Edifício Berlaymont da Comissão Europeia em Bruxelas
Foto: F. Cardigos
Há muitos anos, integrado no
filme “A vida de Brian”, vi pela primeira vez um maravilhoso sketch dos Monthy
Phyton em que, perto do século I, uma hipotética força de resistência debatia a
invasão romana. Numa reunião clandestina, perguntavam-se “o que é que os
romanos já fizeram por nós?!”. Num conjunto de perguntas e respostas
hilariantes, a resposta automática era “nada”. Após alguma reflexão, no meio de
um total caos argumentativo, alguém dizia “o aqueduto” e outro “o saneamento
básico”. A resposta do dinamizador, passava a ser “tudo bem, tirando o aqueduto
e o saneamento básico, digam-me lá o que é que os romanos já fizeram por
nós?”. Alguém de imediato acrescentava “as estradas”. O sketch continuava num
crescendo alucinado que me agrada bastante e aconselho. Enfim, a conclusão é
que, de facto, apesar da resistência local, os romanos tinham constituído um enorme
avanço civilizacional.
Numa adaptação também hilariante,
em 2016, e como ação de campanha pela manutenção da Grã-Bretanha na União
Europeia, alguém enumerou algumas das vantagens desta estrutura. As vantagens
para a Grã-Bretanha eram “57% do comércio”, “estabilidade económica e
comercial”, “combate aos monopólios”, “ar e mares menos poluídos”, “proteção do
ambiente”, “bem-estar animal”, “proteção dos direitos dos trabalhadores”,
“férias pagas”, “viagens baratas”, “cuidados de saúde”, “educação”, “ciência”,
“vinho”, “combate anti-terrorista”, “restrições a fumar em lugares públicos
fechados ou locais de trabalho” e a “paz”. Mesmo assim, o resultado do referendo foi o que
se viu… A minha conclusão é que, de facto, há uma certa propensão involuntária para
ignorar as partes boas e realçar abundantemente o menos bom. Qual a
responsabilidade dos órgãos de comunicação social, das redes sociais e de
políticos populistas neste estado de coisas é algo que merecerá reflexão, mas
não agora.
Neste momento, muito poderia ser
dito sobre a União Europeia e o seu papel. Irei apenas salientar dois factos
que aconteceram precisamente na semana passada: o Regulamento Geral de Proteção
de Dados Pessoais entrou em vigor e foi proposta a proibição de uso massivo de plásticos de utilização única (vulgo “palhinhas e cotonetes”). São
duas ações meramente exemplificativas por serem recentes e com cruciais
consequências para o nosso bem-estar pessoal e ambiental.
A primeira ação, o Regulamento
Geral de Proteção de Dados Pessoais, entre outras obrigações, impedirá que empresas
e organismos públicos detenham e utilizem os nossos dados pessoais sem a nossa
autorização. É um enorme passo civilizacional e que abala os gigantes
informáticos, como o Facebook e o Google, e liberta a nossa caixa de correio
eletrónico. No entanto, o ponto essencial é que a nossa privacidade, que tem
sido desprezada e violentada nos últimos anos, acaba de ganhar uma nova importância.
A proibição de uso massivo de
plásticos de utilização única é mais uma visionária ação da União Europeia. Reconhecendo
que a proliferação dos microplásticos nos oceanos pode colapsar a vida tal
como a conhecemos, incluindo a nossa, a Comissão resolveu propor acabar com o
mal pela raiz, limitando em muito o uso de plásticos. Muito bem!
No ano passado, tive a
oportunidade de ouvir cientistas turcos falarem sobre qualidade ambiental. Na
sua palestra referiam-se abundantemente aos pontos de referência da “Diretiva”
para a qualidade da água. Fiquei surpreendido porque não esperava que tivessem
regras ambientais de tão alto-nível dedicadas à qualidade da água. No final,
abordei-os e perguntei há quanto tempo tinham aprovado estas regras ambientais.
A resposta não foi menos surpreendente, “não aprovamos”, “usamos as da União
Europeia”.
A Comissão Europeia é o órgão executivo da União Europeia e tem cerca 32 mil funcionários.
Estes trabalhadores constituem o corpo central que edifica e organiza a ação
conjunta de 28 Estados com consequências positivas que se estendem muito para
além das nossas fronteiras. Em muitos aspetos, a visão, leis e resultados da
União Europeia apontam caminhos e soluções que, com o tempo, passam a ser
globais.
Independentemente de outros
detalhes relevantes como os expostos acima, o investimento na União Europeia é
um apoio fundamental para a liberdade, para a livre circulação e para a paz. Se
nada mais houvesse, para mim, estes pontos já valiam os 1,14% do PIB com que cada
Estado contribui para o seu orçamento.