sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Estranho Caso do Duplo Prémio da Qualidade Costeira dos Açores

Bandeiras Azul e QualityCoast na Marina de VIla Franca do Campo.

O Estranho Caso do Duplo Prémio da Qualidade Costeira dos Açores resulta da conjunção de três factores: um prémio imaturo, uma abordagem jornalística que, desta vez, não primou pela excelência e, por último, a existência de uma qualidade ambiental esmagadora no arquipélago dos Açores.
Este Estranho Caso começou em 2007. Então, uma organização não-governamental para o ambiente de nível internacional denominada Coastal & Marine Union (EUCC) tentava aliciar a Região Autónoma dos Açores a entrar no restrito clube que reunia os locais da Europa que, certificadamente, abordavam o ambiente de forma adequada. Bastou uma análise sumária à metodologia subjacente ao prémio para compreender que, muito provavelmente, o merecíamos.
Os indicadores em análise estavam agrupados em “Natureza”, “Ambiente” e “Socio-Economia”. Entre outros, no primeiro grupo eram estudadas componentes como a existência de valores naturais, políticas ambientais ou a existência de sítios calmos. No grupo “Ambiente” eram analisados factores como as pressões que o mundo natural sofre, os certificados existentes (bandeira azul, verde e outras), a gestão de lixos (o nosso ponto fraco) e a abordagem energética. Por último, no grupo da “Socio-Economia” eram estudadas componentes como o património cultural, as tradições, a participação ou a satisfação dos visitantes. Os Açores, claramente, tinham tudo para vencer este prémio. Apesar disso, no total, seriam tomados em consideração uma centena de indicadores, o que revelava a exigência e complexidade deste prémio.
Este prémio QualityCoast ajudaria a certificar a adequação dos Açores na sua relação com o Ambiente, caso ganhássemos. Caso não ganhássemos, permitiria reflectir sobre a nossa postura e melhorá-la. Adivinhem? Ganhámos!
Este ano, numa tentativa de reforçar e premiar ainda mais as posturas ambientais positivas, foi lançado pela EUCC um segundo reconhecimento. Agora, entre os 500 destinos turísticos do Sul da Europa de acordo com uma das maiores agências de viagens do mundo, seriam escolhidos os melhores 50, mas utilizando apenas 10 indicadores. Portanto, utilizei a palavra “reconhecimento” propositadamente. É que este reconhecimento não é um prémio com a exigência ou complexidade do anterior. Reparem que no anterior são analisados 100 indicadores e, neste reconhecimento, apenas 10.
Ora acontece que, nos Açores, entre os 500 destinos da mega empresa utilizada para a selecção dos espaços a considerar estão o Pico, São Miguel, Terceira e Açores (genérico). Portanto, como as restantes ilhas não constam dos destinos desta agência, isoladamente, não podiam ser reconhecidas. O extraordinário é que todos os destinos dos Açores foram alvo deste reconhecimento. Caso as Flores, Corvo, Graciosa, Faial, São Jorge e Santa Maria estivessem nos destinos desta agência, muito provavelmente, teríamos ganho 9 prémios dos 50 possíveis. Portanto, ao contrário do que poderia ser uma primeira interpretação, os Açores não perderam qualquer qualidade, continuando o verdadeiro prémio a aplicar-se em todas as ilhas do arquipélago. Quanto a este segundo reconhecimento, é interessante e é apenas isso.
Enfim, como provavelmente notaram, não me senti confortável com o método utilizado para seleccionar os locais a avaliar por este TOP50, mas pior mesmo foi a interpretação que os órgãos de comunicação social fizeram. Na primeira notícia sobre este prémio, chamavam às Ilhas como Concelhos, depois, escreveram que este era o prémio QualityCoast, quando não é, e, finalmente, preocupados com o aparente paradoxo entre haver um arquipélago premiado e ilhas dentro do mesmo arquipélago a receber o mesmo prémio, resolveram que, afinal, os Açores não tinham sido premiados, aplicando-se este reconhecimento apenas às Ilhas atrás mencionadas… Entre os que noticiaram, apenas a RTP/Açores, e aqui lhe faço a respectiva vénia, telefonou para o Governo Regional a pedir esclarecimentos.
Este Estranho Caso tem como génese um dos grandes problemas das sociedade actual: a velocidade. Nada se pensa, nada se confirma, nada se confronta, não há perguntas… apenas sentenças e quanto mais mediáticas melhor. É pena, até porque se neste caso o erro e a precipitação são benignos, noutros estranhos casos não o são.
Mais informações sobre este prémio em: http://www.qualitycoast.info/azores/index.htm.

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