A foca-cinzenta encontrada no Faial em recuperação no
Centro de Recuperação de Animais Marinhos, Quiaios
Foto: Marisa Ferreira - CRAM-Q
Centro de Recuperação de Animais Marinhos, Quiaios
Foto: Marisa Ferreira - CRAM-Q
Há uns dias atrás, apareceu, pela segunda vez num mês, uma
foca-cinzenta nos Açores. No primeiro caso, o animal que apareceu na Graciosa
estava ferido e acabou por morrer antes de ser apanhado. O segundo animal
estava em boas condições, pelo menos sem qualquer traumatismo aparente, foi
apanhado no Faial e transportado para o Centro de Vida Selvagem de Quiaios.
Será neste Centro que a foca recuperará forças para, depois, ser libertada
novamente na natureza.
Há populações desta espécie de focas na costa leste do
Canadá e no norte da Europa Ocidental. Apesar da razão que levou as focas a
aparecerem nos Açores nunca poder vir a ser entendida na totalidade, aparentemente,
depois de ter terminado a fase de amamentação, estes jovens animais ter-se-ão
perdido e, felizmente para o segundo, chegado ao nosso arquipélago. Obviamente,
depois de uma viagem de milhares de quilómetros, estes animais estavam cansados
e famintos.
Agora, no Centro de Quiaios, para além da recuperação,
ter-se-á de fazer um esforço para identificar, provavelmente através de testesde ADN, qual a origem da foca. A tarefa de recuperação apenas estará terminada
quando esta for libertada junto da sua população.
Tendo em conta que desde há quatro séculos que não há populações
de focas nos Açores e que todos os animais que daqui se aproximaram com vida
acabaram por ser encontrados mortos, penso que procedemos da melhor forma. Apesar
das populações serem robustas, e portanto longe de ser uma necessidade para
salvaguardar a espécie, demos uma segunda oportunidade a esta foca-cinzenta.
Mas, não deixo de pensar na hipótese alternativa… Seria encantador ter uma foca
nos Açores. Quem sabe se este não era o primeiro elemento de outros que se
sucederiam…
Houve uma qualquer razão que empurrou estas focas para aqui.
Terá sido uma razão natural, tipo tentativa de expansão da população ou terá
sido um acidente? Será que estão agora criadas condições para, como aconteceu
no passado, existir uma nova colónia de focas nos Açores? Olhemos para a
colónia anterior tentando obter respostas.
Decorria o ano de 1427 quando oficialmente os Açores foramavistados pela primeira vez. Desde essa época e até, pelo menos, meados do
século XVI, houve registo de lobos-marinhos (foca-monge) em Santa Maria. Ainda
hoje, a toponímia da Praia de Lobos relembra os tempos em que estes animais
foram usados até à exaustão para a obtenção de carne, peles e óleo. Tanto os usaram,
que os extinguiram. Ainda hoje resiste uma população no arquipélago da Madeira
que está em plena recuperação, graças à ação recente do seu Parque Natural.
Uma das ideias que ronda o departamento do Ambiente do
Governo Regional dos Açores e alguns cientistas da Universidade insular é a
possibilidade de, um dia, corrigir este erro lesa biodiversidade. Para que isso
aconteça é necessário que a população de focas-monge da Madeira volte a estar
robusta o suficiente para que voltem a tentar colonizar as nossas ilhas. No
entanto, quem sabe, esta aproximação das focas do norte não seja a solução para
este problema...?
Tenho a certeza que a próxima foca, seja cinzenta ou de
outra espécie, que aparecer nos Açores nos irá causar um enorme problema de
decisão. O que fazer? Arriscar que aqui fique, podendo isso significar a sua
morte, ou manda-la novamente de volta para a sua população de origem? Opiniões?
Obrigado por partilhar tanto conhecimento. Vou tomar a liberdade de replicar no ondas3 a questão que coloca no final desta posta.
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