Detalhe de Estrela-do-mar, Ophidiaster ophidianus,
fotografada no Monte da Guia, Faial, Açores.
fotografada no Monte da Guia, Faial, Açores.
Foto: F Cardigos ImagDOP/UAz
Admito que é difícil
para alguém que não conheça, imaginar a paz e a tranquilidade que se sente
debaixo de água a uns simples 15 metros de profundidade. O que proponho nestes 4
mil caracteres que se seguem é tentar partilhar essa sensação.
Imagine um prédio,
como o novo bloco do hospital da Horta, e imagine que está no seu topo à
superfície da água. Lá em baixo, junto à entrada do bloco, está o mergulhador,
perscrutando os fundos marinhos. É essa a altura da coluna de água que separa o
mergulhador da superfície.
Graças à impulsão
que empurra o mergulhador para cima, o mergulhador pode “flutuar” na coluna de
água, “voar” até ao terceiro andar e depois voltar ao rés-do-chão. É muito conveniente
que, perto do final do período do mergulho, esvoace até ao último piso…
O sentimento de
imponderabilidade que se usufrui neste “voo” subaquático é extraordinário. Pode
dar cambalhotas, "fazer paraquedismo" ou ascender sem qualquer esforço.
Aquela coisa dos pulinhos de quem anda na lua, tendo aquela ligeira sensação de
ficar no “ar” durante algum tempo, é o quotidiano no mergulho com escafandro
autónomo. Como extra, nesta má comparação com os astronautas, refira-se ainda
que lá em baixo, na entrada do bloco, os peixes vêm observar o mergulhador com
uma curiosidade tal que até parece que ele veio de outro planeta…
Tenho de
salientar, no entanto, que no mergulho nem tudo são rosas. Por exemplo, as
ascensões não podem ser rápidas e qualquer erro pode resultar em acidentes
muito graves. São acidentes raros, mas acontecem e podem ser letais.
Para quem queira iniciar
esta atividade, aconselho vivamente os chamados “batismos de mergulho” que as
empresas de turismo subaquático ou a Marinha promovem. São simples e servem
para ter uma primeira aproximação. Depois, se gostar, é continuar!
Quanto a mim,
lembro-me perfeitamente que no meu primeiro mergulho, quando pela primeira vez
coloquei um regulador na boca, tive que me concentrar para obrigar o meu corpo
a inspirar. Esteve longe de ser automático…
Depois, outra
sensação memorável que tive no mergulho foi quando a minha sinusite se
extinguiu. Ao ascender dos 25 metros, durante o exame de mergulho, senti, de
repente, um enorme alívio na face. Não liguei, até porque, a sensação de alívio,
sendo boa, não era nada junto da novidade dos peixes, água, algas, fundos
marinhos e da emoção. Quando saí da água reparei como todos me olhavam com
espanto e preocupação. A minha máscara estava suja de um líquido cujas cores me
escuso a descrever dada a sua repugnância. Desde então, desde os meus dezasseis
anos, nunca mais tive problemas com inflamações dos seios perinasais.
Graças ao
mergulho, em apenas uma semana, esta última, pude nadar com jamantas, ver
fontes hidrotermais bem ativas a 40 metros de profundidade junto ao Faial e
descansar o corpo na solidão subaquática que encontramos no sopé do Monte da
Guia. Vi e fotografei animais que se encontram no limite da imaginação da
maioria dos seres humanos e pude ter o privilégio de os partilhar de imediato
(a fotografia digital dá uma boa ajuda). Hoje, o mergulho com escafandro
autónomo dá-me uma paz e tranquilidade únicas e proporciona-me histórias e
aventuras que tenho o prazer de contar aos meus filhos e, se tiver essa
felicidade, aos meus netos. Aconselho vivamente!
Em resumo, os
barulhos são diferentes; os movimentos são diferentes; o “voar” nesta
“atmosfera” aquosa é diferente, até há quem lhe chame nadar; os organismos que nos
rodeiam são diferentes; o calor é diferente, até há quem lhe chame frio; daí aventurar-me
a dizer que o extremo do “sair cá dentro” é mergulhar no nosso magnífico
oceano!
Da mesma forma
que os astronautas devem ter sensações absolutamente únicas, o descobrir o meio
aquático também é fantástico e radical. Uma grande diferença entre os dois é
que o segundo está ao alcance de todos. Outra diferença é que o segundo
permitir-lhe-á descobrir outros modos de vida enquanto o espaço exterior tem,
basicamente, isso, espaço...
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