Taça da União Europeia
Grafismo e foto: F Cardigos
Se há coisa que eu não entendo é
quando os políticos se esquecem do que é que os seus cidadãos gostam ou tomam
atitudes paternalistas em relação a isso. Se queremos que as pessoas adiram às
prioridades estratégicas de uma unidade geográfica, essa unidade geográfica
deve tentar entender como poderá comunicar com os seus cidadãos. Dado o perigoso
distanciamento dos cidadãos em relação à política e, por inerência, à
democracia, penso que está no momento de agir de forma revolucionária. Temos
que pensar, como se costuma dizer, “fora da caixa”.
Obviamente que uma grande percentagem
dos cidadãos da União Europeia gosta e muito de futebol. Na Europa, mesmo a parte
das pessoas que não gostam de futebol mobilizam-se nos jogos dos campeonatos
que incluem as seleções nacionais, no mínimo, para participar na festa. Eu vi
isso em Portugal, na Bélgica e em todos os países por onde tenho passado.
Lembro-me inclusivamente de estar na ilha de Rodes, Grécia, numa reunião
científica e o café mais próximo da sala de conferências era o “2004”… Amantes
do futebol português, imaginem porquê… Doeu-me.
Portanto, se queremos atrair os
cidadãos para o mundo da União Europeia, a União Europeia tem que se aproximar
do futebol. Longe de o fazer de forma subserviente, a União tem que tomar a
liderança. A minha sugestão é muito simples. Que, em conjunto com a UEFA, se
organize uma nova e curta competição (masculinos e femininos, claro!) que junte
anualmente os vencedores das taças de cada país da União Europeia.
Os dirigentes europeus não podem
continuar a viver numa redoma romântica em que esperam que as pessoas apenas se
dediquem a atividades ditas intelectualmente elevadas. Não é assim. Aliás,
admitindo que o futebol é apenas um espetáculo, que não é, repare-se que a
União Europeia patrocina diversas artes e bem. Por que razão deixar de fora a
arte que os europeus mais gostam? Sim, para mim, o futebol é uma arte, muito
mais do que um desporto ou uma competição. Por que razão distanciar as
instituições europeias do que mais apaixona as pessoas que pretendem servir?
Esta Taça da União Europeia seria
constituída pelos 28 vencedores das taças de cada país. Por exemplo, no caso de
Portugal, este ano seria representado pelo Sporting em masculinos e pelo
Benfica em femininos. Era bonito.
Digo mesmo mais. Sabendo como os
britânicos são os inventores do futebol, têm o campeonato mais espetacular e
competitivo do mundo e adoram o desporto-Rei, eles iriam de imediato inverter o
Brexit para poderem concorrer. Jamais os Farage, Boris e outros teriam qualquer
chance frente à Taça da União Europeia. Era demasiado tentador. Os mesmos
britânicos que votaram pela saída seriam os primeiros a querer permanecer e
apenas para disputar a Taça da União Europeia. Podem dizer-me, e com toda a
razão, que quereriam ficar na União Europeia pelas razões erradas, mas,
acrescento eu, essas mesmas pessoas querem sair por razões também erradas,
embora sejam outras. Erradas por erradas, pois que fiquem na União!
É totalmente verdade que há
coisas muito mais importantes que o futebol. Também não se espera que a União
Europeia gaste todos os seus recursos financeiros e humanos nesta Taça, apenas
uma ínfinitíssima parte; aliás, quase que aposto que os patrocinadores privados
cobririam rapidamente todo o orçamento. Concordo que o emprego, a saúde, a
educação e a justiça são muito mais importantes que o futebol. No entanto,
tenho que salientar, a felicidade dos seres humanos está longe de estar apenas ligada
a questões lógicas, racionais e objetivas. A felicidade inclui tudo isso em
primeira linha, mas inclui também a paixão. A paixão pelo futebol!
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