Concerto no Parque
Por Frederico Cardigos
Há uns dias atrás, atraído pela música, entrei num dos
muitos parques de Bruxelas. Outrora o cemitério de Etterbeek, o Parque de
Georges Henri foi transformado em local de lazer e é hoje disfrutado por
centenas de pessoas mal o Sol desponta um pouquinho. Outra curiosidade deste
parque, é ter ganho o nome da avenida que lhe é contígua, a avenida Georges
Henri, e esta obteve o nome como homenagem aos filhos do proprietário que foi
expropriado para esta ser construída. Uma abordagem curiosa.
Neste final do dia que mencionava no início deste texto, no
parque havia uma banda musical que ajudava a celebrar a geminação entre a Commune de Woluwe Saint Lambert com a
cidade francesa de Meudon. Uma nota para explicar que uma Commune é uma divisão territorial belga que tem uma dimensão entre
uma câmara municipal e uma junta de freguesia em Portugal. Léopold Nord &
Vous, mais tarde acompanhados por Philippe Lafontaine, animaram o anoitecer com
músicas bem conhecidas da maioria das pessoas que assistiam, como pude
comprovar pelo acompanhamento empenhado e permanente. Foi um serão bem passado,
até para mim que ali não conhecia por ali ninguém.
Escrevo sobre este assunto porque sinto que aqui em Bruxelas
há permanentes possibilidades de participação. Por iniciativa das Commune, mas também das diferentes
organizações, governamentais ou não, há sempre atividades bem variadas. Há até
organizações especialistas em orientar os recém-chegados para as ações mais próximas
dos seus interesses. Claro que qualquer pessoa se pode queixar de solidão, mas
quebrá-la, aqui, está, de facto, a palmo e meio de distância.
Ajuda a esta mobilização o facto de a maioria das decisões
administrativas serem alvo de discussão pública ou, no mínimo, de informação
prévia. Por exemplo, há umas semanas, a Commune
decidiu construir uma passagem para peões na rua em que habito quando estou em
Bruxelas. Eu soube disso com muitos dias de avanço porque uma informação
especial da Commune tinha sido
distribuída pelo correio, explicando aí os detalhes da intervenção e lamentando
o incómodo. Não custa nada e fica bem.
Penso que, para além do que certamente mandará a lei, há
aqui a noção que envolver os cidadãos no processo de decisão ou acompanhamento é
uma forma adicional de promover informação sobre o benefício da obra e dar
visibilidade a quem a dinamiza. Uma coisa é certa, são muitas obras!
Como resultado desta mobilização motivada pelas diferentes
administrações e organizações, nasceu um espírito de participação muito activo.
Quando sentem que podem fazer diferença, os belgas de Bruxelas mechem-se. Uma
das mais expressivas ações de mobilização esteve relacionada com a alteração de
rotas com que os aviões deveriam abordar o aeroporto de Bruxelas. Entre os que,
vítimas do barulho, queriam que se alterassem as rotas e os que, com medo do
mesmo barulho, desejavam que não se alterassem houve uma discussão que incluiu até
enormes bandeiras nas varandas.
Na minha organização mental, a participação cívica tem três
níveis. A participação passiva, aquela que nos leva a ver um jogo de futebol no
estádio ou ouvir uma ópera no São Carlos, a participação ativa, é aquela que
nos leva a participar num workshop, numa organização partidária ou a,
simplesmente, escrever um artigo de jornal, e, por último, há a participação
liderante. Neste último caso, o cidadão, por exemplo, dirige uma ação, monta
uma exposição ou funda uma organização não governamental. Nalguns momentos da
nossa vida, quando estamos deprimidos, não queremos saber de participação.
Noutros, de acordo com a motivação, aventuramo-nos até a liderar ou fundar
movimentos. Seja qual for a forma ou o momento, o importante, e é mesmo
importante, é participar!
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