Paisagem florestal em Bruxelas (Woluwe Saint Lambert)
Foto: F Cardigos
Há poucos programas que eu veja na televisão em direto, aqui em Bruxelas. Um noticiário ou outro, futebol, sim, e um programa dominical chamado “Le Jardin Extraordinaire”. Este programa documental é emitido desde 1965 ininterruptamente. Juntamente com o telejornal, é a emissão mais antiga de uma das televisões belgas francófonas, a RTBF.
Todos os domingos a seguir ao telejornal, o jardim extraordinário expõe uma mistura entre histórias do mundo natural belga e do resto do mundo. Normalmente, parte de um assunto local que, depois, serve de mote para um olhar mais alargado. Para além de ilustrar a beleza da natureza, apela para o seu conhecimento e conservação. É um programa muito bem realizado, com boas imagens e com profissionais de bom nível, tanto os cientistas, que explicam os detalhes ilustrados, como os repórteres de vida selvagem, que partilham os métodos e as emoções que acompanharam a recolha de imagens.
Nestes dias de confinamento, a equipa televisiva belga não pode sair para o campo. Aliás, um dos membros esteve mesmo nos cuidados intensivos (felizmente, já saiu e está em boa recuperação). Solução? Convidaram os telespectadores a enviar as suas próprias imagens do mundo natural obtidas nos seus jardins ou imediações de suas casas. Ou seja, um programa de observação do mundo natural feito a partir da casa dos telespectadores a quem se destina. Corresponderam ao desafio pessoas que vivem em casas com generosos jardins, mas também casas mais modestas ou mesmo apartamentos!
Alguns participantes admitiram que apenas o confinamento os incitou a olhar para o mundo natural que estava ao seu redor. Em todos os espaços foram descobrir pequenas maravilhas. Desde a pequena lagarta até às galáxias no céu, passando por uma miríade de espécies de aves, mesmo galinhas, ratos, esquilos, caracóis, ouriços, raposas, veados… Incrível. Algumas pessoas estavam equipadas com material de topo, com aquelas objetivas fotográficas enormes e material de camuflagem que criava disfarces que mimetizavam perfeitamente a paisagem em volta. Outros obtinham imagens e histórias engraçadas com simples telemóveis e boa disposição.
Num dos casos, uma das pessoas contava como os pássaros no seu quintal vinham ter com ele. A esposa testemunhava, com imagens, como pousavam em cima dele, aparentemente descansando um pouco, e, depois, partiam sem qualquer explicação aparente.
Noutro caso, um dos contribuintes enviou uma história que, na realidade, já tinha começado há uns tempos, mas que se prolongou agora pelo período de confinamento adentro. Um pequeno veado bebé apareceu no seu quintal há uns meses. Percebendo que estava ali por engano, provavelmente perdido dos pais, enxotou-o carinhosamente tendo esperança que encontrasse o seu caminho. A partir daí, o veado passou a vir visitá-lo de tempos a tempos. O mais impressionante foi quando mudou as presas. Veio até ao seu quintal e “fez questão” de as partir numa árvore e assim “oferecer” ao seu incrédulo benfeitor.
O desafio teve uma adesão interessantíssima, com histórias encantadoras e didáticas. O jornalista e responsável pela emissão, Tanguy Dumortier, conseguiu emocionar os seus telespectadores, como eu. Como o formato não era o habitual, chamou-lhe “Notre Jardin Extraordinaire”. E não é que era mesmo?!
Que bela ideia! Os Açores também podiam participar, temos belos paraísos particulares e públicos. Será que existe a possibilidade de ver on-line? Talvez numa aplicação do canal, tipo RTP Play?
ResponderEliminarCara Rita, o episódio em causa pode ser visto aqui: https://www.rtbf.be/auvio/detail_le-jardin-extraordinaire?id=2621324
EliminarObrigada Frederico! Abraço
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