sexta-feira, 20 de maio de 2011

Pergunta o jornal Correio dos Açores: "Como seriam os Açores sem vacas?"


Correio dos Açores - Como seriam os Açores sem vacas e como se poderiam tornar as vacas mais ambientalmente adequadas?

A pergunta que me fazem, curiosamente, já teve uma abordagem muito séria e interessante num extenso documento chamado Perspectivas para a Sustentabilidade na Região Autónoma dos Açores. Aí, são expostos diversos cenários para o futuro dos Açores e, entre eles, encontra-se um baseado no desenvolvimento agro-pecuário (Lactogenia). Em oposição ou complemento, são também estudadas hipóteses baseadas no património natural, no desenvolvimento social, na sociedade da informação e no turismo. É um documento imprescindível para quem pretende entender as possibilidades que se apresentam em termos de longo prazo. 
Sem gado bovino, os Açores seriam um arquipélago mais triste. Para além das questões puramente económicas e financeiras, há uma cultura de práticas e de uso relacionado com o gado e que se expressa no pastoreio, maneio e processamento industrial, mas também ao nível da organização social de uma fracção muito importante da nossa sociedade e em termos de comunicação cultural, quer seja a mais esotérica ou, tão simplesmente, a nível gastronómico. Ilustrando, que seria dos Açores sem uma belíssima alcatra? Que seria dos Açores sem os “Fala quem sabe”? Que seria dos Açores sem o queijo de São Jorge? Que seria dos Açores sem o rendilhado verde das pastagens?
Portanto, penso que sim, faz sentido e também faz muito sentido a aposta na qualidade do sector. Dificilmente poderemos competir com produtos similares aos resultantes da produção industrial massificada dos grandes centros, mas seremos imbatíveis se apostarmos na qualidade de que somos capazes ou no exotismo que resulta destas ilhas. Será necessário imaginação, empreendedorismo e competência e parece-me termos dos três. 
Evidentemente, a existência de um futuro que seja acompanhado pela criação de gado não deve cingir-se a este. A diversificação de produções é um imperativo que tem oportunidades evidentes e bem estruturadas ao nível dos apoios disponíveis pelo sector da Agricultura do Governo Regional. Esta diversificação, deverá limitar a extensão das unidades de produção intensiva aos locais adequados, dando também espaço para outros serviços ambientais imprescindíveis e com alto valor, como sejam os relacionados com o ciclo da água, com a qualidade do ar e solo ou com a biodiversidade.
A criação de gado, como todas as actividades industriais, tem efeitos colaterais negativos em termos ambientais. O mais evidente é a intensificação que vemos por algumas unidades de produção. É uma realidade que teremos de converter rapidamente. Para além do mau aspecto, não resulta em produtos animais de boa qualidade.
O malefício ambiental mais difícil de combater é a libertação de metano (composto de Carbono). Será importante que, noutras actividades, consigamos compensar este malefício e, felizmente, pelas notícias que vamos tendo, a produção de energia por vias alternativas (sem libertação de Carbono) está a ter cada vez melhores resultados no arquipélago. Portanto, sigamos, sempre com mais entusiasmo, por este caminho porque ele está bem traçado.

Nota de redacção - Frederico Cardigos acedeu a responder à questão enquanto cidadão que tem acompanhado a realidade económica e social dos Açores. 

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