sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Agricultura de vanguarda

BioFontinhas, Agricultura Biológica na Terceira.

Por um daqueles imprevistos do destino, dei por mim a participar numa conferência sobre pecuária “biológica”. Numa interessantíssima organização da Associação de Agricultores da Ilha do Faial, da Câmara do Comércio e Indústria da Horta, da Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário e da Câmara Municipal da Horta, deslocou-se à Ilha do Faial o Dr. Lázaro Simbine. Adianto desde já que, há longos anos, sou adepto dos conceitos inerentes às formas alternativas de utilizar o nosso planeta e, com particular ênfase, às suas componentes energéticas e ambientais. Daí que, logo à partida, as palavras do Dr. Lázaro Simbine, um apologista da agricultura “biológica”, iriam encontrar um ouvido atento.
As suas palavras, técnicas e sapientes, explicaram as vantagens e os desafios da opção “biológica”. Entre outras coisas, ficámos a saber que, muito provavelmente, no Faial já se pratica uma agricultura próxima da dita “biológica”, mas, porque não é certificada, não lucra com essa postura. E os lucros são assinaláveis. Um produto certificado rende, em média, mais 30% do que um produto que resulta da agricultura “convencional”. Explicou-nos, também, que são necessários três anos para que uma produção passe a estar certificada depois de terem sido introduzidas as alterações necessárias. E que alterações são essas? Como não entendo nada de agricultura, registei tudo no meu bloco de apontamentos e agora partilho.
É necessário reduzir a quantidade de azoto colocado nas terras e a forma de o fazer terá de ter por base produtos naturais, recorrendo também à rotação de produções. A fixação de azoto, através do cultivo de tremoço e de fava é uma opção fácil e diversificadora da produção. São duas vantagens.
Há que pensar em ter parcelas (pastagens) mais próximas umas das outras, já que o tempo de trânsito do gado entre parcelas ditas “biológicas” pode reduzir o rendimento e contaminar a própria produção. Por outro lado, as parcelas “biológicas” que se localizem perto de outras “convencionais” podem ser invadidas pelos produtos químicos das segundas e perder a certificação.
Os suplementos alimentares (rações) terão de ser reduzidos e terão de passar a ter origem biológica. Isso será óptimo para ajudar a debelar a invasão de incenso, um dos grandes flagelos dos Açores. Se voltarem a utilizar o incenso na alimentação do gado, essa praga poderá finalmente ficar controlada…
Por último, para que a transferência para o “biológico” possa estar concluída, é necessário reduzir o número de desparasitações e utilizar, preferencialmente, produtos naturais. Como nos foi transmitido, se tivermos cuidado com o ambiente que criamos para os animais, muito provavelmente, eles nem precisarão de ser desparasitados de todo. O problema, normalmente, é ter-se uma grande concentração animal dentro de paisagens mono-específicas, sendo esse um ambiente propício para a propagação de doenças e pragas. Com a opção pelo “biológico”, este tipo de situações deixam de existir.
Segundo o Dr. Lázaro Sambine, normalmente, o grande problema com a opção “biológica” é o nível de encabeçamento. Na pecuária “convencional”, esse valor é superior a 2 cabeças por hectare, o que excede o limite para a certificação. Ora, na ilha do Faial, o encabeçamento é de 1.4! Ou seja, a grande dificuldade já está naturalmente ultrapassada.
Apesar de alguma inibição no momento da discussão, notei com muita satisfação que, ao contrário de outros, os agricultores faialenses não estão resistentes à mudança, vendo-os receptivos e entusiastas com as novas informações. Assim aconteceu nesta conferência e já antes tinha acontecido na palestra sobre produção de flores. É um óptimo sinal para o futuro!
Uma das coisas que mais gosto na opção “biológica” é a necessidade de produzir diversas espécies em simultâneo. Cada uma com a sua função (produção, protecção, conforto, etc.), as diferentes espécies estruturam uma paisagem bonita, resiliente e com elevado nível de biodiversidade. Só vantagens!
As terras do Faial são valiosas e constituem um pilar determinante para a sua sobrevivência e para o seu desenvolvimento sustentável. As perspectivas para o futuro que se anuncia poderão permitir colocar a produção agrícola e pecuária fora da ilha e obter elevados rendimentos. Um tema a seguir com atenção.

1 comentário:

  1. Muitos Parabéns pelo seu artigo. Não é todos os dias que se fala da agricultura, o ambiente nos nossos dias é uma das principais preocupações do mundo e associa-se a tudo menos a agricultura que continua a ser o modo de vida mais numeroso da população dos Açores (para não falar da sua importância a nível mundial). A agricultura atravessa uma fase difícil como muitos outros sectores, mas para continuar a ser um modo de vida sustentável da população açoriana terá que ser esclarecida e comunicada através de todas as entidades possíveis. É necessário haver informação incondicional sobre a forma como se poderá passar de uma agricultura "convencional" a uma agricultura "biológica", esta seria uma forma de evitar a degradação deste sector. Toda a informação que disponibiliza no seu artigo deveria estar disponível através de diferentes tipos de comunicação. A informação disponibilizada pelos serviços agrários locais não é suficiente arrastando uma falta de gestão e monitorização territorial, ambiental do “nosso território”.
    Com os melhores cumprimentos,
    C.N.

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