Telemóvel
Foto: F Cardigos
Há uns dias atrás, por razões
familiares, vi-me no meio de uma manifestação em Bruxelas contra o novo
protocolo de comunicação para as redes de dados GSM, o 5G. Na realidade, aviso avançado,
nada tenho contra o 5G. Não sei o suficiente sobre o assunto para estar contra
ou a favor. No entanto, lá estava eu no meio dos protestos.
Em Bruxelas há pouco mais de um
milhão de seres humanos e, dado que na manifestação estavam 200, incluindo
alguns inertes como eu, não se pode dizer que seja um assunto mobilizador. Dito
isto, não é pelo facto de haver mais ou menos apoiantes que um assunto se torna
mais ou menos importante. Recuando no tempo para dar um exemplo, poucas pessoas
se manifestaram contra os gases que destruíam o ozono da alta atmosfera utilizados
em frigoríficos e em aparelhos de ar-condicionado nos anos 80. Penso que não
houve qualquer movimentação de massas significativa e, no entanto, depois de se
detetar que eram perigosos para a nossa existência no planeta, a utilização
destes gases foi proibida e o buraco do ozono começou a fechar.
De igual modo, não é por haver mais
ou menos pessoas a manifestarem-se que o 5G terá, ou não, implicações na saúde
das pessoas. Chegará o momento em que, resultado dos testes que estão a ser
feitos um pouco por toda a União Europeia, se saberá, para além de qualquer
suspeita, se esta forma de transferência de dados sem fios é absolutamente segura.
Aliás, possivelmente, esta informação até já existe, eu simplesmente
desconheço.
Felizmente, hoje vivemos numa época
em que temos as ferramentas científicas necessárias para garantir, com uma elevada
probabilidade, que apenas usamos tecnologias que não nos são nefastas. Isso não
significa que tomemos sempre as melhores opções e, de facto, ainda há riscos
que a ciência de hoje não capta ou em que os resultados dos testes científicos
não são totalmente claros. No entanto, em média, temos feito um bom trabalho já
que a esperança de vida nunca foi tão alta, a mortalidade infantil nunca foi
tão baixa e morre-se hoje mais de obesidade do que de fome. São resultados
diretos ou indiretos dos avanços científicos e tecnológicos. Está tudo bem? Nem
pensar, mas estamos melhor do que antes e a fazer progressos.
No passado, houve diversas situações
em que não tínhamos o conhecimento necessário e destruímos civilizações
inteiras por ignorância científica, egoísmo ou tolice. Os últimos dois fatores
ainda andam por aí (basta passar os olhos pelo Facebook…), mas, em termos
científicos, estamos bem. Hoje em dia, quando optamos pela energia nuclear
sabemos qual o risco que acarreta e, em certas geografias esse risco é
admissível, e, noutras, é inaceitável. No entanto, sabemos exatamente qual o
risco e quais as suas consequências. A ciência fez o seu trabalho.
Voltando ao 5G. Não é admissível que
esta tecnologia se imponha caso traga malefícios de saúde. Posto isto, apelo a
todos os interessados que se informem e que contribuam para a consulta pública
que está a decorrer por iniciativa da Anacom, em www.anacom-consumidor.pt, até dia 25
de março de 2020. É importante participar, mesmo que seja para concordar com o
procedimento e com a tecnologia, mas mais importante ainda caso tenha dúvidas
ou críticas. Depois de terminado este prazo, os dados ficam lançados e será
muito difícil estimular, condicionar ou impedir a evolução do procedimento de
atribuição de licenças de exploração. Ser cidadão inclui a participação nos
procedimentos de consulta pública e este é um dos que me parece importante.
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