Uma das belezas da democracia é o dia das eleições. Aquele
dia em que tudo acontece meio ao retardador para permitir que os interessados
no nosso futuro coletivo expressem a sua preferência política e partidária.
Após semanas de debates, discussões, ações de rua, conferências
de imprensa, webinars e outras formas de esclarecimento e
sensibilização, a escolha de quase todos nós, dos cerca de 50% que iremos
votar, está feita. Para os poucos que não estiverem ainda decididos, vou
partilhar o método que uso hoje em dia.
O essencial é descobrir as linhas vermelhas dos programas
eleitorais. Por exemplo, mar, ciência, cultura, ambiente, alterações
climáticas, autonomia, União Europeia, euro, NATO, pena de morte e prisão
perpétua são temas que, para mim, têm que estar esclarecidos a meu contento nos
programas eleitorais. Se não estiverem, o partido em causa é por mim excluído. Ainda
nesta fase, a fase das minhas linhas vermelhas, excluo os partidos que
alimentam ódios, xenofobias, intolerâncias perante a diferença ou declarada
falta de bom senso. Os meus representantes têm que dignos e com valores
sólidos. Cada pessoa terá as suas linhas vermelhas e saberá defini-las. Com
este primeiro parágrafo, tipicamente, elimino metade dos partidos.
Numa segunda fase, reflito nas minhas preferências pessoais.
Por exemplo, quero que haja preocupações sociais, mas que isso não implique a
falência do Estado, quero que a educação se foque nos alunos e seu sucesso e
não nos professores e, da mesma forma, quero que os resultados na saúde sejam
medidos pelo número de pessoas saudáveis e não por outras vias mais
corporativas.
Por último, há a questão da confiança. Tenho que confiar que
os candidatos a primeiro-ministro são competentes e que as pessoas que se propõem
pelo meu círculo eleitoral estão comprometidas e empenhadas e têm capacidade para
garantir que as minhas linhas vermelhas são respeitadas. Candidatos débeis, pouco
preparados ou sem hipótese de influenciar as decisões e as políticas nacionais dificilmente
terão o meu voto.
Este é um método simples e que me tem servido bem. Umas
vezes os meus candidatos ganham e, outras, perdem. É a democracia a funcionar.
Há diversas idiossincrasias que enevoam a representatividade
que o resultado eleitoral deve espelhar. Por exemplo, temos um preocupante
nível de abstenção e a dimensão dos círculos eleitorais influência a decisão do
voto. Nos círculos mais pequenos, a probabilidade de eleger um deputado de um
partido outro que os três ou quatro mais votados é praticamente nula. Em trocas
de impressões com amigos que querem votar nesses partidos nos Açores,
referem-me que ficam com o amargo sabor de voto inutilizado.
Ambos problemas teriam solução no futuro. Bastaria
implementar o voto eletrónico e criar um círculo de compensação nacional, à
semelhança do que existe nas eleições legislativas da região autónoma dos
Açores. Com o voto eletrónico, grande parte das justificações que hoje são
usadas para não votar (incluindo a pandemia), deixariam de ter razão de ser.
Cada um, em sua casa, poderia votar calmamente, tal como pagamos os impostos ou
compramos qualquer bem. É simples.
Com o círculo de compensação, os votos não utilizados para
eleger deputados em qualquer círculo seriam depositados no círculo de
compensação. Portanto, neste caso, ao contrário do que outros defendem, eu
considero que o número de representantes no Parlamento deve até aumentar um
pouco.
Apesar destas idiossincrasias, a democracia portuguesa, também
a nível eleitoral, tem funcionado bem. Raramente há qualquer problema.
No final do dia das eleições, teremos o apuramento dos
resultados e ficaremos a conhecer o nome dos nossos novos representantes. Como
tantos outros, estarei colado aos ecrãs para conhecer os resultados, círculo a
círculo, perceber se as minhas preferências para o Parlamento de Portugal foram
as escolhidas pelos meus concidadãos e para descobrir quem será o primeiro-ministro.
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