Vista do Corvo em direcção à costa Oriental das Flores.
Em primeiro plano vidália ou Azorina vidalii.
Em segundo plano, Porto Novo.
Foto: F Cardigos - SIARAM.
Em primeiro plano vidália ou Azorina vidalii.
Em segundo plano, Porto Novo.
Foto: F Cardigos - SIARAM.
No início de Dezembro de 2010, a freguesia da Fajãzinha, na Ilha das Flores, foi fustigada por um violento temporal seguido de um assustador deslizamento de terras. Toda a área da povoação ficou coberta por um enorme lamaçal. Algumas casas ficaram inabitáveis, os espaços comuns deteriorados e as estradas destruídas. Apesar das perdas e do sobressalto, por sorte, este drama não atingiu proporções tão elevadas que colocasse em perigo vidas humanas.
Ainda durante a tempestade e logo que se determinou a magnitude do que estava em causa, diversas instituições fizeram o seu melhor para amenizar aquele que já se julgava ser um Natal perdido. Para além do Governo, das autarquias e das instituições ligadas à protecção civil, alguns grupos de privados puseram mãos à obra.
Na primeira linha, os vizinhos detentores da Aldeia da Cuada, a Sra. Teotónia e o Sr. Carlos Silva, abriram as portas da sua unidade hoteleira para receberem quem necessitasse. E necessitavam… Ainda na ilha das Flores, uma associação informal de donos de moto 4, conhecida como Kanadas & Kaminhos, ofereceu-se para transportar o que fosse necessário para a Fajãzinha. E era necessário. Chamo a atenção para estes dois privados porque não eram obrigados a oferecer os seus préstimos, mas, mesmo assim, avançaram e ajudaram quem necessitava de ajuda.
Na vizinha ilha do Corvo, um jovem chamado Marco Silva, ao perceber que poderia ajudar, colocou mãos à obra. Primeiro sozinho, depois com a Associação de Jovens da Ilha do Corvo, dinamizou uma página do Facebook que rapidamente angariou, entre abnegados leilões ou simples dádivas, vários milhares de euros que foram transferidos para a conta da Junta de Freguesia da Fajãzinha. Este dinheiro foi convertido em bens necessários e, pensou-se, teria ajudado.
Vem isto a propósito de há duas semanas ter decorrido na Ilha do Corvo a sua festa anual de maior importância, a Festa de Nossa Senhora dos Milagres (onde se inclui o Festival dos Moinhos). A convite da organização, juntou-se à festa a Banda Filarmónica da Fajãzinha. Quando já estavam no Corvo, em cima do palco, confessaram que tinham acabado de tocar ao final da tarde na Ilha vizinha, no Lajido, e que teriam de regressar novamente logo ao início da manhã, portanto, uma autêntica visita de médico efectuada por meia centena de pessoas. No entanto, adiantou o maestro, jamais poderiam dizer não a quem tanto os tinha “ajudado num momento de necessidade”. A resposta ali estava! Eles tinham necessitado, os corvinos e seus amigos tinham ajudado e isso estava, precisamente ali, a ser reconhecido em cima de um palco, na mais importante festividade do Corvo e para todos ouvirem.
Quase um ano depois, pude apertar a mão do meu amigo Marco e dizer-lhe nos olhos, “tu fizeste uma coisa bonita e eles não esqueceram”. Ele respondeu com a modéstia que o caracteriza, mas para a história ficará que os corvinos ajudaram quem necessitava e quem necessitava não esqueceu.
Mouzinho da Silveira foi um dos mais importantes estadistas do século XIX de Portugal. Com enorme deferência, sobre os habitantes da mais pequena ilha dos Açores, mencionou no seu testamento que gostaria “de estar cercado, quando morto, de gente que na minha vida se atreveu a ser agradecida”. Apesar da crise de valores em que vivemos e que, por vezes, nos faz perder a esperança de ultrapassar as menores dificuldades, que excepcional exemplo nos chega dos herdeiros do Grupo Ocidental!
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