Vestigial referência ao uso de fundos comunitários na "La Piscine" de Roubaix.
Foto: F Cardigos
Roubaix é uma cidade francesa que fica muito perto da
fronteira com a Bélgica. Dada a proximidade, faz parte dos planos habituais de
passeio de final de semana. No meu caso, esta foi a segunda vez.
Ao chegar a Roubaix, deslocamo-nos de imediato à “La
Piscine”. Esta antiga piscina do início do século XX foi, há uns anos atrás,
convertida num museu que alberga obras de arte de grande valor patrimonial. A
piscina teve de ser encerrada no final do século passado por razões de
segurança, por já não responder às exigências do mundo moderno.
A recuperação manteve o aspecto geral, tendo convertido o
antigo tanque com 50 metros de comprimento e 8 pistas na principal sala de
exposições e alguns dos balneários nas salas secundárias. O resultado poderia
ser um desastre, mas, longe disso, resulta em pleno. O sucesso foi tão evidente
que, ao longo dos últimos anos, foram adicionadas novas salas e obras de arte.
Entre outras, “La Piscine” alberga obras de Pablo Picasso
(pinturas sobre cerâmica), diversas esculturas de Camille Claudel e pinturas de
muitos artistas do interior norte de França. Passar aqui algumas horas é
extraordinariamente compensador e, dada a quantidade e diversidade de
informação, esgotante. Um saboroso “esgotante”...
No entanto, o que me leva a escrever este artigo é algo
paralelo em relação ao espaço e ao seu conteúdo. Porque sabia que a recuperação
tinha utilizado fundos comunitários, parti à procura da referência aos mesmos.
Apesar de constar na entrada principal não foi fácil. É que, na realidade,
trata-se de uma placa com cerca de um palmo de largura por menos de meio palmo de
altura na longa fachada. Na primeira vez que visitei “La Piscine” esta placa
estava até “escondida” por trás de um vaso. Agora, nesta minha segunda visita,
apesar de exposta, dada a pequenez, é invisível.
Ao mesmo tempo, em diversos expositores no interior de “La
Piscine” é explicado como os fundos nacionais de França foram utilizados para
as ampliações e aquisições de obras de arte e como a câmara municipal se
empenhou em todo o processo. Para quem não souber mais, esta é uma obra do
Estado Francês e do Município de Roubaix. Relaciono esta postura de esconder a
importância da União Europeia com os resultados obtidos pela extrema-direita no
norte de França, precisamente onde estive…
Este esconder a utilização dos fundos comunitários está
longe de ser uma opção apenas francesa. Na realidade, verifica-se em quase
todos os países, regiões e municípios, se bem que o nível varie. Aquilo que é
transversal é o desastre do resultado. Ao não entenderem a importância e a
implicação do investimento da União nos seus territórios, a abstenção sobe,
atingindo em média os 50%. No caso dos Açores, o facto de André Bradford, o
único candidato das ilhas em posição elegível, estar tacitamente eleito, na minha
opinião, piorou este cenário, elevando a abstenção acima dos 80%.
Estou a escrever estas linhas no intervalo para o almoço de
uma conferência que decorre agora em Bruxelas. Recordo, ainda em choque, as
palavras de um responsável da Comissão Europeia. Dizia ele há minutos atrás que,
por vezes, “a Comissão Europeia recebe dos
Estados Membros pedidos absolutamente inaceitáveis por não respeitarem a legislação
mais básica. Estes pedidos são feitos para que não sejam os próprios países a contrariar
os desejos dos cidadãos ou das regiões. O Estado Membro passa a
responsabilidade para a Comissão, para que seja esta a arcar com o ónus e nós
aceitamos desempenhar esse papel. Somos os maus da fita.”
Portanto, temos os países que escondem a importância da
União Europeia nos investimentos que realizam e outros que culpabilizam a União
por inviabilizar pedidos que são inadmissíveis. E estes são apenas dois casos
com que me cruzei nos últimos dias. Com estas abordagens, como podemos esperar
que os Brexits desse mundo não tenham sucesso?!
É preciso sermos mais honestos, transparentes e precisos,
também ao nível da governação. O preço de não seguir este caminho é aumentar
ainda mais os populismos que grassam por essa Europa. Os populistas são
desonestos, manipuladores e mal-intencionados, mas, pelo menos, as pessoas
sabem claramente com o que contar.
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