Este ano salvaram-se 1987 aves durante a “Campanha SOSCagarro 2012”. Esse número faz decrescer em mais de mil animais a cifra
atingida no ano passado. A primeira assunção é que isso seria mau. Se foram
salvos menos aves é porque houve menor empenho na Campanha ou, em alternativa,
menos cagarros.
Analisemos.
Este ano participaram na Campanha quatro mil e seiscentas pessoas
e, no ano passado, quatro mil e setecentas. Não é um decréscimo significativo, logo,
não nos parece que isso seja propriamente mau. Reforçando a ideia de que o
empenho não se reduziu, atente-se para o aumento em 47% nas instituições
participantes. Fantástico!
Portanto, se não houve redução do empenho, talvez tenha
havido uma diminuição do número de aves. Realmente, verificou-se uma diminuição
do número de casais nidificantes em cerca de um terço. Os dados são do
Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores e da SociedadePortuguesa para o Estudo das Aves. Na verdade, nem precisávamos dessas
indicações. A maioria dos açorianos sentiu que este ano houve menos cagarros em
terra. Diversas pessoas, incluindo eu próprio, sentiram a diminuição daqueles
grasnares que é impossível descrever por letras ou, muito menos, por palavras.
Paradoxalmente, apesar de ser preocupante e merecer um
estudo profundo (e, eventualmente, incremento nas ações de preservação), esta
redução de aves nidificantes não se deveria ter refletido na redução de
salvamentos. É que, segundo os cientistas, a redução na nidificação foi
contrabalançada por um aumento muito significativo no sucesso reprodutivo. Ou
seja, as poucas aves que nidificaram fizeram-no com enorme eficiência. Então…
Onde andam essas aves?
Pensámos no assunto… coligimos informação… e chegámos à
conclusão que, provavelmente, houve dois fatores a retirar os cagarros das
zonas de salvamento. Em primeiro lugar, as excelentes condições meteorológicas
nos dias em que houve mais aves a sair dos ninhos. Essas condições permitiram
que as aves voassem imediatamente para o mar, sem serem atraídas por terra. Para
além disso, houve uma enorme redução na iluminação pública. Neste caso, a crise
veio reforçar as medidas de economia de energia e isso retirou luz das ruas. Os
jovens cagarros agradecem!
Portanto, se, por um lado, tivemos menos aves a nidificar nos
Açores e isso necessita de reflexão profunda e ação consequente, por outro lado,
a redução do número de salvamentos não é consequência de uma diminuição no
empenho na salvaguarda destas aves marinhas.
Há, no entanto, um outro número que exige também atenção.
Houve um aumento percentual de animais mortos nas estradas. No ano passado esse
número era de 7% das aves caídas e, este ano, subiu para 9%. Certas estradas,
principalmente em São Jorge e no Pico, são autênticas ratoeiras para os jovens
cagarros. No próximo ano, ter-se-á de equacionar o reforço da sensibilização e
mesmo a imposição de limites de velocidade. É apenas por uns dias e em troços
que não têm mais de um quilómetro. No entanto, para os cagarros pode ser a
diferença entre a vida e a morte. Um assunto a pensar no futuro próximo com
alguma atenção.
É fantástico que tanta gente adira anualmente e de forma
voluntária e organizada à “Campanha SOS Cagarro”. Estou em crer que esta é a
maior ação conservação da natureza de cariz regular de Portugal. Para uma
Campanha que já leva duas dezenas de anos de existência, é digno do nosso
orgulho coletivo.
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