Aspecto do trânsito na cidade de Bruxelas.
Foto: F Cardigos
Foto: F Cardigos
Os belgas, dizem-me, são muito dedicados à família e às
actividades realizadas em conjunto dentro do seio familiar. Entre as
actividades privilegiadas contam-se a realização de diversos desportos, o
usufruto da natureza, as prolongadas refeições que contam diversos pratos
intermediados por longas conversas, a prática religiosa (católica) e a
bricolage. Interessa-me aqui particularmente a bricolage porque, segundo a
minha teoria, não comprovada, este interesse tem uma ligação directa com grande
parte da realidade belga, incluindo o trânsito.
Bruxelas é uma cidade extraordinária, como tenho vindo a
relatar nestas crónicas. Há inúmeros pontos fortes e, como não poderia deixar
de ser, debilidades. O trânsito é, sem sombra de dúvida, um dos factores que
mais ensombra a vida em Bruxelas e com consequências tremendas. O tráfego é de
tal forma intenso que resulta em níveis de poluição que já valeram à cidade
admoestações por parte da Comissão Europeia. Sim, não é apenas Portugal que
recebe reprimendas da Comissão Europeia, as razões é que são diferentes… Os
níveis de poluição são tão severos que nos andares mais baixos do edifício em
que trabalho é proibido abrir as janelas durante a tarde, para evitar as consequências
nocivas para a saúde dos trabalhadores. Por sorte, eu trabalho “num modesto primeiro
andar a contar vindo do céu”, para citar uma conhecida música portuguesa.
O trânsito nas horas de ponta é infernal e, não compreendo
porquê, não há acções consequentes por parte do município que alterem este
estado de coisas. Os transportes públicos são muito razoáveis e circulam dentro
do horário estabelecido. Quer dizer… os motoristas de autocarro não têm
qualquer noção das distâncias necessárias para acelerar ou travar, o que
resulta em alguns dissabores, mas nada de muito grave.
Voltando à linha de raciocínio.
As permanentes obras contribuem para o caos automobilístico.
Desde prédios totalmente funcionais que são destruídos e reconstruídos no mesmo
local e com a mesma tipologia, a rearranjos de arruamentos, obras e obretas,
sem qualquer nexo aparente, até a obras de manutenção realmente essenciais,
tudo polvilha a cidade de Bruxelas de tapumes, guindastes e obriga a restrições
e reorientações do tráfego. Penso eu, esta tendência dos belgas de transformar
o ambiente construído que os rodeia é a extensão para o nível do Estado do seu gosto
pela bricolage. Da pequena obra na cozinha e a jardinagem de final de semana passamos
à detonação de prédios e tudo lhes parece natural... Não é!
Se os transportes públicos são muito razoáveis e o trânsito
é um pequeno inferno, o que falta para as pessoas abandonarem os seus veículos privados
em casa e passarem para os transportes públicos? O que falta para que os carros
que têm realmente que circular o possam fazer de forma fluída? Penso que apenas
se resolverá este problema com o regrar destas obras que emprestam a cada dia
uma novidade que afunila e atrasa a circulação e exaspera cada condutor. Ao
mesmo tempo, terão de realizar-se acções fortes que limitem o número de
viaturas, especialmente nos dias em que a meteorologia favorece a concentração
de poluentes, tal como acontece em diversas cidades da vizinha França e da distante
China, apenas para dar dois exemplos. Quando isso acontecer, a maioria dos cidadãos
da cidade de Bruxelas irá finalmente conhecer os seus transportes públicos e
ficará alegremente surpreendida.
Entretanto, diz-me um
colega, “tive de mudar de casa!”. O médico disse-lhe que os níveis de poluição
no seu bairro central não são compatíveis com a fragilidade da sua saúde
pulmonar. Por esta e por outras razões, entre as quais o terem espaço para as
suas actividades de bricolage, muitos belgas moram já fora da cidade de
Bruxelas, o que contribui ainda mais para o trânsito infernal quando
diariamente se deslocam para os seus empregos. Conclusão, ou se faz alguma
coisa rapidamente em relação ao trânsito em Bruxelas ou pode correr muito mal…
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