sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Crónicas de Bruxelas: 57 - Crise Climática


Vista da ilha do Faial para o Pico com aerogeradores em primeiro plano

Foto: F Cardigos

Há uns dias foi publicada na revista científica BioScience uma declaração elaborada por dezenas de especialistas e subscrita por mais de onze mil cientistas. Entre estes cientistas havia duas centenas de portugueses, incluindo alguns açorianos.
A declaração, partindo da melhor ciência disponível, afirmava claramente que há pouco tempo para fazer modificações no nosso comportamento e nas atitudes dos governos. Os planos traçados até aqui pelos governos são manifestamente insuficientes. Para ser mais claro, a continuação do modelo atual conduzirá a um “sofrimento nunca visto”. O que está em causa é o nosso modo vida. O planeta irá sobreviver, a vida irá continuar, mas nós estamos em risco. Somos nós! A declaração aponta diversas ações urgentes a que, abaixo, acrescento alguns comentários ou aproximações práticas.
Primeiro, há que usar a energia com muito mais eficiência e há que aplicar pesados impostos sobre o carbono. O objetivo é a imediata redução do uso de combustíveis fósseis. Ao nível individual podemos optar por, sempre que possível, usar os transportes públicos ou andar a pé.
Há que estabilizar população mundial usando abordagens eticamente aceitáveis e comprovadas como, por exemplo, implementar a obrigatoriedade de, pelo menos, educação secundária para raparigas e, acrescento eu, para rapazes. Neste momento, a população global cresce 200 mil pessoas por dia, ou seja, um novo arquipélago dos Açores diariamente. Obviamente, não é sustentável.
Há que acabar com a destruição do mundo natural e restaurar as florestas e os mangais para que estes possam absorver dióxido de carbono. Há, neste momento, diversas iniciativas que estimulam a plantação de floresta. Está ao alcance de qualquer um fazê-lo, mesmo sem plantar nada. É apenas necessário procurar na internet o projeto que mais lhe interesse e investir. Sim, é um “investimento” no nosso futuro e em que o retorno é vida para nós e para os nossos filhos. Não é um retorno em dinheiro. Parece-me um bom negócio. Num outro estudo, li que é necessário plantar 1 trilião de árvores para absorver o carbono em excesso na atmosfera. Fazendo a divisão, dá 210 árvores a cada um. Simples, não é?! Quantas já plantou? E os seus amigos? Os familiares? Todos somos responsáveis e isso significa que cada um é responsável!
Qualquer ser humano terá que comer mais alimentos vegetais e menos carne. Ao mesmo tempo, todos teremos de reduzir o desperdício de alimentos. Comer menos carne não significa necessariamente deixar de comer carne. Significa apenas comer menos carne. Aliás, o melhor é optar por carne certificada dos Açores. Tratam-se de animais que foram bem tratados durante a vida e, por terem sido criados em modo extensivo, têm uma pegada ecológica muito inferior.
Por último, a declaração apela para que nos afastemos das metas económicas relacionadas com o crescimento do Produto Interno Bruto e que prestemos atenção a metas sociais, como a felicidade, a solidariedade, a empatia e o que nos fizer realmente felizes. O crescimento económico infinito é impossível num planeta finito e nós vivemos num planeta finito.
Esta não é uma declaração qualquer. Esta é uma declaração que tem o apoio de milhares de pessoas que baseiam a sua vida na procura da verdade e usando para isso o método científico. Penso que é um alerta que aponta soluções. Ainda há soluções, mas não por muito mais tempo. Há que agir. Hajamos!

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