domingo, 17 de dezembro de 2017

Crónicas de Bruxelas: 9 - Museus

Bonecos em tamanho real no museu das figuras de banda desenhada.
Foto: F Cardigos

Como já relatei anteriormente, há uma intensa aposta dos Belgas na cultura. Desde a educação de cada jovem até à disponibilização da arte, material ou imaterial, a cada cidadão, um pouco de tudo é proposto para que se possa usufruir de muitos dos pequenos e grandes prazeres que este mundo nos pode proporcionar.
Poder-se-ia pensar, como de resto eu pensava, que o investimento do Estado Belga na arte estaria essencialmente relacionado com a tentativa de incutir um sentido de pátria aos habitantes de um dos recentes países Europeus (relembro que a Bélgica tem pouco mais de 170 anos), mas isso seria uma simplificação exagerada da realidade. Depois de ter visitado muitos museus de Bruxelas e arredores, e apesar de ninguém me ter dito, penso que a tentativa de transmitir este sentimento patriota passa pela partilha das diferentes expressões artísticas deste povo, mas, ao mesmo tempo, por dois outros níveis estratégicos.
Passo a explicar. A Bélgica é um país constituído por quatro comunidades culturalmente diferentes. Há uma comunidade flamenga a Norte, uma comunidade francófona a Sul, uma pequena comunidade germanófila a Leste e uma comunidade que mistura as duas primeiras na cidade de Bruxelas (localizada no centro do país). Para ser totalmente claro, e como um à parte, há que dizer que esta comunidade da cidade capital é ainda mais complexa já que agrega dezenas de milhares de funcionários das instituições europeias, da sede mundial da NATO e de organizações de pressão e representação que são oriundas de todos os cantos do mundo. Não esquecendo ainda uma grande percentagem de população imigrante. Enfim… é complicado... Terminado o à parte, refiro que um dos objectivos do investimento em arte poderá ser estender o conhecimento, a compreensão e a valorização do que se faz em cada uma das comunidades às restantes. Faz sentido.
Passemos a outro dos níveis estratégicos. Os museus Belgas, faça-se a respectiva vénia, concentram e expõem arte de todo o mundo. Este povo aprecia verdadeiramente o multiculturalismo. Tendo isto em consideração, imagino que, por exemplo, ao passearem-se pelo museu dos instrumentos musicais e ao ver e ao ouvir peças dos quatro cantos do nosso planeta, os cidadãos belgas se sintam orgulhosos do espólio que angariaram. A Bélgica teve a vontade e teve a capacidade de agregar exemplos do que de bom se faz no mundo e isso é, na minha opinião, um factor de orgulho e de integração nacional. A seguir à educação escolar, os museus são a ferramenta que, pelas razões apontadas atrás, mais ajudam a enaltecer o orgulho patriótico, naquilo que este conceito tem de bom.
Há muitas dezenas de museus na cidade de Bruxelas. Os temas são mesmo muito variados e incluem, entre muitos outros, a pintura, a banda desenhada, os antigos territórios Belgas, o chocolate, a guerra, os automóveis, a história, a geografia, as instituições europeias, a antropologia, a cerveja, a história natural e mesmo um dos grandes vultos musicais da Bélgica, Jacques Brel. Sinto-me repentinamente invadido por um “ne me quittes pas”… Passando à frente de mais um à parte e continuando, os museus estão bem organizados e, na sua maioria, fazem parte de uma rede a que nos podemos associar obtendo facilidades de visita e informações variadas. Como ponto negativo,, senti já um excessivo zelo pelo respeito do horário de encerramento para lá do que seria razoável. A certo passo, bem cedo, os funcionários começam a “torcer o nariz” relembrando activamente e sonoramente qual a hora de encerramento. É um mal menor. Um dos pontos altos é a possibilidade de fotografar (desde que não se use flash) todos os museus. Neste momento, tenho milhares de fotografias de muitos museus da Bélgica e que apenas quando me reformar poderei organizar devidamente.

Se mais nada houvesse para fazer, os museus de Bruxelas poderiam ocupar um visitante durante longas semanas. No entanto, sinto que um possível propósito da existência de fabuloso e dispendioso espólio é ajudar a manter unido um país ainda jovem. É um objectivo nobre até porque a Bélgica é um país de gente boa e que ajuda a construir um mundo melhor. Espero que assim continue.

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