Obra apoiada pelo FEDER na costa da Ilha do Corvo.
Foto: F Cardigos
Foto: F Cardigos
Segundo um inquérito recente, apenas 29% dos portugueses
estão cientes que há projectos a ser executados na sua área de residência com
apoio da União Europeia. Ou seja, mais de dois terços dos portugueses não fazem
ideia que há verbas avultadas oriundas dos fundos comunitários que cofinanciam
as obras de que beneficiam quotidianamente. Isto é particularmente
surpreendente porque todas as obras cofinanciadas têm essa referência exposta
em local digno e praticamente todos os dias se fala na importância dos
financiamentos comunitários na comunicação social. Ou as pessoas andam
particularmente distraídas ou estão concentradas em fontes informativas de
credibilidade duvidosa. As chamadas “fake news”, ao inundarem a comunicação e
as redes sociais com “veneno” antieuropeu estão a produzir o efeito desejado
pelos antieuropeístas… Reforçando este ponto de vista, refira-se que num artigo
de jornal do início de Dezembro fazia-se uma súmula de 42 notícias falsas sobre
a União impressas nos jornais britânicos ao longo dos últimos vinte anos.
Esta injusta ignorância é transversal a grande parte da União
Europeia, atingindo o máximo na Dinamarca (86%) e o mínimo na Polónia (20%).
Outros países que partilham um elevado grau de desconhecimento incluem, para
além da Dinamarca, a Áustria (84%), a Bélgica (83%), a Holanda e o Reino Unido
(ambas com 82%). Estes dois últimos países fizeram recentemente escolhas
através de referendos cujos resultados apontaram para um distanciamento da
União Europeia e, no caso do Reino Unido, com as consequências dramáticas do
Brexit.
Curiosamente, por entre as pessoas que declaram ter
conhecimento dos cofinanciamentos da União europeia, 78% têm uma percepção
positiva do seu resultado. O máximo da percepção de resultados positivos é
atingido na Irlanda (90%), o mínimo na Itália (43%) e Portugal está junto à
média com 77%. Portanto, a maioria desconhece a importância da União Europeia
em termos de investimentos reais no seu território, mas, os que a reconhecem,
consideram que o seu efeito melhora o seu dia-a-dia.
Estes resultados e as conclusões não são minhas, mas sim da
Comissão Europeia, e foram recentemente divulgados numa conferência em Bruxelas
sobre a Política de Coesão. A Política de Coesão é uma de diversas políticas
que tem instrumentos financeiros associados. Outras políticas, que
inacreditavelmente dois terços dos portugueses não sabem que têm um importante e
generoso braço financeiro, incluem, entre outras, a Política Agrícola Comum, a
Política Comum das Pescas e a Rede Natura 2000.
A Política de Coesão é, e passo a citar, “a principal política de investimento da
União Europeia. Está direcionada para todas as regiões e cidades da União Europeia
com vista a apoiar a criação de emprego, a competitividade empresarial, o
crescimento económico e o desenvolvimento sustentável e a melhorar a qualidade
de vida dos cidadãos.”. No terreno, a Política de Coesão é agilizada
através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), do Fundo Social
Europeu (FSE) e do Fundo de Coesão. Para além dos fundos relacionados com a
Política de Coesão, os Fundos Europeus Estruturais e de Investimento (FEIE)
incluem ainda o Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER) e o
Fundo Europeu para os Assuntos Marítimos e as Pescas (FEAMP).
Sei que os números grandes são difíceis de conceptualizar,
mas de qualquer forma, aqui fica: de 2014 a 2020 terão sido investidos 352 mil
milhões de euros através da Política de Coesão, ou seja, 1/3 do Orçamento da
União Europeia. No período de financiamento de 2007 a 2012, por exemplo, foram
melhorados os sistemas de água para mais de 3 milhões de cidadãos; 15 milhões
de pessoas participaram nas acções de formação financiadas pelo Fundo Social
Europeu e 198 mil empresas receberam apoios directos. No caso dos Açores, entre
muitos outros, os centros de saúde, as escolas, as estradas, as selagens das
lixeiras, os alojamentos locais, os restaurantes e um etecetera muito grande foram
parcialmente apoiados pelos fundos de coesão. Os investimentos do Governo
Regional, das autarquias e dos particulares estão a receber mais de 658 milhões
de euros (total aprovado desde 2014 a Outubro de 2017) para cofinanciar
centenas de iniciativas. É muito dinheiro!
Acontece, e isto é grave, que há diversos políticos europeus
que consideram que a Política de Coesão já não é assim tão importante e
defendem o seu fim. Justificam com o facto de já não estarmos em crise, de
estarmos a canalizar verbas avultadas para projectos frágeis ou pouco
reprodutivos do ponto de vista financeiro e de haver uma baixa execução
financeira. Para que não tenham sucesso, é essencial que os cidadãos europeus
façam sentir aos seus eleitos que consideram a Política de Coesão importante.
Isso pode ser feito por diversas formas, mas irei salientar duas que me parecem
bastante simples: aderir à Aliança para a Coesão (no Google procurar “cohesion alliance”
e, se concordarem, seguir as indicações) e contar as histórias de sucesso da
Política de Coesão. Para nos inspirarmos, no nosso caso, muito provavelmente,
bastará olhar pela janela.
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