sexta-feira, 8 de abril de 2022

Voo do Cagarro - 22: Não esquecer a Ucrânia

Cores da Ucrânia em frente da embaixada da Rússia em Bruxelas.
Foto F Cardigos
 
Até no futebol, esse “jogo praticado por vândalos”, quando um jogador agride outro, é expulso. Simples, não é? A violência, sem ser em legítima defesa e consequência de um ato violento, é condenada por qualquer sociedade decente.
É por esta razão que condeno, sem hesitação, a invasão da Ucrânia perpetrada pelo Governo da Rússia. Os agressores, liderados por Putin, atuam de forma não provocada e estão a condenar à morte e ao sofrimento milhares de pessoas, incluindo muitas no seu próprio país.
Estaria tentado em afirmar que isso não acontece no mundo livre. Mas será mesmo assim?
Acontece que há uns dias, um ator, a que chamarei simplesmente de Smith para não lhe dar importância, durante uma cerimónia pública, agrediu um humorista quando este estava simplesmente a fazer humor. Às palavras respondeu com uma agressão física.
É evidente que a dimensão é incomparável com o que se passa na Ucrânia até porque o nível de sofrimento gerado é totalmente distinto. Dito isto, na sua génese está o mesmo ponto ético: agressão física como resposta a atitudes não beligerantes.
Consequência deste ato, o Smith, que não merece título, deveria ter sido imediatamente detido para se explicar perante as autoridades. Mas os organizadores do evento resolveram, afinal, pedir-lhe delicadamente que saísse.
O Smith considerou que não tinha de abandonar o local e não abandonou. Ninguém se lembrou de o retirar da sala. Antes pelo contrário, perante o amuo do agressor, deram-lhe um prémio e aplaudiram-no de pé. Parece surreal, não é?! Mas aconteceu num dos eventos televisionados mais vistos do mundo, a cerimónia dos Óscares da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, nos Estados Unidos da América.
Responder a palavras com violência e sair incólume apenas pode acontecer em sociedades doentes. De facto, nos EUA, as pessoas podem andar armadas na rua. Perante isso, compreendemos facilmente que há problemas muito profundos e este caso, a agressão bárbara do Smith, é apenas mais um.
No ano de 2020 houve mais de 21 mil mortes violentas nos Estados Unidos da América. Naquele país, o nível de violência é tão elevado que, em alguns locais mais complicados, se poderia considerar estar em guerra civil.
Os Estados Unidos da América, com a sua complacência com o uso de armas e a tolerância perante a violência estão em centésimo vigésimo quinto lugar no índice de países mais pacíficos (segundo o Global Peace Index). Em sentido contrário, Portugal é o terceiro país mais pacífico, logo a seguir à Islândia e Nova Zelândia.
Sinto-me feliz no meu país tranquilo e pacífico. Temos as nossas quezílias com os Espanhóis, é certo, mas ninguém com juízo pensa em invadir Olivença, assim como os nossos vizinhos não tomam de assalto as águas em redor das Selvagens. Antes pelo contrário, como no Couto Misto, valoriza-se a dupla herança cultural de lusos e galegos em atos dignos que já chegaram ao Parlamento Europeu. Gosto de tantas coisas em Espanha espanhola que jamais me passaria pela cabeça em a tornar portuguesa. A diversidade é linda!
É esta paz ativa e curiosa, de olhos bem abertos em contemplação da diferença, que me fazem entristecer ainda mais com o que se passa na Ucrânia e, noutra dimensão, mas com a mesma génese, na gala dos Óscares. Como seres humanos, conseguimos fazer muito melhor, tenho a certeza!

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