Ao abrir o Facebook reparei que o
meu número de “amigos” se tinha reduzido. Não que viva obcecado com o número de
conhecidos que tenho a mim ligados através da maior rede social do planeta, mas
acontece que estou muito perto de um número redondo o que torna este decréscimo
evidente… E, portanto, tal como a população do Corvo que, diz-se, nunca passou
das mil almas, o meu número redondo insiste em não ser ultrapassado e, para
mais, passou agora a decrescer.
Se fosse mais distraído, poderia
ficar surpreendido. Não é o caso. O mau uso dos dados dos utilizadores perpetrado
pelo Facebook, ilustrado pelo escândalo Cambridge Analytica, está a fazer com
que muitos utilizadores adiram ao movimento #DeleteFacebook e desliguem as suas
contas. Simpaticamente, alguns destes aderentes têm enviado mensagens de
despedida. Esta postura demonstra que há mesmo quem saia e, visto que
sobrevivem, demonstra também que há vida para lá do Facebook…
Tentativas de manipulação de
consciência não são de agora. Sempre as houve. Por motivos políticos, de
soberania, religiosos, profissionais ou comerciais ou fruto de amores e de
paixões, a todo o momento houve pessoas interessadas em manipular outras
pessoas. Seja mais ou menos conscientemente, desde que há palavras para serem
ditas, qualquer orador tem como fito informar, sensibilizar e, em muitos casos,
manipular quem o está a ouvir. Ao longo dos tempos e fruto do avanço tecnológico,
a transmissão da mensagem tornou-se mais complexa passando da simples palavra
para os sinais de fumo, para a argila, para a pedra, depois para o papiro,
papel, telégrafo, rádio, televisão e, agora, internet. Não há grandes
diferenças em relação ao passado. O que muda é a rapidez, a eficiência e a
abrangência.
Não há ninguém no planeta Terra
minimamente informado que não saiba que o negócio essencial das redes sociais é
vender direta ou indiretamente a nossa informação pessoal. De forma mais ou menos
estruturada, com maior ou menor detalhe, tanto o Google, o Facebook, como o
Twitter e outros analisam os nossos perfis e, cirurgicamente, colocam anúncios
“interessantes” no nosso campo visual enquanto utilizamos as suas plataformas
ou aplicações informáticas associadas.
O que se passou neste caso é que
a informação detalhada de 50 milhões de pessoas foi exportada para terceiros, a
empresa Cambridge Analytica, e estes puderam orientar publicidade enganosa que
sensibilizasse o perfil sociológico ou psicológico de cada pessoa em
particular. Aparentemente, algumas eleições e referendos foram mesmo
condicionados com este procedimento.
Não haja dúvida que o
comportamento de Facebook foi, no mínimo, irresponsável e não haja dúvida que,
de acordo com o que tem sido veiculado pela comunicação social, o comportamento
de Cambridge Analytica é criminoso, mas nós pusemo-nos a jeito. Ou seja, ao
partilhar informação privada nas redes sociais e sabendo que o negócio destas
empresas é precisamente vender publicidade orientada para o nosso perfil,
estivemos e estamos a expor-nos e a aceitar sermos orientados,
inconscientemente, para decisões que não queremos necessariamente tomar. O
pequeno-grande passo que esta associação entre o Facebook e a Cambridge
Analytica deu foi de usarem informação privada para, com base em notícias
falsas ou exageradas, condicionarem a capacidade de decisão individual em
momentos tão importantes como as eleições ou os referendos.
Agora, estando o problema
identificado, resta às autoridades judiciais fazerem o seu trabalho. Para mim,
a tarefa é estar ainda mais atento e ter, como dizia Sérgio Godinho sobre o
Casimiro, “cuidado com as imitações…”.
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