Nos últimos dias tive a oportunidade de passar por diversos
países do centro da União Europeia. Ao contrário do que esperava, não encontrei
países deprimidos ou fechados sobre si próprios. O que vi foi muita atividade,
particularmente visível no que diz respeito à construção civil. Com diversas
tipologias e dimensões muito contrastadas, registei dezenas de intervenções na
Alemanha, Polónia e República Checa. Na Bélgica também há intervenções, mas
isso não é invulgar, é antes uma forma de ser. Os belgas adoram bricolage e
transferem essa postura até aos mais altos níveis do Estado, mas isso são
contas de outro Rosário e já foi tratado num artigo anterior (ver Crónicas de Bruxelas 8 - “Trânsito”).
No caso dos restantes países para além da Bélgica, de facto,
neste momento, há também intervenções um pouco todo o lado. Não se pense que
esta é uma observação simplista ou superficial. Este registo é resultado de um
enorme e enfático constatar de que tudo está a mexer na Europa central e que,
essencialmente, a pandemia não nos deitou abaixo. Em média, a cada cinquenta
quilómetros de autoestrada havia uma intervenção que condicionou o andamento da
viatura onde me desloquei e, em cada cidade por onde passei, havia, pelo menos,
uma intervenção nos monumentos mais significativos. Dada a dimensão e
quantidade, estou certo de que estas intervenções tinham génese ou, no mínimo,
estímulo do Estado respetivo. Nalguns casos, raros, estas intervenções
perturbaram mesmo o andamento ou a visitação. Na maioria, no entanto, as obras estavam
bem planeadas, sendo o incómodo mínimo ou nulo.
Apesar de não ter qualquer informação estruturada que o
garanta, a sensação que tive é que estas intervenções estão a ser realizadas
por cinco razões: (1) são obras necessárias; (2) aproveitam o período de
confinamento e hesitação no turismo; (3) ajudam a introduzir dinheiro na
economia; (4) preparam o retoma dos restantes setores, para que não hajam percalços
adicionais no futuro reativar da mobilidade e visitação; e (5) contribuem para
a reação anímica das populações em causa. Curiosamente, fiquei consciente desta
quinta razão ao passar pela Eslováquia. Ao contrário dos restantes países
mencionados, na Eslováquia não há um frenesim comparável, não há obras e o
semblante das pessoas é triste e sombrio. O contraste evidente entre os dois
grupos de países justifiquei-o no meu íntimo com a reação e vigor do próprio
Estado às consequências da pandemia. Talvez esteja a ser injusto…
Logo no início da pandemia, os Estados membros da União
Europeia solicitaram à Comissão Europeia autorização para se agilizarem as
chamadas “ajudas de Estado” e para transferir verbas entre as rubricas dos programas
operacionais europeus. Adicionalmente, por iniciativa própria, a Comissão
estabeleceu o que apelidou por “três redes de segurança” para protegerem os
trabalhadores, as empresas e os países. Em conjunto, estas estratégias permitiram
rapidamente movimentar centenas de milhares de milhões de euros que agora se estão
também a traduzir no que pude observar nestes últimos dias por essa Europa. O
dinheiro existe e está a ser enfaticamente utilizado nalguns países da União
Europeia. A União Europeia, de acordo com a minha perceção, transformou-se num
grande e animado estaleiro.
Perante os desafios aparentemente intransponíveis têm de
nascer soluções extraordinárias. Há que implementar ações perenes que, no caso
da crise sanitária e económica consequente à pandemia causada pela doença covid-19,
nos mobilizem e abram caminhos que reativem a sociedade. O verdadeiro sucesso
será atingido se conseguirmos fazer isso evitando os percursos que nos levaram à
crise climática e à riqueza contrastada entre o norte e o sul. O futuro terá de
reconciliar a humanidade com o nosso planeta ou, como há uns anos li num final
de tarde sombrio numa parede na Catalunha, “el
futur no serà”.
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