sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Crípticos…


Criptomérias na berma da estrada na Ilha do Faial.
Foto: F Cardigos SIARAM

Há uns dias atrás, ouvi umas referências às criptomérias da Ilha do Faial e de como era ambientalmente importante proteger estas árvores que, nos lados das estradas, se mantinham há cinquenta anos. Cinquenta anos?! A minha primeira observação é, se há criptomérias com cinquenta anos nos lados das estradas, abatam-nas de imediato! O perigo de caírem numa próxima tempestade é enorme e a madeira que poderiam produzir está a perder qualidade a olhos vistos. Fazendo um favor à segurança colectiva e à economia, também colectiva, alguém que leve essas árvores. Já! Todos gostamos de seres vivos, mas, estes em particular, existem e são mantidos com uma função específica: produzir madeira. Outros servem para produzir carne, outros leite… Por muito bonitos que sejam e alimentem a nossa tranquilidade paisagística, em primeiro lugar está a tarefa que nos levou a colocá-las nos Açores.
Nos Açores há espécies e conjuntos de espécies com o respectivo contexto ecológico (normalmente denominados habitats) com enorme interesse ambiental. Essas espécies ou habitats com interesse ambiental são naturais das ilhas e, nos casos mais valiosos, exclusivos (endémicos) das ilhas. Há espécies cuja origem os biólogos ainda não conseguiram determinar e, por essa razão, são chamadas de criptogénicas.
No outro extremo da escala estão as espécies introduzidas e as invasoras. A maioria das espécies introduzidas foi colocada no arquipélago por razões comerciais (essencialmente ligadas à agricultura ou à pecuária) ou por razões estéticas. Infelizmente, algumas foram introduzidas por acidente ou, num terrível caso, por carinho! Imagine-se…
Ou seja, antes de explicar esse caso de afecto exacerbado, tenho de me deter sobre as espécies simplesmente introduzidas. De entre o milhar de espécies de plantas dos Açores, apenas 360 são daqui naturais. Todas as restantes foram introduzidas. Ou seja, estas espécies introduzidas têm uma função eminentemente ligada ao benefício humano. Incluem-se nessa lista as criptomérias e os plátanos. Já as espécies naturais têm uma função no ecossistema podendo, ou não, apresentar benefícios directos para os seres humanos. Reparem que as espécies naturais estão nas ilhas há milhões de anos e as introduzidas apenas há cinco séculos. 
Quando uma das espécies introduzidas passa a apresentar malefícios para o ambiente ou para os seres humanos, toma o nome de invasora. Ou seja, uma criptoméria demasiado velha é uma ameaça e, por definição, torna-se invasora. É obrigação nossa retirá-la do meio ambiente.
Há um célebre caso nos Açores, em que um casal, depois de prestar serviço na Base das Lajes, resolveu regressar ao Continente. Ao verem como os seus pardais se tinham adaptado e eram felizes no arquipélago dos Açores e na incerteza do que iriam encontrar no regresso à sua terra, resolveram libertá-los. Progressivamente, ao longo de gerações, os pardais invadiram e dizimaram as plantações de cereais da Terceira e, de seguida, das restantes ilhas dos Açores. Foi uma acção carinhosa para com os animais, mas que teve enormes consequências negativas. Conclui-se que, sem o devido conhecimento, as pessoas dizem e fazem enormes disparates, o que nos trás de volta às criptomérias cinquentenárias…
Aliás, caso este assunto das criptomérias fosse relevante para a conservação da natureza, digam-me lá: acham que o Parque Natural do Faial não teria intervindo? Depois de tudo o que vimos o Parque fazer nos últimos três anos, depois de terem sido premiados ao mais alto nível Europeu, passará pela cabeça de alguém que o Parque deixasse passar qualquer atentado ambiental? Pelos vistos passa…

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