Porto da Horta com três navios de investigação.
Da esquerda para a direita, "Pourquois pas?", "Arquipélago" e "D. Carlos I".
Foto: F Cardigos SIARAM.
Da esquerda para a direita, "Pourquois pas?", "Arquipélago" e "D. Carlos I".
Foto: F Cardigos SIARAM.
O facto de estarmos no Verão promove, evidentemente, o trabalho de campo ou de mar e será sempre um período com mais actividade científica in situ. No entanto, parece-me que este ano está a ser particularmente prolífico. Dou alguns exemplos.
Quando estive em Santa Maria, a participar na segunda parte da Missão M@rbis 2011 a bordo do Navio de Treino de Mar “Creoula”, encontrei a expedição científica de paleontologia da Universidade dos Açores. Ao chegar à Horta, no final da missão, para além do Navio de Investigação “Arquipélago”, que também tinha participado na M@rbis, encontrei os navios “Pourquois pas?” e “D. Carlos I”. Ainda nem tinha conseguido acabar de digerir tanta informação, já se anunciava a expedição, também da Universidade dos Açores, à Ilha de São Jorge. Ao mesmo tempo e em paralelo, decorrem os trabalhos no Banco Condor e outras iniciativas importantes, mas sem a mesma exposição mediática ou evidente visibilidade. É muita gente e é muita curiosidade.
Todos sabemos que os Açores estão na moda, mas esta curiosidade científica que tenta esmiuçar o passado (paleontologia), o presente e o futuro (meteorologia), desde os fundos abissais oceânicos das fontes hidrotermais de grande profundidade até à ponta mais elevada da Ilha do Pico, onde se medem os compostos atmosféricos de fundo, dá-nos uma ideia do nível de escrutínio a que o nosso arquipélago está a ser sujeito. Desde os nossos cetáceos, passando pelas plantas endémicas e até aves marinhas, tudo está a ser caracterizado, verificado e conjecturado. Desde as aproximações mais improváveis e fantasiosas, incluindo alegações de povoamentos pré-históricos, até aos mais quantitativos e lineares estudos de sismologia, há espaço para todas as abordagens nas nove ilhas deste singular arquipélago. Esta curiosidade já não é nova, mas não parece esmorecer e, impõe-se a pergunta: Porquê? Porque se quer saber tanto sobre os Açores?
Provavelmente, não há uma resposta única, mas uma das razões será, certamente, posicional ou, como os comentadores políticos preferem, geoestratégica. Pelo facto de se localizar entre continentes, estar a meio do Atlântico Norte e entre três placas tectónicas, bem que nos podemos de gabar de estar no centro do mundo! Por outro lado, começamos a ter um longo historial de expedições científicas e, como todos sabemos, mais do que dar uma resposta simples e finalizadora, a investigação lança habitualmente muitas novas perguntas. Para lhes responder, fazem-se novas expedições e, se tudo decorrer normalmente, perpetuam-se no tempo e no nosso espaço. Finalmente, neste meu micro resumo de razões, adiciono que há uns dias atrás um amigo referia-me que há aqui “pessoas e dinâmicas” que motivam a facilidade da investigação. Concordo.
Na perspectiva do Governo dos Açores, é um enorme conforto verificar toda esta curiosidade. Por um lado, o investimento realizado em investigação científica não é equivalente às nossas disponibilidades, tendo presentes equipas do mundo inteiro e a expensas próprias! Ilustrando, a verba de quatro dias de aluguer do “Pourquois pas?” equivale a um ano inteiro de financiamento do “Arquipélago”. Agora fazendo uma multiplicação simples, reparem que o “Porquois pas?”, o “Atalante”, o “D. Carlos I” e tantos outros estão nos Açores num total de dias equivalente a três meses por ano. É muito dinheiro! Mas, mais ainda, esta ampla iniciativa internacional é feita em parcerias com os investigadores locais o que resulta numa partilha de conhecimentos e instrumentação que os investigadores da Universidade dos Açores e outras unidades de pesquisa científica bem têm sabido aproveitar. Complementando, vivendo nós num regime em que a decisão assenta no conhecimento, pelo facto de haver muita e boa investigação, passamos a ter os dados necessários para que o futuro possa ser mais seguro e benéfico para a população açoriana.
Para que todas as peças assentem bem é necessário que deste conhecimento também resulte investimento privado. Este é dos passos mais complicados e que ainda não tem o reflexo que potencialmente alberga. Por exemplo, a embarcação que tem fundo de vidro e que está no porto da Horta usa os conhecimentos angariados pelo DOP para descrever os fundos marinhos. Isso faz sentido. Também faz sentido que o GeoParque dos Açores utilize os conhecimentos angariados pelo Departamento de Geociências da Universidade para mobilizar algumas iniciativas hoteleiras e de restauração. É fantástico que a interpretação dos trilhos pedestres dos Açores utilize informação sobre a flora natural estudada e divulgada pelo Departamento de Ciências Agrárias da Universidade. É tudo verdade, mas ainda sabe a pouco. Por um lado, as unidades de investigação terão de disponibilizar mais informação utilizável e, ao mesmo tempo, os empreendedores terão de colocar as perguntas certas e em tom de desafio aos investigadores que participam nestas missões. Eles irão responder, mas devemos provocá-los.
Quando estive em Santa Maria e tive a oportunidade de fazer uma breve visita à Pedra que Pica, fiquei absolutamente fascinado. Ao contemplar aqueles fósseis estava a olhar para organismos que estavam vivos há cerca de cinco milhões de anos. Mais do que ver conchas, estava a olhar, com respeito, para alguns dos primeiros organismos açorianos. Esta minha experiência tem de estar disponível para todos os açorianos e para quem nos visitar, mas, lá está, procuram-se os empreendedores que nos guiem na aventura do conhecimento e, já agora, do lucro!
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