Quando o telemóvel tocou, senti um ligeiro sobressalto.
Apesar de não ser invulgar, nem todos os dias recebo uma mensagem SMS depois
das 10 da noite. Apressei-me a ler. Do outro lado do planeta, alguém escrevia:
“Esta tudo bem em Ushuaia”. A minha mãe fazia um telegráfico ponto de situação
da sua viagem pelo sul da América do Sul.
Preocupa-me deveras a qualidade de vida das pessoas que,
depois de terem contribuído ativamente para criar as suas famílias e para o
bem-estar económico da sociedade, se reformam. Ao ver certas situações de
abandono ou miséria, fico imensamente preocupado, até por isso ser uma enorme injustiça.
As pessoas de idade avançada são das mais frágeis e das menos salvaguardadas.
Os meus pais tiveram sorte e a organização que fizeram da sua
vida permite-lhes não terem grandes preocupações financeiras. Apesar disso,
tendo consciência que nem todos têm essa felicidade, gostaria de contribuir de
forma mais premente para que todos pudessem usufruir do mesmo bem. Mas como o
fazer?
Foi com o intuito de dar algumas respostas sobre o
envelhecimento com qualidade que a Câmara Municipal da Horta, com o apoio do
Governo dos Açores, organizou o “Fórum Cidadãos Ativos e Solidários”. Nele,
tive a oportunidade de ouvir a comunicação da Professora Maria de Lourdes
Quaresma que registei por ser extraordinariamente informativa e concludente.
Entre muitos outros detalhes, fiquei a matutar numa frase em particular: “a
esperança de vida irá aumentar, mas, a qualidade de vida dos últimos anos pode
diminuir”. Ou seja, os avanços médicos têm permitido viver mais tempo, mas os
últimos anos são de extraordinária dependência e, algumas vezes, de grande
sofrimento. Aquele período que medeia entre o início da degradação da saúde e o
falecimento, que antes era relativamente rápido, hoje prolongou-se severamente.
Portanto, o desafio é tentar encontrar as soluções para que
o aumento da esperança de vida não aniquile a qualidade de vida dos nossos dias
finais. Isso apenas será conseguido com o empenho da sociedade, com os avanços
tecnológicos, especialmente na área da saúde, e com um esforço por parte de
cada um, contribuindo para a sua educação permanente.
Não há dúvida que um idoso que esteja familiarizado com as
novas tecnologias da informação e comunicação, perante uma eventual situação de
imobilidade, terá uma grande probabilidade de se manter incluído socialmente.
Obviamente, isso apenas acontecerá se conseguirmos coletivamente criar
condições de conforto que permitam esse enquadramento económico e social.
Tendo tudo isto em consideração, fico muito contente por
estar numa ilha em que a sociedade pensa e reflete em conjunto sobre esta
temática e que consegue gerar abnegadas soluções como é, por exemplo, a
Universidade Sénior. Com gastos mínimos, para não dizer nulos, os menos idosos
vão partilhando o que sabem com os restantes, garantido que estão a par das
novas tendências tecnológicas e outras temáticas mais modernas. Estas e outras
iniciativas fazem-me ter orgulho em ser faialense!
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