sexta-feira, 2 de março de 2012

Clusters do Mar


Foto: F Cardigos, a bordo de um avião da SATA

Cluster é uma palavra inglesa que se refere a um aglomerado ou um conjunto de qualquer coisa. No âmbito deste artigo, e com utilização alargada nos dias que correm, cluster indica a organização do sector económico em torno de um objetivo comum.
Tipicamente, diversas empresas complementares juntam-se para dar resposta a um conjunto de encomendas-tipo. A versatilidade e a abrangência de capacidades que se criam com os clusters que estejam bem organizados, incluindo a seleção de umas ou de outras empresas de acordo com a solicitação específica, torna-os respostas naturais a sistemas de encomendas complexas. Aos clusters podem também estar associados outro tipo de instituições como políticas, educacionais ou científicas, entre outras. Nos casos mais ambiciosos, houve mesmo a proposta da criação de hyperclusters que fossem especialmente abrangentes.
Dada a complexidade do sistema marinho e o rendilhado de pequenas empresas existente no nosso país, os clusters têm sido apontados como uma das respostas possíveis para o regresso de Portugal ao Mar. Faz sentido e, até por isso, tem havido financiamento específico para este tipo de aproximações.
No caso dos Açores, a introdução aos clusters, nomeadamente do que ao mar diz respeito, tem sido incentivado pelo Governo, pelas Câmaras Municipais, Câmaras do Comércio e Indústria e impulsionados pelas duas instituições que resultaram da aplicação da Estratégia Nacional para o Mar e do estudo "Hypercluster da Economia do Mar" (elaborado pelo Professor Ernâni Lopes): o Fórum Permanente dos Assuntos do Mar e o Fórum Empresarial da Economia do Mar. Apesar de parecer ótimo, tardo em ver resultados. Isso pode ser apenas a minha vontade de fazer e incentivar, mas receio que possamos perder oportunidades apenas por hesitação.
Vem esta conversa à baila por ter reparado que as empresas Dutras e BicoDoce resolveram juntar as respetivas especialidades e, junto à Marina da cidade da Horta, fundaram uma loja de conveniência especializada em produtos para aventureiros (termo faialense para “iatistas”). Uniram-se e estão a tentar explorar um nicho de mercado muito específico, mas claramente existente.
Poucos dias antes destas empresas juntarem forças, a Câmara Municipal da Horta anunciou a criação da Comissão Municipal para os Assuntos do Mar. Com esta estrutura, a Câmara tenta capitalizar e impulsionar o privilégio de estarmos no meio do Atlântico, perto das rotas preferenciais utilizadas pelos iates à vela e num interessante nó para regatas deste tipo de embarcações. Mais uma vez, parece-me bem.
Exatamente ao mesmo tempo, a minha filha explicava-me como o professor de Ciências, Pedro Medeiros, no âmbito dos Encontros Filosóficos, estava a organizar equipas de acompanhamento para os projetos de investigação científica que estão a decorrer no Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores (DOP). Partindo da vantagem da proximidade, visto tanto o Liceu como o DOP estarem na cidade da Horta, os alunos são convidados a participar nas investigações científicas de uma das mais prestigiadas instituições do Atlântico Norte. Uns alunos irão acompanhar a telemetria de cetáceos, outros os estudos que decorrem nas fontes hidrotermais de grande profundidade, outros os trabalhos em ornitologia, enfim, as possibilidades são tantas quantos os próprios alunos, a sua vontade e a capacidade dos investigadores para os receber. Uma ideia de excelência que dignifica a iniciativa dos professores e a disponibilidade dos investigadores envolvidos.
Estas são boas iniciativas e ao nível de um cluster marinho. No entanto, não é suficiente. Um cluster tem que, por si só, dar respostas a problemas complexos. É preciso unir os trabalhos identificados nos últimos parágrafos e associá-los a outras iniciativas. Tal como vejo as coisas, e sem prejuízo de outras abordagens ou futuras ampliações, é essencial que a Horta e a Madalena unam esforços e que criem um eixo que tenha mais soluções e dê mais oportunidades.
Nitidamente, a Horta tem um problema de falta de espaço junto ao porto. Por essa razão, não pode ter um estaleiro seco que permita fazer trabalhos em fibra-de-vidro ou pinturas em condições. A Madalena tem. A Horta tem uma marina com reconhecimento internacional e o Peter, razões de enorme atratividade. Parece-me óbvio, lógico e imperativo que a Comissão Municipal dos Assuntos do Mar da Horta e a Portos dos Açores se juntem à Câmara Municipal da Madalena para verificarem as sinergias potenciais para bem dos seus habitantes e da salubridade financeira dos Açores.
Ao Governo dos Açores cabe o papel de modernizar e ampliar as estruturas de grande dimensão que ligam estas duas povoações ao mar. Como é claro e notório, está a fazê-lo com enorme energia e consequência, mas caberá aos privados e às instituições locais complementar, fazendo o resto do trabalho. É necessário iniciativa, empreendedores e ação!
Na minha opinião, o Eixo Horta-Madalena é uma ideia importante e uma contingência se quisermos apostar no fortalecimento do setor marítimo-turístico dos Açores. Embora isso não inviabilize outras iniciativas similares noutros locais, esta é uma possibilidade óbvia e lógica e o caminho a seguir está à nossa frente, tão claro e tentador como a fabulosa transparência das nossas águas marinhas.

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