sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

As pontes de Mostar



A ponte mais conhecida de Mostar, na Bósnia- Herzegovina, e uma das mais conhecidas do mundo dá pelo nome de Stari Most. É lindíssima! Foi construída há muito tempo a mando de um Sultão do Islão e, para além de ligar duas partes daquela cidade, tradicionalmente ligava as duas culturas dos dois lados do rio.
No início dos anos 90, antecipando a divisão da Jugoslávia, ocorreu uma horrível guerra entre os principais grupos étnicos que ali viviam. Entre as então regiões, houve as que entraram na guerra porque tinham medo de ser invadidas, as que entraram porque estavam a ser invadidas por esses mesmos vizinhos e as que, fruto da sua ambição, instigaram tudo isso. O que aconteceu é tão triste que, embora a sua descrição não caiba neste artigo, tem que aqui ser referido como um dos momentos mais baixos da história da humanidade.
Caminhando hoje por cidades como Dubrovnik, na Croácia, custa a crer que aquelas simpáticas pessoas odiassem tanto os conterrâneos que encetassem uma guerra civil sem tréguas e, quanto a mim, sem nexo. Perseguir uma pessoa porque ela não crê no mesmo Deus ou porque não fala a mesma língua é, para mim, absolutamente impensável. Antes pelo contrário, tenho uma curiosa atração por quem não concorda comigo. É fascinante ouvir a argumentação daqueles que pensam de forma diferente. Eu dou entusiásticas vivas à diferença!
Em Mostar, mesmo com a guerra no seu auge, as pessoas insistiam em encontrar-se na Stari Most. Por forma a instigar ódios, os beligerantes resolveram colocar soldados escondidos e equipados para atirar sobre aqueles que insistiam em ser livres e comunicar. Assim, estes snipers mataram dezenas de pessoas que tentavam passar de um lado para o outro da cidade dividida.
Contaram-me que um jovem casal dos lados opostos se enamorou nesse período. Apesar de conhecerem o perigo, como o amor falava mais alto, insistiram em se encontrar na ponte e acabaram por ser cobardemente alvejados. Uma autêntica história de Romeu e Julieta dos tempos modernos, mas com protagonistas demasiado reais para podermos apreciar a história. Também o pai de um deles, que apenas tentava recuperar os corpos, foi alvejado e morto. Durante um longo período, as pessoas tentaram passar. Muitas morreram e outras ficaram feridas, até que uma das artilharias resolveu destruir um dos símbolos da união entre os povos dos Balcãs.
Tendo este altíssimo valor simbólico, não admira que a primeira obra que as Nações Unidas financiaram no final da guerra tenha sido a reconstrução da Stari Most, quando possível com as pedras originais e utilizando os métodos de construção do século XVI. Em Julho de 2006 a ponte reabriu ao público e está lindíssima.
Eu gosto das pontes de Mostar e em especial da Stari Most. Para mim, ela simboliza o prevalecer do bem sobre o mal. Significa que, para a maioria dos seres humanos, mais do que os períodos de incompreensível devaneio, o importante é a civilização, o entendimento e o progresso assente em valores positivos e fraternos. 

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