No momento em que redijo estas linhas estou entre empregos. Felizmente, as coisas estão bem encaminhadas e é natural que tudo esteja resolvido em breve. A posição para que estou a concorrer fica a 220 quilómetros do sítio onde habito e isso irá exigir mobilidade acrescida. Ou seja, a minha bicicleta, apesar de espetacular, não será suficiente.
Comecei a estudar as diferentes possibilidades e, sendo ambientalista, concluí que o comboio será uma belíssima solução. No entanto, gostaria de ter uma alternativa de emergência, que pudesse usar a qualquer momento do dia ou da noite. Isso significa que terei de adquirir uma viatura e, claro, terei de optar por um carro elétrico. Agora, o problema é que o carro que eu quero não existe. Preciso de um automóvel com cerca de 500 quilómetros de autonomia real (por redundância e por causa do ar condicionado no Inverno), com baixo consumo, seguro, minimamente confortável e barato. Não há.
Portanto, lanço o desafio a todas as marcas de automóveis para criarem rapidamente um veículo com estas características: elétrico, autonomia superior 500 km WLTP, consumo inferior a 20 kWh, cinco estrelas Euro NCAP, mínimo de 4,3 m de comprimento, novo e tudo isto por menos de 25 mil euros. O prémio será… venderem o carro!
A este concurso dou o nome de “Desafio de Mobilidade Elétrica Ucrânia”. Porquê “Ucrânia”?! Porque este país está a ser barbaramente invadido pelo Governo e Forças Armadas da Federação Russa e merece ser sempre relembrado. Além disso, para nos livrarmos dos combustíveis fósseis, como os que alimentam a máquina de guerra russa, temos de optar por soluções elétricas ou equivalentes.
Há motivos para animação no mundo da transição verde. Depois da Comissão Europeia ter dado o mote com o Pacto Ecológico Europeu, os diferentes níveis de planeamento e decisão têm aderido. Para além das instituições europeias, em Portugal, também o Governo da República, os governos regionais e as autarquias têm-se mobilizado para responder ao enorme desafio. Mesmo no mais pequeno Concelho do país...
Por organização do projeto LIFE CLIMAZ (financiado pela Comissão Europeia e implementado pelo Governo dos Açores e parceiros), tive oportunidade de visitar o Parque Solar da EDA Renováveis na Ilha do Corvo. Neste preciso momento, o projeto já está funcional, embora ainda em fase experimental. Apesar disso, já debita para a rede 15 kW durante o dia e tem um potencial de crescimento até aos 75 a curto prazo e 150 kW com a instalação dos equipamentos já planeados.
Tendo em consideração que o consumo do Corvo é de cerca de 120 kW durante o chamado período de “vazio” e 290 kW no período de “máximo”, a produção solar já tem expressão e um potencial para ser muito significativa no futuro. Acresce que está também planeada a instalação de um conjunto de baterias que permitirão economizar no período de vazio e debitar no período de carência, mas, igualmente importante, amenizar os períodos com excesso de consumo pontual e estabilizar a frequência.
Saí do Corvo voando para o Faial.
Um dos engenheiros da EDA, corrigindo dados mais otimistas que eu tinha do passado, disse-me que “Um parque eólico demora 10 a 11 anos a pagar-se, incluindo investimento e manutenção. Estes não são dados de estimativa ou planeamento, são observações que resultam da nossa experiência.” Isso levou-me a querer voltar ao Parque Eólico do Faial, em Pedro Miguel.
Zaaag-zaag-zaaag… Fiquei ali a ouvir o lento, mas firme movimento daqueles moinhos modernos e monstruosos com vista privilegiada para o Pico. Zaaag-zaag-zaaag… Dada a idade deste parque eólico, cada voltinha daquelas enormes turbinas é lucro! Energia limpa e lucrativa… Zaaag-zaag-zaaag…
Lembrei-me das sábias palavras que o Sr. Mário Fraião outrora me disse neste mesmo local, “é como olhar para o futuro”… O mundo do futuro precisa de pessoas de mudança como o foi o fundador do jornal Tribuna das Ilhas. Custa? Claro que custa e não é pouco! Há que alterar comportamentos e isso inclui recusar as energias fósseis, reduzir os consumos, colaborar na reciclagem, dinamizar o mercado de proximidade e pagar pela pegada ecológica do dano que não conseguimos evitar. Ou seja, há que optar por soluções sustentáveis!
Zaaag-zaag-zaaag…
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