Há uns dias atrás, ouvi umas referências às criptomérias da
Ilha do Faial e de como era ambientalmente importante proteger estas árvores
que, nos lados das estradas, se mantinham há cinquenta anos. Cinquenta anos?! A
minha primeira observação é, se há criptomérias com cinquenta anos nos lados
das estradas, abatam-nas de imediato! O perigo de caírem numa próxima
tempestade é enorme e a madeira que poderiam produzir está a perder qualidade a
olhos vistos. Fazendo um favor à segurança colectiva e à economia, também
colectiva, alguém que leve essas árvores. Já! Todos gostamos de seres vivos,
mas, estes em particular, existem e são mantidos com uma função específica:
produzir madeira. Outros servem para produzir carne, outros leite… Por muito
bonitos que sejam e alimentem a nossa tranquilidade paisagística, em primeiro
lugar está a tarefa que nos levou a colocá-las nos Açores.
Nos Açores há espécies e conjuntos de espécies com o
respectivo contexto ecológico (normalmente denominados habitats) com enorme
interesse ambiental. Essas espécies ou habitats com interesse ambiental são
naturais das ilhas e, nos casos mais valiosos, exclusivos (endémicos) das
ilhas. Há espécies cuja origem os biólogos ainda não conseguiram determinar e,
por essa razão, são chamadas de criptogénicas.
No outro extremo da escala estão as espécies introduzidas e
as invasoras. A maioria das espécies introduzidas foi colocada no arquipélago
por razões comerciais (essencialmente ligadas à agricultura ou à pecuária) ou
por razões estéticas. Infelizmente, algumas foram introduzidas por acidente ou,
num terrível caso, por carinho! Imagine-se…
Ou seja, antes de explicar esse caso de afecto exacerbado,
tenho de me deter sobre as espécies simplesmente introduzidas. De entre o
milhar de espécies de plantas dos Açores, apenas 360 são daqui naturais. Todas
as restantes foram introduzidas. Ou seja, estas espécies introduzidas têm uma
função eminentemente ligada ao benefício humano. Incluem-se nessa lista as
criptomérias e os plátanos. Já as espécies naturais têm uma função no
ecossistema podendo, ou não, apresentar benefícios directos para os seres
humanos. Reparem que as espécies naturais estão nas ilhas há milhões de anos e
as introduzidas apenas há cinco séculos.
Quando uma das espécies introduzidas passa a apresentar
malefícios para o ambiente ou para os seres humanos, toma o nome de invasora.
Ou seja, uma criptoméria demasiado velha é uma ameaça e, por definição,
torna-se invasora. É obrigação nossa retirá-la do meio ambiente.
Há um célebre caso nos Açores, em que um casal, depois de
prestar serviço na Base das Lajes, resolveu regressar ao Continente. Ao verem
como os seus pardais se tinham adaptado e eram felizes no arquipélago dos
Açores e na incerteza do que iriam encontrar no regresso à sua terra,
resolveram libertá-los. Progressivamente, ao longo de gerações, os pardais invadiram
e dizimaram as plantações de cereais da Terceira e, de seguida, das restantes
ilhas dos Açores. Foi uma acção carinhosa para com os animais, mas que teve
enormes consequências negativas. Conclui-se que, sem o devido conhecimento, as
pessoas dizem e fazem enormes disparates, o que nos trás de volta às
criptomérias cinquentenárias…
Aliás, caso este assunto das criptomérias fosse relevante
para a conservação da natureza, digam-me lá: acham que o Parque Natural do
Faial não teria intervindo? Depois de tudo o que vimos o Parque fazer nos
últimos três anos, depois de terem sido premiados ao mais alto nível Europeu,
passará pela cabeça de alguém que o Parque deixasse passar qualquer atentado
ambiental? Pelos vistos passa…
Sem comentários:
Enviar um comentário