Fotografando rainhas.
Foto: F Cardigos - ImagDOP.
Olhando para o final de 2009 e comparando com o final de 2010 reconheço, com satisfação, que o Ambiente melhorou nos Açores, mas, admito também, com algum desconforto, que não melhorou tanto como poderia. Este foi um ano em que se consolidaram algumas importantes actividades ambientais como a exportação de resíduos, a continuada remoção de organismos invasores, a permanente plantação e promoção de organismos naturais da região, a manutenção dos sistemas de certificação industrial e a certificação do nosso arquipélago como QualityCoast.
Com a entrada em funcionamento do Sistema de Registo Informático de Resíduos dos Açores, temos a quantificação quase exacta de quantos metros cúbicos de resíduos são produzidos e qual o seu destino. Tal como foi recentemente apresentado pelo Director Regional do Ambiente, Dr. João Bettencourt, está em preparação um dispositivo informático que permitirá, utilizando a rede Internet, pôr estes dados e, principalmente, as soluções de encaminhamento, ao alcance de todos os açorianos. Também para breve está prevista a conclusão dos Centros de Processamento de Resíduos das Flores e Graciosa. O Centro do Corvo também já está em construção, pelo que é expectável que, ainda este ano, as ilhas da Biosfera dos Açores tenham o problema da gestão dos resíduos alicerçado.
Ainda dentro da temática dos resíduos, tenho de chamar a atenção para o concurso ecofreguesias lançado em 2010, por ideia do Secretário Regional do Ambiente e do Mar. Mais de sete dezenas de freguesias conseguiram alcançar este galardão. No entanto, metade das freguesias não chegaram lá. Isto significa que não é um galardão fácil e que quem o ganhar é porque se esforçou. Fica a dica para quem ganhou este ano (todas as freguesias do Faial ganharam!) e o recado para não baixarem a guarda.
Por último, um facto que passou quase desapercebido, mas que me parece relevante. Na Praia da Vitória, diversas forças da ordem resolveram formar brigadas ambientais para perseguir o abandono de resíduos. Esta acção, com génese exterior ao Governo, é um passo determinante para a não tolerância em relação ao verdadeiro terrorismo ambiental que alguns, poucos, insistem em praticar nestas ilhas de ambiente quase perfeito.
Mudemos de temática. Para além do continuado combate à flora invasora, o Ano Internacional da Biodiversidade – 2010 – foi marcado nos Açores por diversos acontecimentos importantes. Alguns deles foram planeados, outros desejados e, ainda outros, frutos do acaso. Dou alguns exemplos.
Evidentemente, há muito tempo que estamos a conduzir tarefas para a recuperação da população do priolo. Portanto, é sem surpresa que agora foi reconhecido pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) que a pequena população já está livre de perigo de extinção. É um excelente exemplo de trabalho coordenado entre diversas entidades, com ênfase para a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves que o coordenou. Não estávamos à espera, apesar de secretamente o desejarmos, era que o projecto com que culminou a recuperação desta ave fosse considerado um Best of the Best pela Comissão Europeia, ou seja, um dos cinco melhores projectos financiados pelo sector do Ambiente da Comissão Europeia!
Por coincidência, calhou no Ano Internacional da Biodiversidade o reconhecimento pela comunidade científica internacional do painho-de-Monteiro como uma nova espécie! Os ornitológos para, ao longe e de binóculos, verem esta pequena, resistente e tenaz ave marinha, endémica de apenas dois ilhéus da Graciosa, terão que se deslocar até à Vila da Praia. E não pensem que há poucos ornitólogos no mundo…
E foi também em pleno Ano Internacional da Biodiversidade que a Universidade dos Açores terminou a compilação da primeira lista de todos os organismos existentes nos Açores. Com o patrocínio do Governo dos Açores, o Professor Paulo Borges e colegas agregaram numa única publicação a referência das mais de oito mil espécies e as ilhas em que foram registadas. Foi um passo fundamental para o nosso conhecimento dos Açores.
Em 2010, como reconhecimento internacional do trabalho do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores e do Governo Regional, foram declaradas Áreas Marinhas Protegidas sob a gestão de Portugal os sítios Altair, Anti-Altair e Crista Médio Atlântica a Norte dos Açores. Deixem-me enfatizar que, apenas esta última zona, tem uma dimensão maior que a área total do Continente Português! Temos aqui uma enorme oportunidade, mas temos também de ser sagazes o suficiente para a saber aproveitar. O ano de 2011 irá ser crucial para a boa gestão do mar alto, e esta uma enorme responsabilidade para a nova Direcção Regional dos Assuntos do Mar.
Merece também um destaque especial o papel inovador e visionário que o Parque Natural do Faial tem tido. Conseguiram organizar o acesso do público ao património ambiental (p. ex. “Trilho dos Dez Vulcões”), melhorar diversos equipamentos (p. ex. a nova estufa do Jardim Botânico) e, mantendo todas as estruturas em funcionamento, em quatro meses criar um extraordinário Guia do Parque. Está a ser um excelente trabalho!
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