Declarações ao jornal Diário Insular
- Que particularidades distinguem as nossas algas das restantes?
A alga açoriana teve muita procura no mercado Oriental devido à qualidade e pureza do agar que era possível delas extrair. Tanto a alga Pterocladiella capillacea como o Gelidium microdon ocorrem naturalmente nos Açores e têm boas características para este fim, mas o Gelidium era apanhado em menores quantidades.
Há outras algas que são utilizadas tradicionalmente nos Açores como a Porphyra sp. (chamada vulgarmente de “erva patinha”), o Fucus spiralis, a Laurencia viridis e a Osmundea pinnafitida.
Para os interessados, há um pequeno Guia da autoria da Professora Ana Neto sobre as algas dos Açores e que é uma boa introdução ao tema.
- Que razões levaram ao fim da exploração deste negócio nos Açores?
Houve uma conjunção de fatores. Por um lado, a apanha era muito sazonal e a qualidade de vida que os apanhadores procuravam a partir de certo momento não se coadunava com esta intermitência, o que levou ao abandono por parte desta mão-obra especializada. Por outro lado, os rendimentos da atividade não eram equivalentes com o nível de exigência do trabalho debaixo de água horas a fio. O “mergulho às algas” era considerado um trabalho muito pesado e a recompensa salarial, que no início era enorme, foi ficando proporcionalmente mais pequena quando confrontada com outras oportunidades que foram surgindo mais tarde.
No entanto, houve também uma efetiva redução do manancial de algas tradicional. Ou seja, a própria atividade, conjugada com a pressão costeira, conjugada com a proliferação de espécies invasoras, como é o caso da alga vermelha Asparagopsis armata, conjugada com a exploração intensiva de espécies como as lapas e, eventualmente, até com o incremente das alterações climáticas globais, modificaram aquilo que hoje vemos debaixo de água. As espécies são as mesmas, mas a proporção entre elas modificou-se acentuadamente o que afetou os rendimentos.
- A exploração das algas poderia voltar a ser uma mais valia para a Região?
Tenho a certeza que sim. No entanto, os novos projetos, que podem assumir contornos tão inovadores como inesperados, terão, logo à partida, de conter um estudo de viabilidade económica conjugado com uma verdadeira contextualização ambiental. Não quero com estas palavras afastar eventuais empreendedores, antes pelo contrário, mas é preciso ter consciência que o mundo de hoje já não é compatível com o simples submergir e apanhar as algas das espécies certas. Tenho a certeza que os empreendedores que aliarem à coragem que lhes é natural a competência e a clareza de objetivos encontrarão no Governo um parceiro interessado e dinâmico.
Entre os negócios que começam a aparecer na área das algas e que ninguém imaginaria há uns anos atrás incluem-se o sequestro de Carbono e a produção energética. Penso que também há espaço para a apanha de algas tendo em vista a produção de agar, mas é necessário fazer contas, estudar o ambiente subaquático açoriano e tomar boas decisões.
Pode ser lido aqui:
http://www.diarioinsular.com/version/1.1/r14/?cmd=noticia&id=37677
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