segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Crónicas de Bruxelas: 31 - A Caminhada da Vida


Vai ser um dia com uma brilhante luz do Sol
Foto: F Cardigos

Ao sair de casa, no carro, liguei o rádio e a estação Classic 21, talvez uma das emissoras mais conhecidas de Bruxelas, emitia o clássico dos Dire Straits, Walk of Live. No exterior, ao Sol que quase cegava misturava-se um frio penetrante. Ao som da música, trauteava a letra, “He got the action, he got the motion, Oh yeah, the boy can play…”, até que passou para os versos seguintes e isso desacelerou-me o cérebro. Dedication, devotion, Turning all the night time into the day”. “Dedicação, devoção, transformando todo o tempo de noite no dia seguinte”. A tradução é minha e, como se pode perceber, é uma tradução livre, ou seja, poderia ser diferente. É uma tradução mais emocional do que literal. A tradução de poesia é uma arte e muito longe estou eu de pretender que esteja ao meu alcance.
Transformando as trevas escuras e turvas da noite na claridade e felicidade do dia… Passando da tristeza e sombras da noite para a verdade científica escorreita, precisa e alegre do dia seguinte. Foi aqui que o meu pensamento ficou às voltas. Desliguei-me desta música e fui transportado para uma outra, usada num anúncio de boa memória, “I can see clearly now the rain is gone, I can see all obstacles in my way, Gone are the dark clouds that had me blind, It's gonna be a bright, Bright sun-shining day”, imortalizada por Jimmy Cliff . Não é fácil cantarolar uma letra com outra música de fundo. Apaguei o rádio e deixei-me ir…
Aquilo que o meu cérebro me estava tentar dizer, acho eu, é que por muito grande que seja a dificuldade (“rain”) e por mais intransponível que pareça o problema (“dark clouds”) vai haver um momento em que voltaremos a saber lidar com os obstáculos no caminho (“I can see all obstacles in my way”) e ficaremos bem (“It's gonna be a bright (…) sun-shining day”). Eu e o meu cérebro, por vezes, temos dificuldades de comunicação, mas penso que era esta a mensagem que me foi inicialmente suscitada pela Caminhada da Vida dos Dire Straits.
A verdade é que, no meu caso, já me vi em encruzilhadas aparentemente sem solução (“Dire Straits”, curiosamente) e, com dedicação ou mesmo devoção (“Dedication, devotion”), elas dissiparam-se. Umas vezes transformando-se em novas dificuldades, diga-se, outras em dias felizes (“Here is that rainbow I've been praying for”).
É esta a caminhada da vida. Umas vezes incompreensivelmente apanhados pelas contingências maléficas de algo que não dominamos e, outras, surpreendidos pela felicidade com que somos bafejados. O único remédio, quando apanhados em tais contingências, pelo menos no meu caso, é trabalhar e lutar. O único remédio é sorrir e virar a cara para o vento deixando a água salgada bater-nos na cara e dizer que não temos medo, mesmo que estejamos apavorados. É enfrentar a impossibilidade de vitória com a certeza que o final de tudo ainda está muito longe e novas e gloriosas oportunidades estarão por surgir. É cantar cada derrota como se de uma epopeia se tratasse e olhar para cada vitória com uma saborosa humildade. Esta é a caminhada da minha vida e a mensagem é sempre It's gonna be a bright, Bright sun-shining day, mesmo que não faça qualquer ideia de como lá chegar.
Vai ser um dia com uma brilhante luz do Sol, vai mesmo!

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