Genial é transformar o habitual em algo extraordinário!
Na foto: Rainha, Thalassoma pavo.
Foto: F Cardigos ImagDOP
Há uns dias atrás, ouvi uma deputada à Assembleia da República eleita pelo círculo dos Açores tecer comentários populistas e
enganadores em relação à atuação do Governo Regional no que diz respeito ao
mar. A deputada, por quem tenho estima pessoal e, também por isso, não
personalizo, não se eximiu a tecer acusações diretas ao Presidente do Governodos Açores. Pareceu-me uma atitude incorrecta no que ao conteúdo da intervenção
diz respeito e deselegante pelo ataque pessoal. Mas, expliquemos.
Nos Açores, as pescas até meados dos anos 90 eram, como hoje
são, uma das mais importantes atividades económicas. Apesar disso, não havia
qualquer fiscalização com génese regional. Foi necessário esperar até ao ano
2000 para que isso se tornasse uma realidade, com a formação da InspeçãoRegional das Pescas.
Mas ilustremos com alguns números o setor das pescas, até
para que sirva de início de conversa. Em 1996 os apoios à modernização da frota
rondavam os 1.5 milhões de euros anuais, hoje temos 4.8. O esforço na
investigação pesqueira era de 100 mil euros por ano, este valor foi
multiplicado por cinco. Passou-se de uma grua portuária dedicada às embarcações
de pesca para 50! Passamos de 79 casas de aprestos para 643… Poderíamos
replicar estes números para a valorização do pescado (duplicou), formação a
pescadores (passou a existir…), outros dispositivos de apoio às pescas, etc.
Mas seria talvez até embaraçante referir o abandono em que a atividade das
pescas se encontrava, tirando as caríssimas Semanas de Pescas e a desmedida despesa
dedicada à frota do atum.
No campo dos transportes, depois do navio “Ponta Delgada”
ter sido abatido, deixámos de ter transporte marítimo de passageiros. Esta
situação manteve-se até que o Governo Regional, o que entrou em funções a meio
dos anos 90, resolveu reativar este serviço. Hoje é uma das estruturas
fundamentais para combater o isolamento e fortalecer a coesão. Dir-me-ão que a
compra dos novos navios não correu bem. É certo, mas essa situação não inibiu
nem comprometeu de forma alguma que o transporte de passageiros se mantivesse.
Também os portos dos Açores são hoje completamente
diferentes do passado. Todos eles foram melhorados, foram construídas novas
marinas e a maioria dos portinhos foram recuperados ou transformados em úteis
áreas balneares que são maioritariamente geridas pelas autarquias (o seu a seu
dono).
As áreas marinhas protegidas dos Açores nos anos 90 tinham
uma dimensão vestigial, quando comparadas com os mais de cem mil quilómetros
quadrados de hoje em dia. Graças a um esforço conjunto da Universidade dosAçores, do Governo Regional e do Governo da República, hoje o mar dos Açores
está francamente protegido e os passos que se seguem são ainda mais promissores.
Curiosamente, ao contrário do que transparece de uma petição
que corre através da internet, é precisamente por o Governo Regional não
pretender que haja delapidação dos fundos marinhos dos Açores que tem sido particularmente
sonante no que ao mar diz respeito. Depois de termos banido as redes deemalhar de profundidade e as de arrasto, pretende-se agora garantir que aatividade mineralógica seja efetivamente controlada pelos açorianos. Nesse
sentido, propôs-se à Assembleia Regional um diploma que servirá precisamente
para colocar o travão nos apetites insensatos e de curta visão [*]. Ao mesmo tempo,
já foi aprovado um regime jurídico que ordena a recolha de amostras científicas,
colocando na Região todas as decisões sobre esta temática.
No campo da ciência, para além de se ter proporcionado a
aquisição do “Arquipélago” e “Águas-Vivas”, uma excelente ação dos últimos
Governos sociais-democratas, pouco foi feito no domínio da investigação
marinha. Foi depois dos anos 90, estimulando a participação da comunidade
científica em projetos LIFE, Interreg e MAST, primeiro, e agora através de
programas próprios da Região, que se deu um impulso nos estudos marinhos. É um claro
contraste com o passado e que culminou com a instalação do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores num edifício histórico da
cidade da Horta, agora completamente renovado.
Hoje há dezenas de bolseiros de investigação, nos diferentes
níveis, que são apoiados pelo Governo. Há também dezenas de projetos
especialmente orientados para dar resposta às mais prementes perguntas da
Região Autónoma dos Açores no que à gestão do seu domínio marítimo diz
respeito.
Quase tudo o que referi atrás teve génese porque o atual Presidente
do Governo Regional decidiu que esse seria o caminho a percorrer. Foi também
por sua iniciativa que o setor do mar foi especialmente fortalecido com a criação
em 2005 de um departamento do Governo explicitamente encarregue dos Assuntos do
Mar.
É claro que poderia ter sido feito mais e melhor,
especialmente se chegarmos “no fim do jogo”, e, também é evidente que difícil
seria nada fazer, até porque estava quase tudo por começar. Mas foi feito
muito, mas mesmo muito, em pleno contraste com o que se fazia até então.
Por fim, penso que as pessoas, na generalidade, estão fartas
de ataques pessoais. As pessoas querem ideias, resultados e esperança na vinda
de dias melhores. Aos políticos cabe-lhes corresponder a estes três níveis. Se
aos dois primeiros equivale essencialmente trabalho e inspiração, para o
terceiro é necessário permanentemente assentar a atuação em valores morais e
humanistas e projetados no bem e na justiça. É urgente que os políticos de
Portugal entendam e pratiquem este conceito.
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