Tubarão-azul ou tintureira observado ao largo do Faial.
Foto: Justin Hart – CW Azores
Uma das temáticas que mais tem fascinado os apaixonados do mar nos últimos tempos são os tubarões. Mas porquê? Na realidade é um grupo de espécies de peixes em que se cruzam grande parte dos nossos medos, culpas e fascínios.
O medo de tubarões legitima-se pelo aspeto agressivo destes animais, pelas mandíbulas polvilhadas de dentes afiados, pela real capacidade de magoar um ser humano e por causa de um célebre filme de muito má memória, principalmente para os tubarões...
E, portanto, somos culpados de uma perseguição injustificada e injustificável. Injustificada porque, todos os anos morre muito mais gente por causa das alforrecas ou cocos que caem das árvores, imagine-se, do que por ataques de tubarões. Nunca vi ninguém perseguir alforrecas e, muito menos, cocos… Mas tubarões… Já todos nós vimos descargas de toneladas deles e caçadas absurdas. Em resultado das capturas desmesuradas, há hoje muito menos tubarões que noutros tempos. Pior do que isso, nós somos culpados por ter permitido que, inclusivamente, estes animais fossem capturados em números inimagináveis apenas para lhes tirar as barbatanas. Nós, a humanidade, foi complacente com este facto durante tempo demais e daí o sentimento de culpa.
Desde que se compreendeu que este grupo estava em perigo que se intensificaram os estudos para o compreender. Com estes estudos cresceu o nosso fascínio comum pelos tubarões, tendo estes passado de predadores insaciáveis a vítimas extraordinárias. Estes animais, por exemplo, ocupam habitats completamente diferentes, têm alimentações que vão desde os plantófagos aos predadores de topo, têm métodos de reprodução que incluem, nalgumas espécies, predação intrauterina ou a capacidade de atravessar oceanos. Ecologicamente, os tubarões são essenciais para retirarem dos mares os animais menos aptos ou doentes. Sem tubarões, a seleção natural e a saúde das restantes populações seriam seriamente afetadas. Nós seríamos seriamente afetados.
No caso dos Açores, não há embarcações dedicadas a pescar tubarões. Infelizmente, na pesca de espadarte por palangre derivante há, assessoriamente, muitos tubarões capturados. Durante o Inverno, há mesmo mais tintureiras (uma espécie de tubarão) capturadas do que espadartes. Na zona exterior da subárea dos Açores da Zona Económica Exclusiva de Portugal, por uma decisão errada da Comissão Europeia, não há agora restrições ao número de embarcações que capturam tuba… oppsss… espadartes. Tudo isto me leva a crer que as populações de tintureira podem estar a sofrer um impacto elevado. Da mesma forma que eu, afirma-o a União Internacional para a Conservação da Natureza, uma das mais respeitadas organizações ambientais do mundo.
As capturas de tintureiras obtidas este ano parecem, no entanto, contrariar esta opinião. De facto, as capturas anormalmente elevadas podem indicar uma recuperação da população ou, como muito receio, “o canto do cisne”.
Basta olhar para um tubarão dentro de água, a nadar majestosamente no seu meio, para perceber que são animais dignos de veneração. E há muitas pessoas a pensar desta forma. São pessoas que são capazes de viajar desde o centro da Europa até aos Açores, pagando viagens, estadias e refeições e, ainda, cerca de 150 euros para ver tintureiras a nadar no azul transparente das águas açorianas. Estima-se que a atividade de observação de tubarões no nosso arquipélago irá crescer muito este ano. Por isso, grande parte das empresas que se dedicam à observação está a reforçar as suas flotilhas.
Ora, temos uma atividade que prejudica os tubarões, estes animais fascinantes e essenciais. Por outro lado, temos um conjunto muito interessante de europeus que querem pagar somas avultadas para vir até aos Açores observá-los enquanto nadam. Sendo o caso tão simples, qual é a opção correta?