de um marco de enorme importância para: 1. definir o conhecimento como a base de trabalho para a utilização sustentável do mar; 2. verificar que o conhecimento endógeno, para além de ter enorme qualidade, é suficiente para respondermos aos mais exigentes requisitos internacionais, 3. constatar que é imperativo o trabalho conjunto dos investigadores marinhos dos Açores, e 4. reiterar a centralidade do conhecimento do mar na ilha do Faial. Repare-se que normativos tão importantes e complexos como a Directiva-Quadro “Estratégia Marinha” exigem, com base em conhecimento científico, uma resposta a 11 temas (biodiversidade, topografia, economia do mar, etc…) e, para cada um deles, há um caderno técnico com mais de cem páginas. Será extenuante e exaustivo, mas ficou claro que temos matéria-prima para lá chegar. Pode parecer imodéstia, e se calhar é um pouco, mas, este momento de reflexão, dinamizado por duas direcções regionais (Ciência, Tecnologia e Comunicações e Assuntos do Mar), em termos mais gerais, apontou o futuro do relacionamento entre o conhecimento e a administração.
O Fórum, apesar de ter sido marcado por uma acção de dois dias, terá resultados a médio prazo, já que a quantidade de informação exposta demorará o seu tempo a ser consolidada e transformada nas respostas necessárias. Mas, com consequências a curto prazo, também na última semana houve outra autêntica revolução. Dando sequência à já anunciada unificação das administrações portuárias, a Secretaria Regional da Economia decidiu que essa decisão criará a sua centralidade na Horta. Em relação aos que afirmam que é impossível haver apenas uma administração para os Portos, relembro que a SATA tem aeroportos ou serviços em todas as ilhas e uma única administração e a EDA tem unidades geradoras de electricidade em todas as ilhas e também uma única administração. Porque não resultaria com os portos?! É evidente que resultará se houver empenho e vontade para que dê certo. No entanto, a decisão de colocar a sede desta empresa na Horta já não seria assim tão óbvia. Apesar de ser a administração com maior número de portos, a Administração dos Portos do Triângulo e Grupo Ocidental está longe de ser a estrutura que mais carga ou volume financeiro gera. Então porquê a Horta? Por uma questão de equitatividade em relação a outras actividades? Talvez. No entanto, parece-me que o factor fulcral foi a boa administração, a clareza das decisões, o bom ambiente de trabalho e a estabilidade que as últimas administrações conseguiram imprimir neste lado do arquipélago.
Com isto concluo que o Faial dará passos de gigante se conseguir orientar-se para o mar e para os serviços relacionados com o mar. O passado, com a indústria baleeira e os cabos submarinos, provou que este é um caminho que vale a pena trilhar e o futuro, alicerçado em investimentos regionais consequentes em estruturas portuárias, unidades de investigação científica, educação especializada e novos serviços executivos orientados para o mar, tem a solidariedade que os empreendedores do Faial necessitam. O Mar é a história e é o futuro da Ilha do Faial!
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