Urze plantada por voluntários na Ilha do Corvo.
Respondendo ao desafio lançado pelo Jornal Terra Nostra, tentei identificar um ponto positivo para destacar no Ambiente dos Açores. Comecei por pensar no nosso património natural com as suas espécies endémicas, como o painho-de-Monteiro ou o priolo. Aliás, em São Miguel, ilha onde se insere este periódico, teria toda a lógica escrever sobre o priolo, esse símbolo vivo da natureza dos Açores! Esse pequeno pássaro, sobrevivente de intempéries e perseguições, é um herói que reflecte a tenacidade do ser açoriano, muito antes de os Açores estarem nomeados. Não compreender a importância e o potencial do priolo é uma irresponsabilidade, sinónimo de falta de cultura ambiental. Felizmente, são cada vez menos os que ignoram o priolo.
No entanto, sendo eu responsável pelos Assuntos do Mar, considerei que teria de deixar esse tema para quem de direito. Orientando a minha atenção para o mar e zona costeira, pensei no galardão QualityCoast, que certifica a qualidade da nossa orla costeira. Era uma boa hipótese. Mas porquê destacar o QualityCoast quando temos também as bandeiras azuis para zonas balneares e marinas? Ou a praia acessível para promover a acessibilidade a esses sítios aos cidadãos com capacidade de locomoção limitada? Ou as zonas OSPAR que estão a ajudar a estender o mar dos Açores muito para além dos limites geográficos tradicionais? E porque não escrever sobre os cetáceos dos Açores? Sim, de facto, recentemente, fomos distinguidos como um dos dez melhores locais do mundo [*, *, *, *] para observar baleias, cachalotes e golfinhos e isso é, sem dúvida, importante. Para além disso, foi no último ano que foi feita a primeira listagem de todas as espécies que existem nos Açores, incluindo no ambiente marinho. Sendo o conhecimento a pedra basilar para se poder apreciar, proteger e utilizar com sustentabilidade, esta lista compilada pelo Professor Paulo Borges é um instrumento fundamental.
Pensei em tudo isto e cheguei à conclusão que, no Dia Mundial do Ambiente, para mim, a maior mais-valia do Ambiente dos Açores são as pessoas. São as pessoas que usam a costa dos Açores, são elas que a podem proteger e enchê-la de espécies de plantas endémicas, como a magnífica Azorina, são as pessoas que podem limpar a costa que é agredida pelos depósitos de resíduos clandestinos, pelos lixos oceânicos e pelo retorno das escorrências das ribeiras. São também as pessoas que podem usufruir dos diferentes certificados de qualidade ambiental que elas próprias constroem com as boas práticas que aplicam e que transmitem aos seus filhos e amigos. São também as pessoas que se movimentam e revoltam quando as decisões da administração não são consentâneas com a riqueza e protecção do património ambiental. Serão também essas pessoas, forjadas no rigor do Inverno açoriano e na luminosidade especialmente azul e verde do seu Verão, que sabem mostrar a quem nos visita as mais de duas dezenas de cetáceos que aqui habitam. Serão também estas pessoas que mergulham nas profundezas das águas límpidas do Mar dos Açores, seja em busca de respostas científicas nas fontes hidrotermais de grande profundidade ou, em puro deleite, observando os peixes que se aglomeram em torno de um naufrágio oriundo do Dia “D”.
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