Impressora 3D
Foto: F Cardigos
Um dos objectivos do meu trabalho
em Bruxelas é, tanto quanto possível e baseado no melhor conhecimento
disponível, tentar antecipar o futuro. Isso é feito inclui a aferição de
oportunidades que podem surgir para os açorianos, mas também quais as ameaças gerais
ou, simplesmente, tendências.
Desde há uns quatro anos que por
aqui se analisam e discutem quais os efeitos da Inteligência Artificial no
mundo laboral. Historicamente, já houve revoluções equivalentes. Por exemplo,
com a revolução industrial, os trabalhadores abandonaram os campos e
deslocaram-se para a cidade. Nesta nova revolução, com a robotização dos
processos e com a sistematização das metodologias, passará a ser impossível ter
humanos a fazer trabalhos susceptíveis de serem realizados por robots.
Imagine-se o que seria ter
humanos a pintar carros numa linha de montagem. Impossível, porque os robots o
fazem muito melhor, mais rápido e, acima de tudo, sem riscos de saúde. Quem
quererá expor seres humanos a esse perigo?
O número de profissões em risco pela
Inteligência Artificial é quase igual ao número de profissões existentes. No
entanto, para já, quero deter-me numa: os médicos. Talvez não fosse uma
profissão que considerássemos estar em risco, mas, na realidade, está. Desde a
monitorização, avaliação, até à decisão ou execução, os robots, em breve,
estarão a fazer melhor trabalho que os humanos. Repare-se que o grande trabalho
do médico é, com as análises disponíveis e as suas observações, determinar qual
a mais provável maleita de que sofre uma qualquer pessoa. Saliento que atrás
usei a palavra “provável”. Ora, não há nenhum humano que possa determinar
melhor probabilidades que uma máquina. Utilizando enormes quantidades de informação
(análise de big data) e aferindo com
enorme precisão as diferentes hipóteses, as máquinas, dentro em breve,
ultrapassarão os médicos. Quem quererá ser diagnosticado por um humano se a
máquina o fizer melhor?
Curiosamente, uma profissão que
não está em risco tão elevado é a enfermagem. Não se antecipa que qualquer
máquina desenvolva a empatia humana. O contacto humano, o toque, a palavra
amiga e o amor são tudo características longe da capacidade mecânica e frígida dos
robots mesmo no futuro. Será assim? Sim, pelo menos por agora...
Segundo um autor que muito
aprecio, Yuval Harari, os empregos do futuro são os criativos e os que exigem
empatia. Tudo o resto será feito por máquinas. Seria simples para uma máquina devidamente
programada imitar uma pintura existente, imprimir uma escultura 3D a partir de
uma anteriormente digitalizada ou mesmo compor uma sinfonia repetitiva, tudo
isto já se faz, mas é-lhes ainda impossível transmitir emoções originais,
contar a história de forma disruptiva ou repensar uma linha artística. Os
verdadeiros artistas estão a salvo.
As máquinas estão impedidas de
imaginar soluções que fujam à sua programação. Como alguém dizia depois de um
computador ter ganho uma partida a um grande mestre do xadrez, a única coisa
que o computador não podia fazer era levantar-se e ir embora. Até me atrevo a
dizer que as máquinas, na realidade, não são propriamente inteligentes. São
hábeis a integrar enormes quantidades de informação e, com essa base, tomar
boas decisões. No entanto, alguma máquina conseguiu bater inequivocamente o
teste de Turing? Não. Ainda não…
O certo é que mais e mais
profissões serão progressivamente substituídas por máquinas. O processo é
inevitável e vamos ver a alteração na nossa geração. Para os mais desatentos,
veja-se o número de empregados que num supermercado contabilizam os nossos
gastos. Antes, quando eu era jovem, era necessário escrever o valor numa
máquina, número a número. A quantidade de pessoas empregadas nas máquinas
registadoras dos supermercados era enorme. Depois vieram os scanners, em que o empregado apenas
passava o código de barras pelo leitor. Aumentou-se a velocidade de contabilização
e abriu-se a porta para o futuro. Hoje, cada vez mais, o próprio cliente faz
essa identificação reduzindo em muito o número de empregados nesta profissão.
Em breve, e já há testes nesse sentido, nem será necessário passar as compras
pelo scanner. Um emissor colocado em
cada produto irá identificar o produto à saída do supermercado e ao comprador
restará aceitar pagar o preço que a máquina determinou sem sequer “olhar” para as
compras. O futuro é frio, é inevitável e não inclui pessoas a registar os
produtos nos supermercados.
Dado o enorme desemprego que aí
vem, elementos do Parlamento Europeu e do Comité das Regiões Europeu têm
defendido que o uso de robots deveria pagar impostos sociais. O aniquilar do
emprego tradicional tem que ser compensado e essa compensação terá de vir do
lucro proporcionado pelas máquinas. É essa a justificação.
O trabalho está a mudar. É
impossível dizer que profissões continuarão a ter sucesso. Então como escolher?
É difícil responder. No entanto, o trabalhador com sucesso no futuro terá de
ter, muito provavelmente, elevada educação académica, para poder programar as
máquinas, enorme nível cultural, para ser um excelente artista, ou extraordinária
capacidade de adaptação, para se movimentar entre as profissões que as máquinas
ainda não tenham tomado. Aposto nisto? Não, mas não tenho melhor conselho.
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