Em Portugal, o voto e a contagem dos votos continuam a ser
manuais. O voto eletrónico ainda não está implementado no nosso país. Este
instrumento, que facilitaria o voto antecipado ou remoto, tem dezenas de anos
de atraso. Uma ineficácia que contribui para a abstenção.
Apesar disso, desde o 25 de Abril, as noites de eleições
tendem a ser, progressivamente, mais curtas. A sistematização dos procedimentos
e a comunicação fluída e segura ajudam a determinar e difundir os resultados
rapidamente. Hoje, com uma ligação internet, qualquer pessoa consegue tirar as
suas próprias conclusões sobre a noite eleitoral na própria noite eleitoral.
Nestas eleições autárquicas de 2021, curiosamente, a
proximidade eleitoral de alguns dos candidatos fez com que a noite eleitoral se
prolongasse. Eram quase duas da manhã quando os últimos votos foram contados,
os resultados fechados em Lisboa e, desta foram, ficaram desfeitos os últimos
mistérios.
Admito que me dá um certo prazer ouvir as primeiras
sondagens e, ao longo da noite, ir vendo os resultados a aparecer, uns a
confirmarem-se e outros a afastarem-se do prognóstico. No meu caso pessoal, não
me emociono com os comentários dos especialistas que são convidados pelos
órgãos de comunicação social, mas oiço atentamente as reações dos candidatos.
Os que ganham e os que perdem, têm ambos muitas vezes pontos importantes a
referir.
Passado todo este ritual, que coincide com o momento em que
redijo estas linhas, todos podemos agora descansar, certos de que a dinâmica
democrática continuou a funcionar. Amanhã, os vencedores começarão as formar as
alianças e as equipas que lhes permitirão governar as autarquias e cumprir os
programas eleitorais que sufragaram.
Saliento que, para a democracia funcionar, tem de haver,
pelo menos, tantas pessoas que perdem como as que ganham. Tipicamente, o número
de não eleitos é muito, mas muito maior do que o dos eleitos. Ou seja, perder é
absolutamente natural e não há qualquer drama nisso. Mesmo entre os eleitos, há
muitos que não terão funções atribuídas, dado integrarem listas vencidas. Um
dos aspectos que poderá ser alvo de uma melhoria da democracia seria a
identificação de como se poderiam aproveitar ainda melhor a energia e a
disponibilidade dos não eleitos e dos eleitos por partidos não vencedores.
Numa recente ação de limpeza costeira, tomei conhecimento da
atribuição de responsabilidades na manutenção de uma área a uma organização não
governamental. Ou seja, em vez de ser o Estado ou a autarquia a preocuparem-se
com o bom estado ambiental de cerca de meio quilómetro quadrado da orla
costeira, essa responsabilidade estava protocolarmente atribuída a terceiros.
Consigo imaginar uma declinação de muitas pequenas responsabilidades
autárquicas por entre os vencidos. Por exemplo, um dos não eleitos ficaria
responsável por acompanhar a ação do Clube Naval e reportar na assembleia
municipal regularmente. Fará sentido? Se fizer, os eleitos fariam uma lista das
tarefas potenciais e os não eleitos ou eleitos por listas não vencedoras
assumiam voluntariamente e responsavelmente as que lhes parecessem mais
interessantes ou prementes.
Ou seja, parabéns aos vencedores, os cidadãos, como eu,
contam com o vosso bom trabalho, mas lembrem-se que todos são importantes para
a construção de um mundo melhor. E o mundo está a precisar…
Por último, quero deixar uma palavra de agradecimento a
todos os que trabalham voluntariamente nas secções de voto. São elementos
essenciais e, muitos deles, nada mais pretendem do que ajudar a democracia a
funcionar, prescindindo, para isso, de um dia de descanso. A eles, o meu
obrigado!
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