Desde há cinquenta anos, um programa
de rádio divulga o Jazz do mundo em Portugal. Quando trabalhava no nosso país,
ouvia esta emissão sem grande atenção, mas com prazer. Chama-se “Cinco minutos
de Jazz” e, nela, o autor, José Duarte, faz-nos viajar por um qualquer tema,
compositor ou instrumentista através de estilos que vão do “New Orleans, ao swing, do bebop ao hard bop e ao free
jazz”, como indicado no sítio internet da RDP.
Invariavelmente, trauteava os acordes
e a melodia passava a acompanhar-me pelo resto do dia, como uma quase
impercetível aula de tolerância e abertura à diversidade musical. Fui
aprendendo a conhecer e a apreciar este género com os “Cinco minutos de Jazz”. "1, 2, 3, 4, 5 minutos de jazz"!
Dado este historial, quando em
Bruxelas ouvi a diretora de uma escola secundária referir as palavras “quinze minutos de leitura”, rendi-me de
imediato. Apenas podia ser uma fórmula ganhadora! Mas seria mesmo…?
Naquela escola secundária, dois dias
por semana, as aulas param ao som de um sino e, durante quinze minutos, todo o
pessoal escolar lê. Desde o mais pequeno dos alunos, passando pelos
professores, até ao mais idoso dos auxiliares de ação educativa, todos se
sentam, abrem o livro que escolheram antecipadamente e atacam as letras,
palavras, linhas, parágrafos, páginas e capítulos. Durante 15 minutos
dedicam-se à aventura, ao drama ou à comédia que estiver escondida por entre aquelas
folhas de papel.
A própria diretora desce do seu gabinete,
também com o seu livro debaixo do braço, e junta-se a uma turma ou a um dos
múltiplos grupos de leitura que já nascem de forma razoavelmente desorganizada.
Durante quinze minutos impera o silêncio, apenas obscurecido pelo murmurar
quase surdo do juntar de sílabas que fazem os mais jovens ou pelo virar de mais
uma página.
“Tem
sucesso?”, perguntei com o olhar desconfiado de quem não acredita
nas novas gerações, vítimas oferecidas ao tuíter, ao tique-tóque e ao faissebuque.
“Agarram-se aos livros e não querem parar!”,
afirmou com um não disfarçado entusiasmo. “Aliás,
a ideia foi deles. Publiquei no nosso boletim de segunda-feira a experiência
que nasceu na Turquia e que se multiplicou por outros países, incluindo na
Bélgica, e foi a comunidade escolar a sugerir que fizéssemos o mesmo. A iniciativa
foi da comunidade escolar e tem estado a correr bem.”. Complementou
dizendo que algumas turmas já estão a constituir as suas próprias bibliotecas e
onde incluem outros objetos alusivos às tramas que leram.
Tento imaginar que livro escolheria,
caso fosse estudante neste liceu. Que me lembre, o primeiro livro que li foi
“As Aventuras de Tom Sawyer”, de Mark Twain. Não teria gostado de o ler em
frente a outras pessoas, até porque chorei com algumas passagens… Talvez
escolhesse “A Crónica dos Bons Malandros” do Mário Zambujal, como sinal de
rebeldia, ou o “Amor nos Tempos da Cólera”, porque sempre gostei de literatura
sul-americana e este livro do Gabriel García Márquez foi publicado precisamente
quando eu andava no liceu. Pergunto-me que livros escolherão e quais as razões
da escolha… Tenho que perguntar na próxima vez que vir a diretora da escola.
Em Bruxelas, no meu bairro, há uma outra
escola que levou esta ideia ainda mais longe. Adaptou o horário escolar e os 15
minutos de leitura passaram a fazer parte do quotidiano oficial da comunidade todos
os dias da semana. Com estes interessantes passos, alguns jovens belgas estão progressivamente
a voltar aos livros e à leitura. Parece-me uma iniciativa a equacionar pelas
escolas nos Açores, se é que ainda não o estão a fazer…
Fica a ideia!
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