Artefacto com interesse cultural encontrado no Porto da Horta
durante a prospecção arqueológica associada à construção do novo molhe.
durante a prospecção arqueológica associada à construção do novo molhe.
Foto: F Cardigos SIARAM.
Rezam os pergaminhos ecologistas que, a par de uma sociedade democrática, deve-se assentar o progresso no desenvolvimento sustentável. Isso significa, segundo está estabelecido, que os aspectos ambientais, sociais e económicos devem estar a par e não são hierarquizáveis. Ou seja, não é possível sacrificar o ambiente a favor de um maior rendimento (economia) ou de um maior índice de emprego (sociedade) ou vice-versa. Segundo este modelo, são as instituições que devem garantir a sua aplicação.
Invariavelmente, tentar corromper um destes pilares acarreta uma factura a pagar no futuro. Há diversos exemplos de como se entra num clima de estabilidade quando é respeitado o desenvolvimento sustentável e, por outro lado, como as sociedades regridem, declinam ou mesmo se auto-aniquilam quando tentam favorecer um dos pilares.
Desde o momento em que foram aprovados para uso planetário, o que aconteceu na Cimeira do Rio em 1992, os pilares do desenvolvimento sustentável têm sofrido algumas adaptações conforme o interesse ou a abordagem, mas, passado pouco tempo, volta-se à sua fórmula fundamental. É difícil, de facto, chegar a um novo conceito tão simples e tão eficiente como o do desenvolvimento sustentável na sua versão original. Para mais, é um conceito que ganhou aceitação global.
Recentemente, numa Cimeira organizada em Lisboa, chegou-se ao entendimento que era essencial criar um novo pilar relacionado com a Cultura. A Cultura está, por enquanto, inserida no pilar Social, mas, defendeu-se e com razão, que os aspectos culturais são demasiado importantes para que não tenham uma ênfase particular. Apesar de entender e ser solidário, tenho dúvidas que se alcance um novo entendimento que seja tão abrangente e consequente como aconteceu na fórmula original, dado o seu enorme sucesso. Independentemente das consequências, é importante destacar os aspectos culturais como prioritários, principalmente num planeta em conformação, formatação e uniformização galopantes. Um dos melhores atributos que a humanidade tem e que lhe deu uma enorme capacidade de adaptação é a diversidade. Com a imposição do inglês como língua franca, duas ou três religiões dominantes e duas unidades monetárias (dólar e euro), torna-se difícil manter a diversidade.
Na Cimeira de Joanesburgo, tentou-se aperfeiçoar a componente da responsabilidade e às Instituições, vistas no sentido governativo, acrescentaram-se os cidadãos e as empresas. Com este interessante passo, tentou-se expressar a importância das grandes empresas em relação à situação global. O resultado é interessante e, caso tenhamos esse trabalho, verificaremos que hoje em dia, qualquer grande empresa tem um gabinete ou serviço dedicado a esta extensão. Fiz o teste e reparei que a maior empresa do mundo em bebidas com cola, logo na entrada do seu ecrã principal na internet, faz um apelo ao salvamento dos ursos polares. No site de uma enorme empresa de telemóveis havia uma ligação para o Ambiente em que, de uma forma brilhante e intuitiva, eram demonstradas as preocupações ambientais daquela empresa. No caso de uma companhia de pastas de dentes, para além de uma ligação ambiental, também havia um código de conduta que expressava as preocupações da empresa a nível ambiental e social. Ou seja, parece-me que as preocupações com o desenvolvimento sustentável a nível institucional e empresarial estão a ter consequência. No caso das empresas, parece-me ainda estar demasiado orientado para a sua auto-promoção, mas pode ser uma impressão minha.
Agora, mais importante ainda, e com um longo patamar de evolução está o envolvimento individual. De facto, a nossa responsabilização para com o desenvolvimento sustentável ainda tem um longo percurso pela frente. Estas palavras, apesar de estarem a ser repetidas por mim e com total solidariedade, foram ditas há poucos dias pelo Presidente do Clube de Roma, Dr. Ricardo Diez-Hochleitner, com enorme emoção. Segundo ele, “é impensável estarmos perante um momento em que sabemos quais são os problemas, temos as soluções tecnológicas, temos dinheiro para os investimentos e não os fazemos apenas porque estamos demasiado confortáveis a não pensar nesses assuntos”. Não podia dizer melhor. É tempo de, enquanto cidadãos, exigirmos e empenharmo-nos para que sejam dadas respostas que invertam o aquecimento global, a perda de espécies, o incremento das bio-invasões, a fome que grassa por grande parte do planeta, a diminuição radical da mortalidade infantil, etc., etc… Se falharmos, falhamos todos, portanto, o empenho tem que ser de cada um. Temos tudo para ser felizes, basta apenas que haja empenho e que este seja global!