sexta-feira, 13 de abril de 2012

Molhado

Cavaco, Scyllarides latus
Foto: F Cardigos SIARAM

Por inerência ao meu trabalho, tenho seguido com muita atenção tudo a que ao mar se refere, incluindo também os seus aspetos turísticos. Neste domínio, ao longo dos últimos anos, as diferenças são abissais e para melhor. À dinâmica das empresas para a observação de cetáceos, têm-se juntado as empresas de passeios marítimos, de mergulho com escafandro autónomo, de mergulho para observação de jamantas e de observação de tubarões. Tudo isto e muito mais é permanentemente analizado em detalhe pelo departamento do Governo a que pertenço.
Não obstante, nos últimos meses comecei a notar que, no conjunto, me faltava uma componente. Depois de muito tempo atrás da secretária, esmiuçando em cartas e documentos a orla costeira das diferentes ilhas do arquipélago ou participando em reuniões de trabalho um pouco por toda a parte (muitas por videoconferência), senti, sinceramente, falta de ver o que se passava debaixo de água. Tinha de ir para o terreno, que, no meu caso, é, está bem de ver, a água do mar. Bem pensado, melhor feito.
Aliciando companheiros de longa data, decidimos qual o local de imersão. Apesar das condições meteorológicas instáveis, as experiências combinadas do Norberto Serpa e do Marco “Foca” apontavam para um determinado local da Ilha do Faial. Pelas razões que explicarei à frente, não poderei dar detalhes sobre a localização.
Após revisão do equipamento e dos procedimentos de mergulho, obscurecidos por um longo período sem imersões, lá fomos. Antes da entrada de costas, uma última verificação à pressão de ar na garrafa e um teste ao regulador. Tudo bem. Vamos à água!
Ao contrário do que esperava, não houve choque térmico. O meu fato de mergulho semi-seco é realmente impecável. Ou então, a água do mar não está tão fria como isso. Negativo; vejo o ar arrepiado dos meus colegas de mergulho e percebo que a temperatura ainda é de época baixa. No decorrer do mergulho, a falta de peixes pelágicos migradores, como lírios, encharéus e bicudas, confirma a temperatura da água.
Junto ao fundo, centenas de rainhas e dezenas de vejas dão um imediato colorido à imersão. Apesar da curta visibilidade de apenas 20 metros, a luz consegue penetrar o suficiente para, a pequena distância, vermos os vermelhos que distinguem as fêmeas vejas. Nota explicativa: 20 metros é um sonho de visibilidade para o mergulho em qualquer sítio do mundo, mas nos Açores é apenas normal!
Dita a experiência do meu companheiro de mergulho, Fernando Jorge Cardoso, que se deve espreitar para as frinchas que vamos encontrando. Aí, as algas são substituídas por anémonas e outros magníficos invertebrados sésseis. Sobre eles, muitas vezes deambulam moreias das espécies pintada ou preta, moreões e, por sorte neste mergulho em particular, uma moreia-víbora. Apesar do nome e do mau aspeto, é uma moreia ainda mais pacífica que as restantes, permitindo habitualmente boas fotografias. Apesar de ter levado uma máquina fotográfica emprestada, a falta de ensaio prévio fez com que as fotos deste peixe ficassem, com simpatia, miseráveis… É pena.
Melhor ficou o retrato de um cavaco. Este crustáceo é híper-apetecido pela pirataria subaquática o que, imediatamente, obriga a esconder o avistamento ou o local de mergulho. Penso, escondo o segundo. A fotografia do cavaco, até para acalmar as más-línguas, indicia que aqui o Mar dos Açores está em boas condições e uma nota positiva é importante.
Em época de renascimentos, esta foi uma ótima maneira de celebrar a Páscoa e revitalizar a energia que me ajudará a melhor defender o mar dos Açores. Viva o Mar dos Açores, cheio de vida e fascinante beleza!

1 comentário:

  1. Gostei do post em especial da introdução.
    Na próxima passagem por Vila Franca do Campo, para que se possa também aperceber da realidade de outros fundos marinhos, está convidado para uma mão cheia de mergulhos nesta zona da ilha de São Miguel.

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