Ainda antes da pandemia de
covid-19 já havia algumas pessoas anti-vacinas. Umas por razões religiosas,
outras por não acreditarem na ciência e outras por considerarem que o risco não
compensa. A este grupo de pessoas chama-se, habitualmente, “os negacionistas”.
Acontece que, com muitas vacinas,
não se pretende apenas limitar a probabilidade de apanhar uma determinada
doença, mas também evitar que ela se propague. A vacina para o tétano evita contrair
uma doença, mas a vacina contra a varíola, enquanto existiu, pretendeu e
conseguiu evitar a propagação da doença até à sua erradicação. A varíola, uma
terrível doença, deixou de existir porque houve uma ação global de vacinação
bem-sucedida. Tal como aconteceu com a varíola, também a peste bovina, neste
caso uma doença animal, desapareceu vítima das vacinas.
Ou seja, ao tomar uma vacina,
para além de me estar a proteger, eu estou a proteger a minha comunidade. É por
estas razões que, por muito que custe a alguns religiosos, negacionistas ou
egoístas, a verdade é que há um programa nacional de vacinação que inclui
diversas vacinas obrigatórias.
As pessoas que tentam recusar as
vacinas por causa do risco têm razão num ponto: ao tomar uma vacina, eu estou a
arriscar de forma infinitesimal a minha saúde. Mas esquecem-se que, ao mesmo
tempo, ao tomar uma vacina, eu estou a proteger toda a comunidade. Ao recusar
algumas vacinas coloca-se em risco a saúde individual de forma igualmente
infinitesimal (beneficiando da proteção que me é dada por haver uma maioria da
população vacinada) e coloco todos os outros em risco.
Graças a existir uma enorme
maioria de seres humanos sensatos, há doenças muitíssimo perigosas que
praticamente desapareceram. Assim, não espanta que, entre as nossas obrigações
sociais, as vacinas tenham uma relevância particular. Socialmente, há algumas coisas
que são obrigatórias e estão prescritas na lei e de uma forma razoavelmente
universal: dar acesso à educação aos jovens, pagar impostos e cumprir o respetivo
programa nacional de vacinação.
O vírus presente na mais recente
pandemia pode ser letal, propaga-se rapidamente e muta com facilidade. Ou seja,
apenas se vacinarmos rapidamente uma elevada proporção da comunidade global
poderemos deter o vírus.
Portugal é um bom aluno e estamos
a usufruir disso, mas pouco poderemos resistir se o resto do mundo não fizer o
seu trabalho. O vírus irá mutar e voltará a entrar no nosso país com outro
código genético, capaz de escapar à eficiência das vacinas atuais. Isto
significa que é crucial que o resto do mundo faça a sua parte, vacinando a
esmagadora maioria da população.
Admito que estou muito cansado de
usar máscara, limitar a minha mobilidade e manter o distanciamento social por
causa da pandemia. Angustia-me ver os negócios, como restaurantes, cafés,
hotéis e transportes a falir. Aflige-me ver os artistas a desesperarem e a
nossa cultura a ficar mais pobre e fechada. Sofro com o cansaço do nosso
pessoal de saúde. Ficava muito mais feliz se isto acabasse. Aposto que, como
eu, quase todos nós pensamos o mesmo.
Levar uma pica não é assim tão
complicado e protege-nos a todos. Há que explicar isso aos negacionistas por
essa Europa fora.
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