sexta-feira, 11 de março de 2022

Voo do Cagarro - 20: Claro que tenho de falar da Ucrânia

Foto: F Cardigos

Para os meus amigos ucranianos, para os seus familiares e para o povo da Ucrânia em geral, toda a minha solidariedade. Os meus pensamentos estão convosco.

Claro que tenho de falar da Ucrânia. É imprescindível. E hoje, no dia em que escrevo estas palavras, falar da Ucrânia implica falar da Rússia e da Bielorrússia, essas nações dirigidas por ditadores desprovidos de bom senso, de empatia e de bondade que invadiram um país soberano e iniciaram uma guerra contra amigos e familiares dos seus próprios povos.

Escrevo estas palavras porque é necessário, na minha opinião, repetir ad nauseam que os dirigentes russos estão a proceder com maldade infinita. Estão a matar pessoas, seres humanos inocentes, incluindo crianças. Não está certo. Não está certo!

Tenho observado alguma animosidade para com russos e bielorrussos que vivem em Portugal e em outros países livres. Está errado. Obviamente, estes cidadãos não têm qualquer culpa do desnorte dos seus dirigentes.

Dito isto, os russos e bielorrussos estão numa posição privilegiada para ajudar a acabar com esta guerra. Por exemplo, podem enviar notícias livres para a Rússia. Adicionalmente, podem demonstrar descontentamento. Sei que é necessária uma dose de coragem que tem que ser bem medida, para não se tornarem alvos das ditaduras que desgraçam os respetivos países, mas, até onde for possível, indignem-se publicamente. É importante para os ucranianos e para os povos livres e mais, é determinante para a pressão que tem que se fazer sentir nos vossos países, particularmente na Rússia. Lembro uma frase de uma música do Sting que voltou a estar em voga: “Believe me when I say to you, I hope the Russians love their children too”.

Os dirigentes do Partido Comunista Português, que nos últimos dias se têm recusado a condenar a Rússia, como fizeram recentemente no Parlamento Europeu, têm todo o direito de o fazer. Parece-me caricato tentar colocar no mesmo patamar os países da NATO e a Federação Russa, mas aqui, na Europa livre, podem expressar-se à vontade. Graças à liberdade que, no passado, ajudaram a construir, hoje podem até faltar à verdade. Mas eu posso, também com liberdade, afirmar e escrever que estão a faltar à verdade. Se se sentirem injustiçados pelas minhas palavras, processem-me. Aqui, na União Europeia livre, podem fazê-lo. Já na Rússia e na Bielorrússia…

A humanidade talvez nunca tenha estado tão perto da sua própria autodestruição. As grandes potências bélicas mundiais têm acesso a armamento que pode aniquilar a humanidade e grande parte da vida em pouco tempo.

É estranho pensar no que será o nosso planeta sem esta estranha e fascinante espécie a que todos pertencemos. O vento continuará a soprar, o mar a revoltar-se, os vulcões continuarão ocasionalmente a demonstrar a sua força e, depois de passado o inverno nuclear, o pôr-do-Sol continuará maravilhoso, mas o pintor não o poderá imortalizar porque não haverá pintor. Os animais que sobreviverem e os que, entretanto, especiarem continuarão a nascer, a alimentar-se, a multiplicar-se, correndo pelo meio das florestas ou a nadar no mar imenso. Apenas ninguém lá estará para os estudar porque não haverá cientistas. Os dias e as noites perpetuar-se-ão até ao fim do sistema solar e não haverá um ser humano para se espreguiçar ao acordar ou aconchegar-se ao adormecer.

Durante mais de quatro mil milhões de anos o planeta Terra viveu sem nós. Por causa dos Putins da nossa espécie, 200 mil anos depois do aparecimento dos seres humanos, poderemos estar à beira de partir. Tenho pena. Tenho muita pena… I hope the Russians love their children too…


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