Vista da ilha do Faial para o Pico com aerogeradores em primeiro plano
Foto: F Cardigos
Há uns dias foi publicada na
revista científica BioScience uma declaração elaborada por dezenas de
especialistas e subscrita por mais de onze mil cientistas. Entre estes
cientistas havia duas centenas de portugueses, incluindo alguns açorianos.
A declaração, partindo da melhor
ciência disponível, afirmava claramente que há pouco tempo para fazer
modificações no nosso comportamento e nas atitudes dos governos. Os planos
traçados até aqui pelos governos são manifestamente insuficientes. Para ser
mais claro, a continuação do modelo atual conduzirá a um “sofrimento nunca
visto”. O que está em causa é o nosso modo vida. O planeta irá sobreviver, a
vida irá continuar, mas nós estamos em risco. Somos nós! A declaração aponta diversas
ações urgentes a que, abaixo, acrescento alguns comentários ou aproximações
práticas.
Primeiro, há que usar a energia
com muito mais eficiência e há que aplicar pesados impostos sobre o carbono. O
objetivo é a imediata redução do uso de combustíveis fósseis. Ao nível
individual podemos optar por, sempre que possível, usar os transportes públicos
ou andar a pé.
Há que estabilizar população
mundial usando abordagens eticamente aceitáveis e comprovadas como, por
exemplo, implementar a obrigatoriedade de, pelo menos, educação secundária para
raparigas e, acrescento eu, para rapazes. Neste momento, a população global
cresce 200 mil pessoas por dia, ou seja, um novo arquipélago dos Açores diariamente.
Obviamente, não é sustentável.
Há que acabar com a destruição do
mundo natural e restaurar as florestas e os mangais para que estes possam absorver
dióxido de carbono. Há, neste momento, diversas iniciativas que estimulam a
plantação de floresta. Está ao alcance de qualquer um fazê-lo, mesmo sem
plantar nada. É apenas necessário procurar na internet o projeto que mais lhe
interesse e investir. Sim, é um “investimento” no nosso futuro e em que o
retorno é vida para nós e para os nossos filhos. Não é um retorno em dinheiro.
Parece-me um bom negócio. Num outro estudo, li que é necessário plantar 1
trilião de árvores para absorver o carbono em excesso na atmosfera. Fazendo a
divisão, dá 210 árvores a cada um. Simples, não é?! Quantas já plantou? E os
seus amigos? Os familiares? Todos somos responsáveis e isso significa que cada
um é responsável!
Qualquer ser humano terá que
comer mais alimentos vegetais e menos carne. Ao mesmo tempo, todos teremos de reduzir
o desperdício de alimentos. Comer menos carne não significa necessariamente
deixar de comer carne. Significa apenas comer menos carne. Aliás, o melhor é
optar por carne certificada dos Açores. Tratam-se de animais que foram bem
tratados durante a vida e, por terem sido criados em modo extensivo, têm uma
pegada ecológica muito inferior.
Por último, a declaração apela
para que nos afastemos das metas económicas relacionadas com o crescimento do Produto
Interno Bruto e que prestemos atenção a metas sociais, como a felicidade, a
solidariedade, a empatia e o que nos fizer realmente felizes. O crescimento
económico infinito é impossível num planeta finito e nós vivemos num planeta
finito.
Esta não é uma declaração
qualquer. Esta é uma declaração que tem o apoio de milhares de pessoas que
baseiam a sua vida na procura da verdade e usando para isso o método
científico. Penso que é um alerta que aponta soluções. Ainda há soluções, mas
não por muito mais tempo. Há que agir. Hajamos!
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