Edifício Berlaymont.
Foto: F Cardigos
De regresso a Bruxelas, no
segundo dia no Gabinete após as férias, tento compreender o que o se passa pelo
mundo. As notícias são contrastadas e deixam-me um sabor agri-doce.
O Governo Português, segundo o
jornal online Observador, propõe Elisa Ferreira como Comissária. As primeiras
reações são positivas, mais da direita do que da esquerda, mas mesmo estes não
a rejeitam. Elisa Ferreira é mulher, corajosa, experiente, competente e tem um
saber holístico, o que torna apta para qualquer pasta, particularmente as
relacionadas com as áreas económicas, financeiras ou ambientais. O bom legado
de Carlos Moedas fica em boas mãos.
Neste momento, enquanto escrevo, literalmente
do outro lado da rua, Ursula von der Leyen deve estar a terminar as entrevistas
do dia aos candidatos a comissários. Segundo o seu Gabinete, serão
entrevistados dez candidatos por cada jornada. Estará Elisa Ferreira neste
momento a falar com a nova Presidente da Comissão Europeia? Admito que estou
curioso.
Do outro lado da rua passo para
Biarritz. Estranhamente, leio que o Presidente dos Estados Unidos da América elogiou
publicamente Angela Merkel, chanceler da Alemanha. Gostava de ter mais
informações sobre tão revolucionário passo, mas os tamanhos dos comunicados de
imprensa da Casa Branca (leia-se “tweets”) não permitem acrescentar grande
coisa. Ainda bafejado por este ar fresco, encho-me de esperança em boas
notícias. Aqui estão elas! Leio que o G7 vai apoiar o Brasil em mais de 18
milhões de euros para combater os incêndios na Amazónia. Boa!
De Biarritz passo para o outro
lado do Atlântico. Notícias no jornal Público referem que, no Palácio do
Planalto, a presidência do Brasil se prepara para rejeitar uma oferta dos G7
para combater as chamas na Amazónia. De facto, por muito que me revolte, é
coerente. Estranho seria se, ao mesmo tempo que se corta brutalmente no
orçamento do Instituto do Ambiente do Brasil, se ameaça sair do Acordo de Paris
e se apoia o desmatamento da Amazónia, aceitasse uma ajuda para combater as
chamas que se incentivaram…
Desfolho outros órgãos de
comunicação social e leio que há outros incêndios no Alasca, na Rússia e que os
incêndios da Amazónia têm frentes ainda maiores nos países vizinhos do Brasil,
como na Bolívia. O mundo está a arder. A intensificação das alterações
climáticas globais, que insistimos em não combater com a mesma energia com que
debelámos as consequências do buraco do ozono ou limitámos em muito os
diferentes surtos de ébola, está a deixar os nossos filhos em muito má
situação. Temos de fazer mais, melhor e mais depressa!
Uma leitura do artigo de João
Bosco Mota Amaral, “Música sem fronteiras”, no Correio dos Açores levanta-me o
espírito. Coloco a nona de Beethoven dirigida por Herbert von Karajan no
spotify e releio as suas mágicas palavras: “O grande final da Nona Sinfonia,
com o profundo impacto que causa nos ouvintes, traduzido nos aplausos,
comovidos e prolongados, bem pode constituir o alerta necessário para
repensarmos os fundamentos dos nossos esforços de construção de um mundo
melhor.”. Et voilà! Venha o mundo, estou pronto!
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