Sinto que cada vez que aprendo
alguma coisa me torno mais feliz. Quando essa aprendizagem resulta de uma procura,
pesquisa ou experiência, o gosto é ainda maior. Provavelmente, um pedagogo diria
com maior propriedade, mas sinto que a aprendizagem que resulta de uma iteração
com uma enciclopédia, da conversa com quem sabe mais ou da aplicação do método
científico tem um sabor acrescido.
Há descobertas simples e passivas,
como as que resultam da descoberta de um enredo no final de um filme, e outras,
ultra-complexas, como as que resultam do percurso da investigação científica
dirigida. O êxtase da descoberta após longo e árduo trabalho levou inclusivamente
ao cunhar da expressão “Eureka!”.
Entre os dois extremos, entre a
descoberta passiva e a procura estruturada da verdade, há muito daquilo que nos
acontece no dia a dia e nos fascina, por vezes de forma deliciosa. Aquilo que
apelidei em tempos de “momentos perfeitos”.
Por vezes, colocamo-nos propositadamente
em modo de aprendizagem, mas sem seguir uma qualquer metodologia científica. Isso
acontece, por exemplo, ao entrarmos num museu. Estamos à procura de novas
informações, mas, muitas vezes, nem sequer sabemos o quê com precisão.
No meu caso, quando visito um
museu, tenho em vista, na maioria das vezes, preencher uma determinada falha no
conhecimento, mas, ao mesmo tempo, tenho também a expectativa de tropeçar em
outras pequenas ou grandes epifanias.
Quando, ainda menino, pela
primeira vez entrei no Louvre, em Paris, queria ver “A Gioconda”. Era o meu
único objetivo. Claro que fui esmagado pelos quilómetros de corredores com
muito do melhor que já fez a espécie humana e fiquei altamente desapontado com
a pequenez, escuridão e distância a que pude observar a obra de Leonardo da
Vinci. Tudo o resto era grandioso, transmitia emoções de diversa índole, tinha
histórias associadas que nos faziam sonhar, mas “A Gioconda”… Nada.
Outras vezes, o objetivo é
atingido com aquilo que chamo, inspirado no jogo da canasta, “o florão”.
Estamos à espera de algo muito bom e aquilo que sentimos acaba por estar muito
acima.
Lembro-me que, quando visitei o
museu do Vaticano, tinha como um dos grandes objetivos ver a “Capela Sistina”. Ao
chegar à capela fiquei imediatamente deslumbrado com o esplendor dos frescos de
Miguel Ângelo que embelezam o teto e que foram magnificamente recuperados. Até
aí, ainda poderia ser expectável. O que não esperava de todo é que um dos
monges presentes na sala começasse a cantar. Que bonito! Invadiu-me o coração
uma paz e uma tranquilidade sem par. A obra de arte, ou seja, a “Capela Sistina”,
ganhou uma dimensão inesperada. O conhecimento adquirido não é daqueles que viesse
a utilizar quotidianamente, mas a harmonia extasiada que senti foi-me muito
útil até para entender o que significam as palavras “paz interior”.
Cada vez mais, ao voar por aí
como um cagarro sem falésia, entendo o valor de viajar leve, contentando-me em
transportar pouco, a não ser o conhecimento e o acesso ao mesmo. Saber resolver
raízes quadradas, saber navegar usando as estrelas, ter a capacidade de
mergulhar por esse oceano adentro ou lembrar-me do som das notas da Aria das “Variações
Goldberg” de J.S. Bach. Esses são os verdadeiros prazeres que a vida me dá e,
de forma quase gratuita, pode dar a qualquer um.
Essa é uma das vantagens do tempo
presente. O conhecimento é cada vez mais acessível.
Quer aprender a pilotar um avião?
Descarregue um bom simulador no computador e, em poucos dias, estará a voar. É
fácil? Não! Eu já tentei e compreendi que, para pilotar a sério, mesmo num
simulador, é preciso estudar e treinar, mas é possível. Passar do simulador
para o mundo real custa dinheiro, muito dinheiro, é certo, mas a fase 1 desse
processo está a uma vontade de distância.
Quando morremos, nenhum dos
objetos que colecionámos na vida irá connosco. Há quem diga que o conhecimento
e as memórias da vida na Terra flutuarão misteriosamente com a nossa alma em
locais etéreos como o paraíso ou o purgatório. Não acredito nisso, mas não
tenho provas que o possam negar.
Tenho a certeza, porém, de que, após
a morte, restarão de nós as memórias que cultivámos nos restantes. É por isso
que artistas, como os que mencionei acima, estarão sempre connosco. Souberam
gerar memórias que perdurarão enquanto houver inteligência para as apreciar. Saibam
as pessoas de bem procurar estas obras, apreciá-las e conservá-las, garantindo
que estarão disponíveis para as gerações seguintes.
Que se perpetue a aventura do
conhecimento!
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