sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quanto vale o Mar dos Açores?

É na interface terra-mar que estão grande parte dos valores conhecidos no mar dos Açores.
No entanto, é para lá do horizonte que está o final deste arco-íris.
Foto: F. Cardigos SIARAM 


Há uns dias atrás, na sequência da preparação de uma peça de suporte ao Fórum da Economia do Mar [*] promovido pela Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, uma jornalista de uma rádio regional fez-me esta pergunta: “Quanto vale o Mar dos Açores?”. Apanhado, pois nunca tinha pensado de forma tão crua, escusei-me a responder e prometi que iria pensar no assunto.
Debati-me, literalmente, com a questão. Sendo responsável pela gestão do Domínio Público Marítimo e Assuntos do Mar dos Açores, eu tinha de saber quanto valia o que estava a gerir, mas não fazia ideia da resposta. Sabia, como todos sabemos, alguns dos parciais, como os relacionados com as pescas [p. ex. *], e, também, que o total é elevado e que há muito ainda por explorar [p.ex. *]. Também tenho clara consciência que, provavelmente, nunca se saberá o valor exacto dada a complexidade do tema. No entanto, para mim, esta era uma resposta de mau perdedor. É difícil admitir tal fraqueza e, portanto, resolvi de imediato meter mãos à obra.
Comecei por uma questão muito simples e, logo aí, obtive duas respostas. Fui verificar, com a ajuda dos colaboradores da direcção regional, quanto vale a extracção de areias marinhas nos Açores. É um tema cujo licenciamento é feito por nós, temos os relatórios de descarga, sabemos a quanto é vendida a areia e, portanto, tudo estaria bem. Fizemos as contas e deu um milhão e oitocentos mil euros por ano. Excelente! … mas… “Podia ter sido extraída mais”, retorquiu-me a colaboradora que fez as contas. “Podiam ter vendido até 3,5 milhões de euros, já que era esse o limite ambientalmente definido”. Ou seja, no caso mais simples, já temos dois valores e ainda não pensamos na economia de escala, causada pelo benefício na construção civil, nos empregos directos de quem trabalha na actividade, e nos indirectos, de quem mantém os barcos, os abastece, etc. Estamos no tema mais fácil e já temos todas estas dúvidas e uma miríade de variáveis.
Resolvemos então elencar todas as actividades que se realizam no mar dos Açores e que geram proveitos económicos. Chegamos à conclusão que existem seis grandes grupos: 1. Recolhas (que incluem os diferentes tipos depesca e aquacultura), 2. Extracção (areias), 3. Transportes [*] (pessoas, cargas, informação e estruturas de suporte), 4. Turismo (com todas as suas vertentes), 5. Ciência (básica e aplicada à farmacologia, biotecnologia, tecnologia azul e robótica submarina) e 6. Cultura (enquanto fonte de inspiração e cenário para História e estórias). Este foi o esquema simplificado a que chegamos e onde tentámos depois encaixar as novas valências emergentes e que incluem a extracção de minerais, o suporte para a produção e transferência de energia entre ilhas e continente e o abastecimento a navios em trânsito. Um aparte para referir que o abastecimento de navios em trânsito é especialmente importante quando estão a mudar as rotas, resultante da ampliação do Canal do Panamá, e os tipos de combustíveis estão progressivamente a ser alterados para fórmulas mais limpas, incluindo a utilização de gás natural. Este combustível exige abastecimentos mais frequentes e isso obrigará a que se faça um maior número de acostagens em cada viagem (incluindo as transatlânticas).
Como é fácil verificar, não é nada fácil contabilizar os dividendos que advêm ou poderão resultar da optimização da exploração marinha. Apesar disso, é um esforço que tem de ser feito e será nisso também em que irei trabalhar nos próximos dias. Espero ter algumas respostas interessantes.
Entretanto, no Fórum da Economia do Mar, durante as palestras propriamente ditas, fiquei a saber que no Continente também não sabem qual é o valor do mar e, curiosamente, estão, também a tentar descobri-lo. Para isso, contrataram uma equipa universitária especializada. Como este estudo inclui a totalidade do território nacional, daí também teremos valores para os Açores.
O que acabei por responder à senhora jornalista é que, com todas estas realidades e oportunidades, “o mar é uma excelente saída para uma crise que insiste em nos acompanhar. Apenas necessita de imaginação, coragem e competência.” Vamos a isso?!

1 comentário:

  1. tentando ajudar na resposta
    envio este estudo que fiz
    já há mais de um ano
    http://issuu.com/fazendofazendo/docs/os_gatafunhos_final/47

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