"A partir da Quinta de São Pedro, olho para os Açores e contemplo esta nossa Europa"
Foto: F Cardigos
Escrevo estas linhas na ilha de
São Jorge, de fronte para o Pico e Faial. No coração do Triângulo, a partir da
Quinta de São Pedro, olho para os Açores e contemplo esta nossa Europa.
Início esta pequena reflexão
frisando que considero que na Europa Ocidental se vive, em termos médios, muito
melhor do que no resto do mundo. Este é um facto que não me merece discussão,
mas merece justificação, para os que tiverem dúvidas.
Parece-me indiscutível que se
vive melhor na Europa Ocidental do que noutros locais por múltiplas razões, mas
irei apenas destacar três: liberdade de expressão na imprensa, direitos legais das
mulheres e qualidade ambiental.
Na Europa há liberdade de
expressão e essa pode ser medida de diversas formas. Por exemplo, recentemente,
já em 2019, os Repórteres Sem Fronteiras publicaram o seu índice de liberdade
de expressão na imprensa e, lá estão, os países europeus nos primeiros lugares.
Nos dez primeiros estão 7 países europeus. A diferença para a Europa Oriental está
patente e percebe-se, atendendo ao crescimento dos extremismos de direita e dos
regimes intolerantes. Polónia e Hungria ocupam posições muito pouco honrosas o
que ajuda a justificar a minha decisão de separação entre a Europa Ocidental e
Oriental.
De acordo com o Banco Mundial,
apenas 6 países respeitam da mesma forma homens e mulheres do ponto de vista
legal. São eles, Bélgica, Dinamarca, França, Letónia, Luxemburgo e Suécia. Sem
surpresa, todos da Europa Ocidental, com exceção da Letónia.
Em termos de poluição, é certo
que nem tudo é perfeito na Europa Ocidental. Por exemplo, sabemos que a
poluição atmosférica é maior em Londres, Paris e Bruxelas do que noutras
geografias. Sabemos disso e lutamos ativamente para a reduzir, abdicando
progressivamente das viaturas mais poluentes no centro das cidades e coartando
o espaço ao diesel, entre outras medidas de promoção de soluções ambientalmente
satisfatórias.
Ao reduzir o uso do plástico
descartável, a União Europeia apontou caminhos que outros tentam seguir, da
mesmíssima forma como já o tinha feito ao nível da qualidade da água e do ar. Num
encontro internacional em que estive há dois anos atrás, as autoridades turcas
admitiam que usavam os indicadores e limites das diretivas europeias relativas
à qualidade ambiental. Na Turquia não havia transposição ou legislação própria,
apenas o uso direto da legislação europeia. Penso que é um sinal muito evidente
de confiança no combate em prol do ambiente que se faz na União Europeia.
Nos dois primeiros itens que
refiro neste texto (liberdade de expressão na imprensa, direitos legais das
mulheres), Portugal ocupa a décima segunda posição. É um bom posicionamento,
claro, mas que, como todos sabemos, ainda não nos pode deixar satisfeitos. Deve
fazer-nos sentir orgulhosos e imbuídos da responsabilidade de quem aponta o
caminho.
Em relação aos plásticos de uso
único, não tenho dúvidas que faremos rapidamente a transposição da Diretiva
europeia, mal esta seja publicada. Para além dos governos portugueses serem
“bons alunos”, temos uma opinião pública, particularmente os mais jovens, que
exige medidas rápidas e consequentes a nível ambiental.
Usei os temas mencionados atrás
para provar que se vive melhor na Europa Ocidental do que no resto do mundo.
Este conforto tem um preço. Exige que haja uma regulamentação mais exigente e
uma fiscalização permanente, que não dê espaço ou tempo a excessos ou
falcatruas. Para proteger os valores que mencionei atrás e outros é necessário
um trabalho constante.
Olho para outras geografias e
tento compreender quais são as mais-valias da Europa Ocidental que nos garantem
a manutenção destes valores. Encontro um conjunto de elementos que me parecem
ser importantes: a União Europeia, que garante a ação conjunta e a
regulamentação, a NATO, para garantir a paz, o euro, para garantir a
estabilidade económica e financeira, a tolerância, para que todos tenham espaço
para expressarem as suas convicções em liberdade, e a educação, que desenvolva a
cultura, a competência e valores tais como a exigência, a honestidade, a
integridade, o respeito pela lei e por um sistema de justiça independente e a
verdade escorreita e transparente. São estes os ingredientes que construíram a
Europa Ocidental no pós-guerra e, na minha opinião, devem continuar a ser
prioridades. Ou seja, para mim, qualquer aventura político-partidária que saia
destas premissas não terá o meu apoio.
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