sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Crónicas de Bruxelas: 52 - De volta a Bruxelas

Edifício Berlaymont.
Foto: F Cardigos


De regresso a Bruxelas, no segundo dia no Gabinete após as férias, tento compreender o que o se passa pelo mundo. As notícias são contrastadas e deixam-me um sabor agri-doce.
O Governo Português, segundo o jornal online Observador, propõe Elisa Ferreira como Comissária. As primeiras reações são positivas, mais da direita do que da esquerda, mas mesmo estes não a rejeitam. Elisa Ferreira é mulher, corajosa, experiente, competente e tem um saber holístico, o que torna apta para qualquer pasta, particularmente as relacionadas com as áreas económicas, financeiras ou ambientais. O bom legado de Carlos Moedas fica em boas mãos.
Neste momento, enquanto escrevo, literalmente do outro lado da rua, Ursula von der Leyen deve estar a terminar as entrevistas do dia aos candidatos a comissários. Segundo o seu Gabinete, serão entrevistados dez candidatos por cada jornada. Estará Elisa Ferreira neste momento a falar com a nova Presidente da Comissão Europeia? Admito que estou curioso.
Do outro lado da rua passo para Biarritz. Estranhamente, leio que o Presidente dos Estados Unidos da América elogiou publicamente Angela Merkel, chanceler da Alemanha. Gostava de ter mais informações sobre tão revolucionário passo, mas os tamanhos dos comunicados de imprensa da Casa Branca (leia-se “tweets”) não permitem acrescentar grande coisa. Ainda bafejado por este ar fresco, encho-me de esperança em boas notícias. Aqui estão elas! Leio que o G7 vai apoiar o Brasil em mais de 18 milhões de euros para combater os incêndios na Amazónia. Boa!
De Biarritz passo para o outro lado do Atlântico. Notícias no jornal Público referem que, no Palácio do Planalto, a presidência do Brasil se prepara para rejeitar uma oferta dos G7 para combater as chamas na Amazónia. De facto, por muito que me revolte, é coerente. Estranho seria se, ao mesmo tempo que se corta brutalmente no orçamento do Instituto do Ambiente do Brasil, se ameaça sair do Acordo de Paris e se apoia o desmatamento da Amazónia, aceitasse uma ajuda para combater as chamas que se incentivaram…
Desfolho outros órgãos de comunicação social e leio que há outros incêndios no Alasca, na Rússia e que os incêndios da Amazónia têm frentes ainda maiores nos países vizinhos do Brasil, como na Bolívia. O mundo está a arder. A intensificação das alterações climáticas globais, que insistimos em não combater com a mesma energia com que debelámos as consequências do buraco do ozono ou limitámos em muito os diferentes surtos de ébola, está a deixar os nossos filhos em muito má situação. Temos de fazer mais, melhor e mais depressa!
Uma leitura do artigo de João Bosco Mota Amaral, “Música sem fronteiras”, no Correio dos Açores levanta-me o espírito. Coloco a nona de Beethoven dirigida por Herbert von Karajan no spotify e releio as suas mágicas palavras: “O grande final da Nona Sinfonia, com o profundo impacto que causa nos ouvintes, traduzido nos aplausos, comovidos e prolongados, bem pode constituir o alerta necessário para repensarmos os fundamentos dos nossos esforços de construção de um mundo melhor.”. Et voilà! Venha o mundo, estou pronto!

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