segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Crónicas de Bruxelas: 38 - Alto como o castelo do Lichtenstein


Castelo de Lichtenstein
Foto: F Cardigos

Uma das coisas agradáveis de que usufruem os expatriados de Bruxelas é da proximidade a diferentes países e realidades. Assim, é prática comum aproveitar os finais de semana para sair da cidade de Bruxelas e visitar algumas das cidades históricas, como Bruges ou Gent, ou ir mesmo até a um dos países vizinhos.
Foi com este espírito que arranquei no sábado de manhã. Havia um pequeno detalhe… eu não sabia para onde ia. Sabia que ia, mas não tinha destino definido.
Ao levantar, tinha colocado uma muda de roupa na mochila, pegado no estojo de casa de banho e parti esquecendo-me do pequeno detalhe: qual o destino? Depois de avançar uns quantos quilómetros, considerei que já era irresponsabilidade a mais e peguei no telemóvel para inserir um qualquer destino. Calhou que o dedo premiu a letra “L” e fez-se luz. Eu não conheço o Principado do Liechtenstein… É para aí que vou!
Como a idade não perdoa e a vista já não é a mesma, houve um outro pequeno detalhe que me escapou. É que, em vez de escrever “Liechtenstein” escrevi “Lichtenstein”. A diferença é pouca em termos de quilómetros, como notei ao chegar ao não-destino, é de apenas 150, mas num país diferente!
Por sorte, o Lichtenstein, na Alemanha, é uma aldeia simpática, inserida num enclave montanhoso e que, no topo, tem um castelo com uma história interessante. Em poucas palavras, aquele castelo não existia até que um escritor o imaginou e plasmou num romance. O Conde de Urach, depois Duque, achou tanta piada à história que tomou a decisão de construir o castelo. Ele lá está, sobranceiro e lindo desde meados do século XIX! Agora, à noite, o castelo fica iluminado, parecendo flutuar como um sonho de príncipes e princesas, dragões e outras entidades místicas e míticas que para ali saltarão vindas diretamente de uma ópera épica de Wagner.
Pego nesta história do Lichtenstein versus Liechtenstein para introduzir um outro tema, mais relevante: a coincidência de nomes em geografias diferentes. É que na Europa existem muitos outros casos de nomes similares para regiões e países. Por exemplo, o Luxemburgo é um país e também uma região do Sul da Bélgica.
Por essa razão, não entendo o desconforto da maioria do povo grego com o nome acordado entre os dois países para o novo país que fica a norte da Grécia: “República da Macedónia do Norte”. Digamos que, na minha perspetiva, o nome ser coincidente com uma região do norte da Grécia, a Macedónia, é até uma feliz coincidência. Muitos gregos é que não acham piada nenhuma…
Imaginem que, nos Açores, começávamos a implicar por causa de todos os nomes coincidentes que existem dentro da região. Santa Cruz, Lajes e Ponta Delgada, para já não falar em Matriz, são apenas alguns dos nomes que se repetem pelo arquipélago confundindo turistas e criando ligações entre os habitantes desses locais. A mim, parece-me, que havendo tantos problemas no mundo realmente relevantes, este será um verdadeiramente secundário.
Se nos detemos e nos manifestamos por questões tão irrelevantes como a coincidência de um nome, por que razão não o fazemos mais vezes por problemas realmente importantes como a paz, a democracia, a tolerância, a liberdade de expressão, o clima, o ambiente, entre tantos outros?
Caso o nome Lichtenstein não estivesse foneticamente perto de Liechtenstein, eu jamais teria conhecido o castelo do Lichtenstein e a sua interessante história. Portanto, vejo na Macedónia mais uma oportunidade do que um problema. Mas isto, lá está, sou apenas eu a pensar alto. Alto como o castelo do Lichtenstein!

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