Foto: F Cardigos.
Por razões profissionais, passei alguns dias da semana
passada em Washington, DC. Foi uma visita curta, apenas de 22 a 24 de Abril.
Três dias concentrados no Sustainable
Oceans Summit. Nesta cimeira, assistiu-se essencialmente às indústrias
marinhas a partilharem algumas das suas preocupações e a explorarem oportunidades
neste mundo que, cada vez mais, lhes exige uma utilização responsável do
planeta. Entre os participantes, encontravam-se governos, autarquias, unidades
de investigação científica ligadas aos Estados, para além, claro está, dos
próprios industriais. Aqui estiveram presentes representantes de geografias tão
distantes como contrastadas eram as suas abordagens ao meio marinho, incluindo
China, Austrália, Noruega e, claro está, com particular ênfase, os Estados
Unidos da América. Mas o que me levou ao novo Continente e a participar neste
evento?
Em primeiro lugar, queria verificar quais os últimos
desenvolvimentos tecnológicos e que utilizações permitem estes fazer do meio
marinho. No caso dos Açores, novos instrumentos que permitam o acesso e o uso
do mar do largo e profundo são particularmente importantes. A este nível, nesta
conferência estiveram presentes grandes utilizadores, instituições científicas
ou grupos industriais como a BP, TOTAL, GILLS, World Aquaculture Society, entre
dezenas de outros.
Uma das soluções apresentada, por exemplo, permite, ainda em
microescala e em fase de teste, fazer a caracterização geológica de uma área
sem recurso a emissores acústicos. Imagine-se o que seria se pudéssemos
analisar as características geológicas do mar sem o recurso a barulho? Os
cetáceos, em particular, ficariam particularmente gratos.
No entanto, as principais soluções apresentadas, já com
aplicação prática, baseiam-se na integração coordenada e inteligente de
informação para a tomada de decisão no meio marinho. Estas ferramentas recorrem
a informação dispersa na chamada “nuvem” (“cloud”) e adaptam-na às necessidades
dos diferentes utilizadores. As ferramentas são múltiplas e, cada uma delas,
parece fazer mais qualquer coisa absolutamente imprescindível para o decisor
responsável…
Ao mesmo tempo, nos Açores, na ilha do Faial, decorria uma
reunião científica internacional do ICES (Comissão Internacional para a
Exploração dos Mares) apoiada pelo Governo dos Açores. Nesta reunião fomos
informados dos esforços que se estão a fazer na Nova Zelândia para começar a
explorar o mar profundo, tendo em vista a extração de fosfatos a meio milhar de
metros de profundidade. Já passaram, portanto, a fase de prospeção e estão
prestes a iniciar a recolha de minérios no mar profundo. Atendendo aos
interesses que se têm movimentado em volta dos recursos potencialmente
existentes nos Açores, é um projeto a seguir com atenção. É mais um conjunto de
desenvolvimentos tecnológicos importantes. Mas voltemos à América…
Nesta Cimeira foi possível estabelecer contactos com dezenas
dos principais atores na área do planeamento e utilização do domínio marinho.
Obviamente, a esse nível, foi particularmente importante verificar quais os
possíveis parceiros para o uso do Mar dos Açores. Reuniões temáticas, como a denominada
“Oceano Inteligente”, foram excelentes oportunidades para estabelecer essas
pontes.
Também foi possível partilhar os desenvolvimentos efetuados
nos Açores no domínio da conservação marinha e planeamento espacial (como
o Parque Marinho dos Açores) e do conhecimento científico (como o protagonizado
pela Universidade dos Açores).
Esta cimeira foi, portanto, uma boa oportunidade para
recolher informação, estabelecer bons contactos e mostrar e demonstrar o
trabalho efetuado. Desta forma, reforçou-se a visibilidade dos Açores e
catalisaram-se as relações com potenciais empreendedores.
Fora da conferência, apesar do tempo ter sido muito curto, ainda
deu para verificar que Washington é uma cidade muito interessante. Aqui há mais
de uma dezena de grandes museus e todos gratuitos. Apenas pude beneficiar de uma
entrada relâmpago e saída meteórica em dois museus (história natural e
exploração do ar e do espaço) e fiquei com a certeza que terei de voltar.
Para além disso, as breves conversas que fui mantendo na rua
deram-me a conhecer um povo empenhado, otimista e competente. Pena apenas que
ainda não tenham conseguido resolver o problema dos mendigos que se acumulam
pelas ruas, pelas estações de metro e, em suma, por qualquer espaço onde haja
abrigo.
Como é que é possível haver este enorme contraste entre uma
nação de gente brilhante, em convívio quase resignado com um índice de pessoas
muito pobres que diria ser superior ao de Lisboa ou de qualquer cidade
portuguesa? Como me dizia um dos meus novos amigos americanos: “Ainda não
conseguimos lidar com este problema.” Oxalá consigam. Para mim, nenhum país
será grande se não conseguir proteger os seus próprios cidadãos da miséria e da
exclusão social.
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