sexta-feira, 26 de agosto de 2022

O Voo do Cagarro - 32: Primeiras impressões no Luxemburgo

 


Cidade do Luxemburgo.
Foto: F Cardigos


Quando me propuseram concorrer para um trabalho no Luxemburgo, não fiquei propriamente radiante. O Luxemburgo tem a reputação de ser um país frio, desinteressante e meio perdido no meio da União Europeia. Errado!

Ao contrário do que muito me disseram, o Luxemburgo é um país muito bonito e tem vida própria! Aquilo que me referiram, quase em tom assustador, que era um país cinzento, em que não havia cultura e vida social, está bem longe da realidade. Agora que conheço um pouco melhor, recomendo a visita ao Luxemburgo!

É um pequeno país muito bem organizado, com uma limpeza muito acima da média e em que as pessoas são, na generalidade, cordiais e empáticas. Nos pucos dias que levo de Luxemburgo, já pude ver algumas paisagens urbanas lindíssimas. Ao nível de Estrasburgo…? Não. Estrasburgo é imbatível, mas está lá perto.

Socialmente, não é Bruxelas, em que tudo acontece e com uma dimensão particularmente humana e humanista, mas também está lá perto. Amiúde passo por exposições, por feiras e por espetáculos formais ou improvisados. Aqui há vida endógena!

O país tem língua própria, mas, pelo que me foi dado notar, poucos não-luxemburgueses a falam. Dizem-me que é uma mistura de alemão com francês. Talvez seja um pouco parecido com o dialeto que se fala em Estrasburgo. Não sei… Convivo com a comunidade internacional, que tende a falar em inglês, e, se alguém por perto estiver a falar luxemburguês, penso que facilmente confundiria com o alemão, idioma que também não domino de todo.

A língua de rua, aquela que usamos nas lojas e para obter uma qualquer informação, é o francês. No entanto, vezes sem conta, rapidamente me apercebi que os meus interlocutores falavam português. Para além da comunidade portuguesa ser enorme, juntam-se brasileiros e cabo-verdianos. Na cantina do local onde trabalho, a língua-mãe dos funcionários é o português. Sinto-me um privilegiado por ter este código secreto para trocar impressões sobre a comida do dia...

O preço da habitação é inacreditavelmente elevado. Alugar casa é caro e comprar nem pensar. Adquirir habitação própria na capital do Luxemburgo não é coisa para seres humanos. Para mim, não é!

Em contraste, aqui, os transportes coletivos terrestres são gratuitos para todos. Ou seja, podemos ir da cidade mais extrema, apanhar o comboio, chegar à capital, apanhar o tram até à paragem de autocarro, seguir no autocarro até ao bairro mais distante e, nesse percurso todo, não gastar um tostão. Para mais, os transportes estão limpos, perto do imaculado, e respeitam-se os horários com pontualidade britânica. Um exemplo a seguir!

Para mim, que tendo a andar mais de bicicleta, as pistas dedicadas são totalmente aceitáveis e permitem circular por toda a capital com segurança. Ao contrário do que tinha imaginado, não precisarei de qualquer carro. Há comboios confortáveis de hora a hora para Bruxelas e por preços que roçam o irrisório.

O Luxemburgo foi mais uma bela surpresa com que me cruzei resultado das minhas opções laborais. Longe de estar arrependido por ter concorrido, está a ser uma descoberta muito agradável.

Falta o mar… Falta mesmo o mar…!


Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da União Europeia.

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