segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Crónicas de Bruxelas: 37 - Caio Appuleio Diocles


Painel de azulejos com Caio Appuleio Diocles localizado na Praça da República em Lamego.
Foto de Biblioteca Pública de Lamego


Na minha perspetiva, desporto é a prática de atividade física saudável sem estar necessariamente relacionada com espetáculo e competição. No entanto, desde tempos imemoriais que as modalidades olímpicas ditas desportivas se tornaram num espetáculo incontornável. A partir do meio do século XX, o desporto ganhou mais duas dimensões: a promoção de bem e serviços e a remuneração individual.
É do domínio público que Pauleta, quando comemorava os seus inúmeros golos, abria os braços, imitando um felicíssimo açor, fazendo assim uma homenagem aos Açores e promovendo a sua terra natal. Em relação às remunerações, no nosso espaço nacional, pensamos imediatamente em Cristiano Ronaldo, mas, a nível internacional, há uma pessoa que eclipsa os seus ganhos. Falo do golfista Tiger Woods. Terá ganho prémios e receitas acumuladas na ordem dos mil milhões de dólares.
Hoje, o desporto serve hoje para promover produtos, serviços e destinos e as remunerações são verdadeiramente extraterrestres. Ao escrever, hesito... Será mesmo apenas desde meados do século passado? Ou seja, será assim tão recente esta dupla vertente do desporto?
Quis saber mais e procurei quem primeiro promoveu o nosso território e quem foi o desportista mais bem pago de todos os tempos. Tive que recuar um pouco. Sem ser demasiado exaustivo, passei a idade contemporânea, o modernismo, o renascimento, a idade média e “aterrei” no período romano. Tropecei numa figura ilustre, mas até então para mim um total desconhecido, Caio Appuleio Diocles.
Este condutor de quadrigas saiu da terra que o viu nascer, foi para Lérida e, depois, para Roma. Em Roma teve um sucesso indescritível mesmo para os nossos tempos. Ganhou um quarto das corridas em que participou e, nas restantes, ficou nas posições cimeiras. Todos o tratavam por Lamecus, em homenagem à sua cidade natal, Lamego.
Não é fácil determinar quanto dinheiro ganhou em termos comparativos este bravo Lusitano. Felizmente, um cientista tratou desse assunto. O grande problema era averiguar a quanto equivaleriam hoje em dia os 36 milhões de sestércios que acumulou na sua carreira. Para o determinar, o Professor Peter Struck verificou por quanto tempo conseguiria Caio Appuleio Diocles pagar ao exército mais poderoso da sua época: o exército romano.
De acordo com os cálculos do Professor Struck, Caio seria capaz de pagar este exército por mais de dois meses no auge do Império. Fazer um pagamento deste género ao exército dos Estados Unidos da América, o mais poderoso da atualidade, custaria 15 mil milhões de dólares. Portanto, os rendimentos do Lusitano pulverizam os rendimentos do Tiger Wods!
O Professor Peter Struck calculou ainda por quanto tempo conseguiria Caio suprir a necessidade de alimentos na maior cidade daqueles tempos, Roma. Chegou à conclusão que poderia pagar os cereais necessários à cidade eterna durante um ano inteiro. Imagine-se o que seria fazer o mesmo para os 24 milhões de habitantes de Shanghai dos nossos dias?!
Por outras palavras, um atleta daquilo que é hoje geograficamente a União Europeia teve rendimentos acumulados equivalentes a 15 vezes os rendimentos do atleta mais bem pago do mundo da atualidade. Concluindo esta pequena e superficial pesquisa, o primeiro desportista a promover uma terra portuguesa, nesse tempo ainda bem longe de se chamar Portugal, quase se perde nos confins da História e o desportista mais bem pago de todos os tempos é exatamente a mesma pessoa, é lusitano e de seu nome Caio Appuleio Diocles, o Lamecus!

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